Usuários da linha 369 fazem fila no Centro e reclamam que os ônibus circulares andam sempre lotados. Os carros expressos sumiram e foram substituídos pelos paradores 
 - Cléber Mendes
Usuários da linha 369 fazem fila no Centro e reclamam que os ônibus circulares andam sempre lotados. Os carros expressos sumiram e foram substituídos pelos paradores Cléber Mendes
Por LUIZ PORTILHO
O déficit no serviço de ônibus na Cidade do Rio é, de acordo com o Ministério Público, ainda mais grave do que o estimado pela prefeitura. A Secretaria Municipal de Transportes (SMTR) diz que a frota caiu de 8.344 para 6.833 veículos, entre janeiro de 2018 e junho de 2019, o que dá 1.511 ônibus a menos circulando na cidade. O MP diz que há somente 5.753 coletivos, 2.591 a menos do que havia em 2018.
"O sistema de ônibus do Rio está à beira de um colapso", afirma o promotor Rodrigo Terra, responsável pela ação civil pública que, em março, pediu ao Tribunal de Justiça para cancelar contratos de concessão de ônibus firmados em 2010, para que se realize outra licitação. "A decisão está demorando a sair. Quem tem de decidir agora é o Judiciário. O MP já fez a parte dele", disse Terra.

A SMTR afirma que sua planilha tem como base o cadastro que o órgão recebe dos próprios consórcios que operam as linhas, já o levantamento do MP vem de um estudo da Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe-UFRJ) e do Cefet-RJ realizado a partir de dados de aparelhos GPS, que são obrigatórios nos ônibus.

Segundo a SMTR, a determinação é que a frota total seja de 7.809 veículos, mas as empresas estão autorizadas a operar com 80% desse montante, o que dá um total de 6.247 veículos circulando, no mínimo.

Um levantamento feito pela SMTR, a pedido de O DIA, na semana passada, mostrou que pelo menos 26 linhas de ônibus que constam como ativas na pasta desapareceram das ruas do Rio. Entre as mais autuadas pela irregularidade está a 349 (Rocha Miranda X Castelo). A frota determinada dessa linha é de 18 carros, com um mínimo de 14. A norma, porém, não é cumprida. "Esse ônibus nunca tem previsão de passar. Vem apenas umas quatro vezes por dia", disse o vendedor Dario Correa, 74 anos.

Linhas que desapareceram de vez foram as 389 (Vila Aliança x Candelária - via Senador Camará - Expresso), que tem frota determinada de seis veículos; e 389 SV (Vila Aliança x Candelária - via Senador Camará - Parador), com frota determinada de cinco carros. "A versão expressa dessa linha compete com a 369 (Bangu x Candelária) e com a 394 (Vila Kennedy x Tiradentes). Sem ela, as outras duas ficam com superlotação. A 369 é circular, ou seja, já chega aqui no ponto final lotada de gente", relatou o auxiliar administrativo Evaldo Santos, 47 anos.

O 366 (Campo Grande x Tiradentes, Expresso) também está em extinção. No site da SMTR, consta que a frota determinada é de 27 carros. Segundo moradores, porém, há apenas um veículo em serviço. Perto dali, na mesma Rua Aracaju, o 398 (Campo Grande x Tiradentes) também deixa os passageiros na mão. A frota determinada da linha, segundo a SMTR, é de 16 carros. Mas os moradores relatam que há apenas dois.

Falta de ônibus afasta usuários e causa prejuízos ao comércio
Com a redução drástica da quantidade de ônibus a comerciante Nubia Moreira, 57 anos, ficou no prejuízo. Ela tinha uma lanchonete em frente ao ponto final do 398. Com a falta de passageiros no local, acabou fechando o estabelecimento. Agora, ela tem apenas um salão de beleza a poucos metros dali, onde divide espaço com outra lanchonete. As vendas caíram bastante. "Os ônibus começaram a sumir no fim de dezembro. Eu levantava às 3h da manhã e abria cedo a lanchonete. Eram três filas de gente esperando o 398. Vendia café e pão para essas pessoas. Agora, não para mais ninguém. Eu venho só às 9h para abrir o salão", diz Nubia.

Paulo Cezar Ribeiro, professor de Engenharia de Transportes do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da Coppe-UFRJ, acredita que as grandes distâncias percorridas por certas linhas façam com que elas sejam inviáveis, de acordo com o que elas arrecadam.

"Algumas áreas são mais suscetíveis à perda de linhas, como a Zona Oeste de Campo Grande e Santa Cruz. Tem linhas que fecharam. Na Zona Sul e na Tijuca, os serviços estão mais adequados. É preciso fazer uma redistribuição do que se arrecada com as tarifas. Nós temos a tarifa única na cidade, que na verdade é uma tarifa média. Então, uma linha que percorre a Avenida Brasil tem mais custo do que uma linha mais curta, como as da Zona Sul e de parte da Zona Norte, na região da Tijuca, por exemplo", disse o professor Paulo Cezar Ribeiro.

BRTs abaixo do serviço de qualidade
O sistema rápido de transporte por ônibus (BRT) também sofre com conflitos entre o Consórcio Operacional BRT e a Comissão de Intervenção criada pelo prefeito Marcelo Crivella, em janeiro, com base nas reclamações de passageiros. Em nota emitida na quarta-feira, a Intervenção afirmou que a média diária de veículos em operação nos três corredores do BRT subiu de 235, em abril, para 242 em maio, e que, na terça-feira, registrou o maior número de veículos em operação desde janeiro: 263.

A justificativa para o aumento, segundo a Intervenção, foi o reforço no trabalho de manutenção e recuperação dos veículos, reconhecendo, porém, que "o número de ônibus ainda está abaixo dos 320 veículos em operação diária, quantidade considerada pela Diretoria de Operações como ideal para garantir um serviço de qualidade.

Já o Consórcio Operacional BRT rebate, afirmando que "o mês de maio de 2019 (que registrou 49 quebras) apresentou mais quebras em comparação aos meses de maio de 2018 (45) e maio de 2017 (39)".