As acusações do Intercept foram minimizadas pelos participantes, como fez o técnico em segurança do trabalho Henrique Andrade, de 44 anos: "O fim justifica os meios, meu pai me falava desde que eu era pequeno que não tinha ninguém no Brasil para prender os corruptos, e o Moro foi lá e fez", afirmou Andrade sobre as denúncias de que Moro teria extrapolado o poder ao se comunicar com membros da Lava Jato durante as investigações.
Com público estimado pela Polícia Militar em cerca de 10 mil pessoas, uma onda verde e amarela ocupou durante toda a manhã e começo da tarde pelo menos seis quadras da orla do mais famoso bairro carioca, ancorada por oito carros de som e patrocinados por grupos que apoiam Bolsonaro, como Movimento Brasil Livre (MBL), Endireita Brasil, Vem pra Rua, Brasil Conservador, entre outros.
Muitos manifestantes ao serem abordados pela reportagem do jornal O Estado de S. Paulo se recusavam a dar declarações, afirmando que os jornalistas deturpam tudo o que o governo fala. Os poucos que se dispuseram a falar, demonstravam desconfiança.
O MBL, que não participou do último evento a favor do governo Bolsonaro, também chegou a ser hostilizado aos gritos de "traidor do País", devido a supostas críticas feitas ao governo, mas não se deixou intimidar. Do alto de um dos carros de som, representantes do grupo acusavam a esquerda de tentar dividir a direita, pedindo união e prometendo amor eterno ao ex-capitão. A polícia chegou a ser acionada após um breve tumulto entre manifestantes pró e contra MBL, mas nenhuma ocorrência foi registrada.
Mais forte do que o apoio a Moro, os manifestantes gritavam palavras de ordem contra o Supremo Tribunal Federal (STF), dirigidas principalmente aos ministros Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli, considerados "petistas". Na conta do Congresso, o mais atacado era o deputado Rodrigo Maia, criticado pelos bolsonaristas por não apoiar projetos como o da posse de armas, a redução da maioridade penal, e acusado de querer manter a "mamata" dos parlamentares. "Ninguém aguenta mais essa barganha do Congresso", dizia uma faixa.
"O STF é uma vergonha", "Rodrigo Maia se acha 1º ministro", "Fora PT" e a velha política, e até mesmo críticas ao nióbio, recentemente alvo de uma 'live' do presidente Bolsonaro, faziam a festa das pessoas que foram prestigiar o ministro Moro. De acordo com um dos coordenadores do MBL, Carlos Eduardo Moraes, o evento tem por objetivo chamar também a atenção para a necessidade da aprovação da reforma da Previdência, além de apoio ao decreto das armas e a redução da maioridade penal.
Até mesmo a morte do menino Rhuan, que foi decapitado pela mãe e pela namorada, foi usada como exemplo do comportamento da esquerda, pelo fato das duas serem lésbicas e, portanto, defensoras da ideologia de gênero, que segundo os manifestantes é "coisa da esquerda".
Intervenção militar
Fardados e marchando, um grupo de militares pedia a volta da intervenção militar, enquanto um carro de som tocava uma das músicas símbolos da campanha bolsonarista, do MC Reaça. O MC se matou depois de espancar a namorada por causa de uma gravidez e pediu a esposa para cuidar da possível futura criança.
Do alto de uma bicicleta decorada em verde e amarelo e com duas cadelas da raça Yorkshire, também vestidas com a bandeira do Brasil, Carlos Afonso, 53, não escondia a felicidade de estar de novo na rua. "Participamos de toda a campanha (do Bolsonaro) e não podíamos deixar de vir hoje. Minhas cachorras odeiam a Dilma e o PT, e se não tomarmos cuidado eles voltam de novo", justificou.