Por RAFAEL NASCIMENTO
Rio - Nem mesmo os 11ºC registrados pelos termômetros do Rio espantou cerca de mil trabalhadores que estavam em uma longa fila de emprego nas imediações da quadra da escola de samba Arranco, no Engenho de Dentro. A fila começou a se formar ainda na noite de quinta-feira e foi desfeita aos poucos a partir das 9h desta sexta com a abertura dos portões da agremiação para o preenchimento de 815 vagas do feirão realizado no bairro da Zona Norte.
"Vim com um casaco e um gorro para tentar amenizar o frio, porque o frio não vai me impedir de arrumar um emprego", o técnico de segurança do trabalho Lucas Lima de Oliveira, de 26 anos, estava entusiasmado.
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Lucas foi o primeiro da fila, chegando ao endereço às 21h30 de ontem. Foi a segunda vez que o morador de Irajá esteve no mutirão para tentar voltar ao mercado de trabalho. Ele está desempregado há dois anos.
"Fiquei acordado a noite toda, tomei café e tenho a esperança de sair com uma carta de indicação hoje", contou ele, que ficou sozinho até a segunda da fila aparecer, meia hora depois.
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“Hoje (a quantidade de gente na fila) superou as nossas expectativas. Esse, infelizmente, é o retrato que o país vive — muitas pessoas estão desempregadas e em busca de uma ocupação. Se você parar alguns segundos e perguntar de onde essas pessoas vêem você saberá que elas vieram de todo o estado. Por exemplo, aqui temos pessoas — em busca de emprego — que moram no Recreio dos Bandeirantes (Zona Oeste), Irajá (Zona Norte) e diversos municípios da Baixada Fluminense como Nova Iguaçu, Japeri e etc”, lembra Paulo Vasconcelos, coordenador da Comunidade Católica Gerando Vidas, responsável pelo projeto de empregos.

Entre as 815 vagas ofertas existem — cargos para setores comerciais, de serviços, da indústria, beleza e culinária. Além de vagas para menores aprendizes. “As empresas nos passam um feedback e quando as pessoas (que passaram por aqui) conseguem emprego é muito gratificante”, finaliza Vasconcelos.

Segundo Tatiana do Santos, presidente da Escola de Samba Arranco, a agremiação já tinha um projeto social que ofertava emprego há sete anos. Entretanto, em parceria com a Comunidade Católica Gerando Vidas a quantidade de pessoas empregadas dobrou nos últimos dois meses. “Já oferecemos ao menos 3.500 vagas nesses últimos meses. São pais e mães de família que agora têm uma renda”, comenta Tatiana. “É muito bom saber que pessoas que passaram por aqui hoje estão trabalhando”, salienta.
EDREDOM FORA DA CAMA
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Dentre os vários artifícios para amenizar os efeitos de uma madrugada friorenta teve quem levasse um edredom para o local. Foi o que fez a auxiliar de serviços gerais Ana Angélica das Neves, 41, que também foi acompanhada de um travesseiro.
"Foi uma das piores noites da minha vida. Passei muito frio, mas a situação está muito complicada. Tenho quatro filhos para criar e não posso continuar desempregada", afirmou Ana Angélica, contando que foi a primeira vez que esteve em um feirão de empregos. "Tenho fé e esperança que consiga qualquer coisa. Deus vai me ajudar".
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VAI UM CAFEZINHO?
Para aliviar o frio de quem encarou uma madrugada gélida, a vendedora ambulante Cristina Gomes de Lucena, 54, vendia café e outros aperitivos que mantinham as pessoas não só acordadas, mas também as confortava. 
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"Cobro um preço solidário porque todas essas pessoas precisam de emprego. Todos que estão aqui são iguais a mim, precisando pagar as conta", defende a ambulante.
Cristina diz que trabalha na fila de um outro feirão de empregos que acontece no Maracanã há cinco anos. Há dois meses ela também vai ao mutirão do Engenho de Dentro.
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"Com esse dinheiro eu pago a minha autonomia, já que não tenho outro emprego. É assim que vou conseguir me aposentar", planeja. "Torço para que todos que estão aqui consigam algo e que nosso Brasil melhore".