Infográfico mostra territórios disputados por criminososInfografia O DIA
Por Bruna Fantti
Rio - A água vazando de uma caixa d´água perfurada por tiros foi o único barulho que policiais da Delegacia de Homicídios escutaram no Bar do Jacaré, em São Gonçalo, horas após uma chacina. Nenhum morador quis falar sobre o crime. O silêncio se justifica no medo. Segundo a polícia, milicianos já são responsáveis por 40% dos homicídios na cidade, que tem mais de um milhão de habitantes, a segunda maior população do estado. 
O dado é da delegada Bárbara Lomba, titular da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHSGI) que investiga a chacina com quatro mortes, no dia 26 de maio, no bar do bairro Porto Velho. Em setembro do ano passado, a unidade foi responsável por desarticular duas milícias que atuam no município.
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A delegada afirma que houve queda do número de mortes,desde então. Mas as ações da semana passada demonstram que provavelmente há uma tentativa de retomada de território. "Não descartamos a possibilidade de traficantes tentarem ocupar novamente o espaço ou dos próprios milicianos estarem se reorganizando", afirmou.
Delegada Bárbara Lomba, titular da DHNSGI, desarticulou milícias que atuavam em São GonçaloGilvan de Souza / Agência O Dia
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Ontem, parentes das vítimas da chacina fizeram uma homenagem no local. "Ver as pessoas unidas neste ato foi importante porque precisamos lutar por paz no nosso bairro, que estava abandonado", disse a filha de Janete Santos,48, uma das vítimas.
Levantamento feito pelo setor de inteligência da delegacia, obtido pelo Dia, mostra como o território é disputado pelos criminosos. No bairro Porto Velho e nas suas imediações, por exemplo, há sete áreas onde o poder paralelo têm predominância. Duas são dominadas por milicianos. Outras cinco sofrem influência de duas facções: Comando Vermelho (CV) e Amigo dos Amigos (ADA).
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O relatório aponta ainda outras 58 áreas de São Gonçalo controladas por criminosos: destas, 32 estão sob influência do CV, cinco seriam da ADA, e três do Terceiro Comando Puro (TCP), além de cinco com ações de milicianos. Outras 18 ainda não foram determinadas. Numa escala de periculosidade, quinze foram consideradas "muito perigosas". É o caso do bairro Porto Velho. A estimativa da especializada é de que haja pelo menos 400 fuzis nas mãos dos criminosos da região.
"Consórcio de criminosos"

As milícias em São Gonçalo, ao contrário do tráfico, não são rivais. Elas dividem os serviços de matadores e cobradores de taxas, de acordo com a delegada Bárbara Lomba: "Na investigação que culminou com a prisão de 24 pessoas, em 2018, identificamos que os assassinos trabalhavam para mais de um chefe. Uma espécie de consórcio de criminosos".
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Um deles foi identificado como Felipe Raoni, o Mineirinho, que foi preso na operação do ano passado. Ele trabalhava para Anderson Cabral Pereira, o Sassa - que tem atuação nos bairros de Porto Velho, Porto Novo, Pontal e adjacências. E também para Luis Claudio Freires da Silva, o Zado.
Os chefes destas milícias estão presos, mas a polícia apura se continuam dando ordens por conferência telefônica, conforme denunciado à Justiça na época da prisão. A DHNSGI também apura o envolvimento deles na chacina de Porto Velho.