Willian Gonçalves, o Tengo, integrava milícia e traficava drogas - Reginaldo Pimenta
Willian Gonçalves, o Tengo, integrava milícia e traficava drogasReginaldo Pimenta
Por RAFAEL NASCIMENTO e RAI AQUINO
Rio - Uma megaoperação conjunta entre as polícias Civil e Militar, o Ministério Público estadual (MPRJ) e a Secretaria estadual de Administração Penitenciária (Seap), que acontece desde as primeiras horas da manhã desta quinta-feira, procura 24 pessoas envolvidas com uma milícia chamada Caçadores de Ganso. Outras oito indiciadas na mesma ação já estão presas e receberam nova voz de prisão na cadeia. Até o momento, 26 mandados de prisão foram cumpridos.
Dentre os presos está o PM reformado, vereador e ex-secretário de Defesa Civil de Queimados Davi Brasil Caetano (Avante), de 52 anos. Ele foi preso em casa, no bairro São Manoel, e foi encontrado com duas espadas e uma pistola.
Publicidade
Ao sair de casa, após a polícia fazer buscas em sua residência por mais de duas horas, o vereador foi perguntado se queria dizer algo em sua defesa. Aos jornalistas, ele avisou que não falaria nada porque não sabia por qual crime estava sendo acusado e preso.
De acordo com o Delegado Fábio Correa, da DHBF, a operação já estava sendo desenvolvida desde 2016. E, através das investigações, foi possível descobrir alguns integrantes do bando por meio de grupos na internet. "Essa operação é uma ação que já vinha sendo desenvolvida com a DH e DHBF — em 2016 observamos que Queimados entrou no atlas da violência com maior índice de Homicídios e em 2017 fizemos uma operação para frear esses crimes. Identificamos uma página na internet e descobrimos que alguns integrantes desse grupo estavam envolvidos. Naquele momento, Davi já estava sendo investigado. Depois disso, varias ações foram realizadas no intuito de prender e frear a atividade do grupo e elucidar crimes".
Publicidade
Segundo as investigações, Davi Brasil é o líder da quadrilha, que está envolvida em homicídios, extorsões, roubos e outros crimes na Baixada Fluminense e região. O grupo paramilitar atua em condomínios do programa Minha Casa, Minha Vida e também tem atuação com tráfico de drogas em um dos endereços.
Publicidade
"Entendemos que ele (Davi) é a principal liderança pela sua política. Durante as investigações descobrimos que ele era líder. Era violento e desencadeou um grande aumento dos crimes. Junto com o bando, vendia uma ideia de falsa segurança. Eles buscavam apoio popular dizendo que estavam ali para frear a atuação do tráfico", completou o delegado, afirmando que a disputa entre tráfico e milícia se restringe apenas na briga por território, uma vez que ambos utilizam as mesmas práticas criminosas.
Veículo encontrado com os milicianos - Reginaldo Pimenta / Agência O Dia
OUTROS PMS PRESOS
Publicidade
Além do vereador, outros dois PMs foram alvos da operação de hoje: Jonas Teixeira Ruela, conhecido como Papel, e Eduardo Santoro da Silva, que já cumpria pena em um presídio do estado.
Dos quadros da segurança pública do Rio, a Operação Hunter, como foi batizada, também capturou o investigador da Polícia Civil aposentado Sérgio Murilo Gomes da Rocha.
Publicidade
Além das prisões, a ação também cumpre mandados de busca e apreensão na Prefeitura, Câmara de Vereadores de Queimados e nos endereços dos acusados na capital, Belford Roxo, Nova Iguaçu, Japeri e Maricá. 
Publicidade
Dentre os materiais apreendidos estão três carros, uma moto, um fuzil AK 47 e um fuzil falso, nove pistolas, além de quatro espadas, um facão, coletes à prova de bala, algemas, roupas camufladas, 15 de celulares, sete carregadores e dezenas de munições, coldres e balaclavas.
Um Volkswagen Fox preto usado pela milícia foi encontrado sujo de sangue com um facão no porta-malas. A polícia tem certeza que o grupo matou uma de suas vítimas no veículo na última noite.
Willian Eugênio Gonçalves, o Tengo (de short vermelho) quebrou o pé ao tentar fugir dos policiais - Reginaldo Pimenta / Agência O Dia
Publicidade
TATUAGEM DO 'JUSTICEIRO'
Os policiais observaram na costas de Ewerton de Almeida Albuquerque, o Careca, um dos matadores da quadrilha, uma tatuagem com uma caveira, que faz alusão ao filme "O Justiceiro". Careca já ficou preso durante oito anos por porte ilegal de armas. Há três meses, ele cumpria a pena no regime semiaberto.
Publicidade
Um outro alvo da operação quebrou o pé quando tentou fugir dos policiais. William Eugênio Gonçalves, o Tengo, tentou pular o muro de uma casa quando fraturou o pé. Ele chegou mancando na Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF), de onde precisou ser levado a um hospital para atendimento médico.
Publicidade
Carlos Luciano Soares da Silva, o Macaco Louco, conseguiu escapar. O miliciano é responsável por diversas mortes da quadrilha, principalmente de traficantes e usuários de drogas. Um dos carros apreendidos, uma Hyundai Tucson, é dele.
Macaco Louco já foi preso em julho de 2015 por causa de uma morte em janeiro daquele ano em Queimados e por fazer parte do grupo paramilitar.
Tatuagem de Ewerton de Almeida Albuquerque, o Careca - Reprodução
Publicidade
PÁGINA NA INTERNET
De acordo com o MPRJ, os Caçadores de Ganso atuam em três condomínios de Queimados (Valdariosa, Ulysses Guimarães e Eldorado), amedrontando a população local. Eles também agem distribuindo clandestinamente sinal de TV a cabo.
Publicidade
No Condomínio Eldorado, dois dos procurados, Alex Rodolfo da Silva, o Lequinho, e o Tengo, também praticavam o tráfico de drogas. Por isso, além de responderem pelos crimes ligados à milícia, eles também foram indiciados por tráfico de drogas.
Os integrantes do grupo se dividem entre as atividades de cobrança ilegal de taxas de serviços e por suposta segurança, observação de inimigos, dente outras.
Publicidade
O grupo mantinha páginas na Internet, onde anunciava quem seria suas vítimas. Em 2017, durante a Operação Queimados Livre, a polícia identificou os criadores administradores dos perfis, apreendendo armas e material ligados ao grupo.
Os policiais estiveram no Condomínio Roberto Costa, uma das áreas de atuação da milícia - WhatsApp O DIA (21) 98762-8248
OPERAÇÃO EM 2017
Publicidade
Em julho de 2017, o vereador Davi Brasil já havia sido alvo de outra operação, que investigou a mesma milícia. Na época, ele teve apenas mandados de busca e apreensão cumpridos contra ele. Na casa dele foi encontrado um pássaro silvestre, conhecido como "trinca-ferro", fazendo com que ele fosse autuado por crime ambiental.
As buscas contra Davi naquele ano também resultaram na apreensão de duas pistolas registradas (380 e .40), espadas (as mesmas encontradas hoje, que foram devolvidas na época), facões e talonários de um centro social que era administrado pelo vereador. Na ocasião, ele negou o envolvimento com a milícia da região.
Publicidade
DEFESAS
Procurado, a subsecretário de Defesa Civil de Queimados, Vagner Duart, disse a pasta lamenta "muito pelo ocorrido", pois "conhece a índole do vereador Davi Brasil".
Publicidade
Sabemos que ele não se rebaixaria a esse nível. Enquanto esteve aqui como secretário, aprendemos muito com ele. Tenho certeza de que tudo será esclarecido o mais breve possível", o subsecretário acrescentou, em nota.
O DIA tentou contato com o próprio vereador Davi Brasil e os demais citados na reportagem, mas ainda não conseguiu. O partido do político, o Avante, também foi procurado, mas não retornou.
Publicidade
Perguntada sobre a prisão do político, que é um PM reformado, além dos mandados de prisão contra outros dois agentes, a Polícia Militar se limitou a dizer que o Serviço de Inteligência da secretaria participa da ação.
Já a Polícia Civil ainda não se pronunciou sobre a prisão do investigador aposentado.