Rio de Janeiro 04/07/2019 - Alunos da Lu Costa usam os figurinos da marca Nkenge. Foto: Luciano Belford/Agencia O Dia - Luciano Belford/Agência O Dia
Rio de Janeiro 04/07/2019 - Alunos da Lu Costa usam os figurinos da marca Nkenge. Foto: Luciano Belford/Agencia O DiaLuciano Belford/Agência O Dia
Por Lucas Cardoso

De uma sala de aula sob o Viaduto de Madureira, na Zona Norte, para o mundo. Essa é a história das roupas de moda afro produzidas pela estilista e costureira Lu Costa, conhecida como Tia Lu, e seus alunos da Central Única de Favelas (Cufa). Eles conseguiram colocar as suas criações nos clipes "AmarElo", sucesso de Emicida com participações de Majur e Pabllo Vittar, e "Mexe a Raba", da Lelezinha, ex-integrante do Dream Team do Passinho, com participação de Rafael Mike. Juntas, as produções já foram vistas por mais de 3,2 milhões de pessoas.

"Nossas roupas representam quem nós somos e, é claro, sempre focam no estilo afro, porque o DNA da Cufa é esse. É o protagonismo do negro e do favelado. Por isso, para nós, é uma honra participar de clipes em músicas de grandes artistas tão representativos para o povo", disse a Tia Lu, que também apareceu no clipe.

Segundo a estilista, a proposta de levar as roupas para as produções partiu das equipes dos artistas. "A nossa relação com eles (os artistas) funciona como parceria. Levamos até eles o fruto de um trabalho em equipe em que todos dão pitaco e são responsáveis pelas criações. Mas geralmente sou eu quem pega no pesado, não é? Sempre deixam o braçal para mim", brinca. Na profissão de costureira "desde que nasceu", Tia Lu dá aula para mais de 20 jovens e adolescentes de comunidades da Zona Norte e da Baixada.

Mas foi há um ano e meio que a atividade extra-curricular dos alunos e o trabalho da professora se transformaram em negócio lucrativo. Foi nessa época que criaram a marca Nkenge de moda afro.

"Fazemos roupas para quem não tem medo de ousar, de mostrar ao que veio. É a proposta da nossas criações", comenta Wendel Tavares, 26 anos, ex-aluno do curso e responsável pelas vendas da marca Nkenge no Instagram.

Além Wendel, oito jovens trabalham para produzir as roupas da marca que começou debaixo do Viaduto de Madureira. Hoje, tatuadora e designer, Maíra Baroly, 27, faz parte da equipe que projeta os looks. Ela é uma das jovens que começou a ver na atividade do curso de corte e costura uma profissão. "Foi a minha base num momento em que precisei e hoje é uma oportunidade para mudar o futuro", conta.

A marca com nome angolano representa a superação diária vivida por Tia Lu e seus alunos. Primeiro, para a professora que viu suas economias e trabalhos pegarem fogo em um incêndio no seu antigo ateliê, em São Gonçalo. Depois, para ela e para os jovens da Cufa, que passaram por outro baque ao perder a sala de costura — o espaço foi invadido por infiltração no teto.

Segundo a figurinista, foi da tragédia que nasceu a parceria com o investidor angolano Policarpo Nkenge. "Ele aposta na nossa arte sem pedir nada em troca. Deu até o nome dele que, diga-se de passagem, é a nossa cara. Tudo a ver com a moda afro", comenta Tia Lu. Por mês, a marca vende mais de 100 peças feitas em pequenas remessas e distribui o lucro entre os nove funcionários. A venda é pelo perfil da loja no Instagram, o Nkenge.br, que já tem mais de 1.700 seguidores.

 

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