Avenida Brasil é uma das áreas mais críticas de assaltos a ônibus - Daniel Castelo Branco / Agência O Dia
Avenida Brasil é uma das áreas mais críticas de assaltos a ônibusDaniel Castelo Branco / Agência O Dia
Por Bruna Fantti
Rio - A cada meia hora, um ônibus foi assaltado no Estado do Rio, nos primeiros cinco meses deste ano. A estatística do Instituto de Segurança Pública (ISP) revela a rotina de medo dos usuários dos transportes públicos do Rio. De janeiro a maio, foram registrados 7.644 casos, um crescimento de 18,2%, se comparado com o mesmo período de 2018, quando foram anotadas 6.319 ocorrências.
Maio deste ano teve o maior número de roubos a coletivos em 21 anos. Foram 1.652 casos, contra 1.501 do mesmo mês do ano anterior, um aumento de 10,1%. Os registros de ocorrência mostram que um trecho de 3,7 quilômetros da Avenida Brasil - que margeia o Complexo da Maré, em Bonsucesso - teve o maior número de assaltos a ônibus no estado, 558 casos.
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Para tentar frear os roubos a ônibus, o comandante de Policiamento de Área 1, coronel Sérgio Schalioni, afirmou a O DIA que intensificou, nos últimos quinze dias, o policiamento com agentes disfarçados nos coletivos. "Eles são do serviço reservado e ficam atentos para possíveis suspeitos. Em caso de assalto, avisam a uma equipe do policiamento fardado", informou.
Questionado pelo O DIA sobre o risco de uma troca de tiros dentro dos ônibus, Schalioni afirmou que, se forem abordados por assaltantes, os policiais vão reagir. "Eles estão armados, sim. Mas já utilizamos essa técnica muitas vezes e nunca tivemos problemas. Os agentes são treinados para não serem pegos de surpresa. Mas se abordados, vão reagir", explicou Schalioni, responsável pelo direcionamento do patrulhamento em duas das áreas que possuem maior índice de roubos na capital, o Centro e a Avenida Brasil.
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A Polícia Militar também intensificou chamado Policiamento Transportado em Ônibus Urbano (PTOU), quanto agentes fardados fazem a revista nos coletivos, além das blitz.
De acordo com o especialista em Segurança Pública Vinícius Cavalcante, a modalidade de policiamento com agentes disfarçados de passageiros é eficaz. "Para reprimir roubo em ônibus com eficácia é a melhor metodologia, com três ou quatro policiais no veículo. É uma excelente ideia", opinou. A assessoria de Wilson Witzel afirmou que o roubo a ônibus é uma "preocupação e o governador pediu que a corporação atuasse".
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A Fetranspor informou que "colabora com a polícia no combate a esses índices e que orienta os motoristas a registrarem as ocorrências nas delegacias". A federação disponibiliza para as polícias um sistema operacional próprio, onde são colocados os registros de ocorrência, as linhas, os horários, além das imagens dos assaltos.
Estratégia dos passageiros
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Quem anda de ônibus procura se precaver. Assaltado há dois meses, o comerciante Everaldo Costa já evita pegar os chamados 'frescões', que possuem ar-condicionado e janelas com vidros coberto com películas escuras. "Fui assaltado a caminho da Ilha do Governador. Perdi celular e carteira. Três homens com armas levaram tudo de todos", disse. Menos de um mês depois, na Leopoldina, ele sofreu outra tentativa de roubo. "Um homem chegou e pediu meus pertences. Estava desarmado e saí correndo. Sei que não é para reagir, mas foi instinto", relatou.
Já a mestranda em Engenharia Cartográfica, Erica Medina, disse que somente usa a mochila virada para frente. "Acho que isso evita que alguém abra o bolso da mochila e consiga furtar algo em um ônibus lotado. E não levo comigo objetos de valor", contou.
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A mestranda Érica Medina espera o ônibus na Av. Presidente Vargas: mochila virada para frente e bolsos vazios são as suas precauções - Ricardo Cassiano/Agência O Dia
O também estudante João Vitor Prudente revelou que só se sente seguro para descer em um ponto de ônibus ao avistar viaturas da polícia. "Na Avenida Brasil só desço se enxergar a viatura. Caso contrário, desço na estação do BRT, na Ilha".
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LINHAS MAIS ATACADAS
Dados obtidos pelo O DIA, através do sistema operacional das empresas de ônibus, apontam as linhas mais visadas, os locais e horários em que os assaltos ocorrem no Estado do Rio.
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Somente a linha 715L, que faz o trecho Jardim Redentor-Cascadura, sofreu 22 assaltos este ano. O ônibus faz 54 paradas, partindo de Cascadura e terminando a viagem na Avenida Pastor Martin Luther King.
Entre os relatos de assaltos, os motoristas contam que muitas vezes são parados em engarrafamentos já com um dos assaltantes mostrando uma arma, como mostram imagens das câmeras de circuito interno dos ônibus. Além de levar o dinheiro da passagem, os alvos dos assaltantes são os celulares.
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Outras linhas sofreram de 10 a 22 assaltos neste ano. São elas: 729L (Parque São Vicente-Méier); 110I (Duque de Caxias-São João de Meriti, via Jardim Metrópole); 445I (Nova Iguaçu-Xerém, com 10 casos; 736L (Jardim Botânico-Cascadura); 136I (Duque de Caxias-Nova Iguaçu, via Vilar dos Teles); 713L (Cosmorama-Cascadura); BRSI-121Q (Niterói-Magé, via Itambi); BRSI*-425D (Alcântara-Campo Grande, via Vila Militar); BRS5-2303 (Cesarão-Carioca).
MAIS OCORRÊNCIAS
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CENTRO
O Centro do Rio foi uma das áreas com maior número de roubos a ônibus nos cinco primeiros meses de 2019 — 90% dos casos se concentraram da Central do Brasil à Leopoldina. Na área da 5ª DP (Mem de Sá), em maio, os assaltos quadruplicaram em relação ao mesmo período do ano anterior. Foram 182 casos este ano contra 39 em 2018.
AVENIDA BRASIL
Dados das empresas de ônibus mostram que a área da 21ª DP (Bonsucesso) é a recordista em assaltos no Estado do Rio, com 778 registros. Deste total, o trecho da Avenida Brasil que margeia o Complexo da Maré concentrou 558 dos casos, em apenas 3,7 quilômetros. Segundo agentes da própria delegacia, os atrasos nas obras da via facilitam os congestionamentos e a atuação dos assaltantes, justificando os altos índices de roubos na região.
DUQUE CAXIAS
De acordo com o ISP, o município de Duque de Caxias concentra 10,6% dos roubos a coletivos, com 760 casos no ano. Nos cinco primeiros meses do ano houve um aumento de 70% nos assaltos a passageiros, passando de 137 casos para 448. Segundo registros das empresas, a Rodovia Washington Luís, na altura de Jardim Gramacho, tiveram cerca de 40% dos casos. O Centro responde por 20% dos assaltos.
Centro de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, é uma das áreas de alta incidência destes roubos com aumento de 70% este ano - Estefan Radovicz / Agência O Dia