Pequena Aylla tinha 21 dias de vida e morreu após esperar por atendimento em hospital - Arquivo pessoal
Pequena Aylla tinha 21 dias de vida e morreu após esperar por atendimento em hospitalArquivo pessoal
Por ADRIANO ARAÚJO
Rio - Uma bebê de 21 dias morreu após esperar por 11 horas por atendimento médico no Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, em Acari, segundos os pais da pequena Aylla Vitória Cunha de Souza. Eles acusam que faltava médico e até ambulância para transferir a menina para outro hospital.
Geovane Barbosa de Souza, pai de Aylla, conta que eles chegaram às 9h no hospital e ficaram sem atendimento até 19h, quando foram orientados quando foi trocado o plantão por uma enfermeira a irem para o Hospital Municipal Albert Schweitzer, em Realengo, pois eles iriam "morfar" ali, já que eles não tinham como atender. Ele conta que deixou o Ronaldo Gazzola às 20h e foram para casa, pois não tinham dinheiro para irem até a outra unidade.
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"Fomos para casa, conseguimos dinheiro para ir para outro hospital. mas temos outros filhos e deixamos para o dia seguinte, pois estava tendo tiroteio e não conseguimos sair. Ela se alimentou, mamou, a minha mulher colocou ela para arrotar e ela vomitou. Acabou que ela dormiu, quando deu 3h percebemos que ela estava sem vida", disse o ajudante de pedreiro, que mora com a mulher e outros cinco filhos, entre 4 e 12 anos, no Morro do Chapadão. Eles voltaram ao Ronaldo Gazzola às 4h de quinta-feira, onde o pai diz que ficou esperando, novamente, até 9h.
"Não sei nem a causa da morte da minha filha. Só às 9h alguém desceu e me deu a papelada para preencher para retirar o corpo da minha filha. Nem o prontuário não querem me dar. Eles são obrigados a me darem o prontuário. A polícia disse que eles tem a obrigação de me dar", reclamou Geovane.
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Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde disse que os pais chegaram com a recém-nascida por volta das 11h e recebeu os atendimentos médicos enquanto lá esteve, diferente da versão da família. "O médico avaliou a recém-nascida e solicitou transferência para uma emergência pediátrica".
O órgão também afirma que a transferência com disponibilidade de leito foi autorizada pela Central de Regulação, inclusive com ambulância, mas, diz a SMS, "segundo relatos do hospital, familiares já haviam levado Ayla para casa, contrariando as orientações médicas".
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A versão é rebatida pelo pai da criança. "Ficamos esperando o médico o tempo todo. Quero que ele (diretor) mostre que me atenderam pelas câmeras, pelo prontuário, é só ver que vão confirmar que não atenderam. A gente nem chegou a entrar no hospital, ficou na recepção o tempo todo. Dizem que atenderam 11h30. Só avaliaram e mandaram esperar a ambulância para levar para Realengo, mas também não tinha. Quando tinha médico, não tinha ambulância, quando tinha ambulância, não tinha médico", criticou Geovane.
Apesar de afirmar que a criança foi atendida, a Secretaria Municipal de Saúde afirmou que vai apurar os fatos e "se alguém errou, será afastado". "A SMS assume esse compromisso com a família da pequena Ayla", prometeu o órgão, que classificou a morte como "tragédia inadmissível"
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"A SMS assume o compromisso com a população do Rio, após determinação do prefeito Marcelo Crivella, de que as responsabilidades neste caso serão apuradas e que tomará as medidas necessárias para que isso não volte a acontecer. A secretária Beatriz Busch determinou a abertura imediatamente de uma apuração. E, caso alguma falha seja identificada, os profissionais envolvidos serão afastados", diz a secretaria.
Os pais de Aylla registraram o caso na 39ª DP (Pavuna). Segundo a delegacia, diligências estão sendo realizadas para apurar as circunstâncias da morte. Giovani esteve na manhã desta sexta-feira no Instituto Médico Legal (IML) para liberar o corpo da filha. O enterro da menina será na manhã deste sábado no Cemitério de Ricardo de Albuquerque.
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Mãe a base de remédios
De acordo com Giovani, a sua mulher e mãe da criança, Andressa da Rocha Cunha, 25 anos, está à base de remédios, inconsolável e receberá acompanhamento psicológico. Ela está sob os cuidados da tia do marido, enquanto ele tentar resolver as questões da liberação do corpo e enterro.
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"Ela toma remédio controlado, está na casa da minha tia, está muito mal. Ontem à noite, por exemplo, ela estava com a boneca, dando de mamar, pensando que fosse a nossa filha", contou Giovani.
Andressa ainda desmaiou na quinta-feira quando recebeu a confirmação do hospital que a filha tinha morrido, batendo com a cabeça no chão. Ela foi levada para o Albert Schweitzer para fazer radiografia e foi liberada.