A defensora Carla Beatriz durante ronda na Glória, quando flagrou idoso sendo recusado para abrigo - Divulgação
A defensora Carla Beatriz durante ronda na Glória, quando flagrou idoso sendo recusado para abrigoDivulgação
Por Waleska Borges
Rio - O acolhimento de pessoas com mais de 60 anos no Rio segue na contramão do bem -estar dos idosos. Segundo a defensora pública Carla Beatriz Maia, do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos, para conseguir vagas para essa parcela da população, nos últimos 15 dias, ela precisou judicializar três liminares. As ações determinavam que os idosos, em situação de rua e com alto grau de vulnerabilidade social, fossem encaminhados a uma unidade acolhedora do município, sob pena de multa diária de R$ 3 mil a R$ 15 mil.
A defensora conta que, há duas semanas, testemunhou o momento em que uma educadora da prefeitura disse a um senhor, de 60 anos, que ele não poderia ser abrigado por falta de vagas: “Estava na Glória, em uma ronda. A educadora disse que pessoas com 60 anos não podem mais entrar nos abrigos e aconselhou que devem fazer esse pedido antes de completar a idade limite”.
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Segundo o assistente social Marcelo Jaccoud da Costa, que escreveu o livro ‘Flores amarelas’, com histórias sobre a população de rua no Rio, os idosos, quando chegam aos abrigos, geralmente ficam neles até a morte. A maioria está com a saúde debilitada e sem vínculo familiar. “Há casos de idosos que são abandonados nos hospitais, levados pelas famílias que não conseguem mais cuidar deles”, contou Jaccoud.
O último levantamento da prefeitura somou 3.715 pessoas nas ruas. Já a defensora Carla Beatriz acredita que apenas no Centro o número de moradores de rua chega a 5 mil pessoas. Em toda cidade, a soma pode chegar a 15 mil. De acordo com assistentes sociais, a metodologia usada pela prefeitura para contagem retratou apenas um dia e não indicou a realidade de quem é atendido pelas unidades da prefeitura e de ONGs. “A realidade é muito mais dura do que os números apresentados pela prefeitura”, lamenta o vereador Reimont, presidente da Comissão Especial para a População em Situação de Rua da Câmara Municipal.
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O vereador vai realizar, no próximo dia 24, uma audiência pública para discutir o tema. Nos últimos dois dias, Reimont fez vistorias no Centro Pop e Hotel, ambos na Central do Brasil, além da Unidade de Reintegração Social, em Realengo. “Em todas as unidades há problemas de estrutura, como vazamentos, pisos deformados e janelas quebradas. Nas unidades da Central do Brasil não havia água nem luz. No Hotel, os quartos estão subutilizados e, no Centro Pop, que seria um espaço de convivência, o que existe é uma sala vazia com um monte de cadeiras amontoadas. Esse é apenas um retrato das outras unidades”, descreve.
A Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos informou que vai averiguar a denúncia da defensoria. Segundo a pasta, apenas seis dos 135 quartos do Hotel da Central estão fechados, e que busca parcerias para transferir o Centro Pop para outro local na mesma região. Sobre as denúncias de falta de luz nas unidades da Central, a secretaria afirma que o problema teria sido provocado pelo estouro de um transformador, e que ainda assim foram garantidas a alimentação e higiene aos usuários.