Os amigos Anderson Chagas e Fernanda Almeida - Luciano Belford / Agência O Dia
Os amigos Anderson Chagas e Fernanda AlmeidaLuciano Belford / Agência O Dia
Por Lucas Cardoso

Rio - As mesas lotadas e o vaivém acelerado dos garçons, equilibrando bandejas cheias de copos, garrafas e petiscos, não fazem mais parte da realidade da maioria dos bares e restaurantes da Lapa, no Centro do Rio. Na Avenida Mem de Sá, principal artéria da boemia da região, o garçom André Souza, de 32 anos, circula entre as mesas vazias do Bar Brazooca. Ele trabalha na profissão há sete anos e diz ter visto sua equipe ser reduzida, desde 2017, devido à queda do movimento de clientes.
Segundo dados do Sindicato de Bares e Restaurantes do Rio (SindRio), houve redução de 600 postos de trabalho no Centro, incluindo a região da Lapa, no último ano. Além disso, pontos de encontro tradicionais, como o Odisseia e o Lapa 40°, fecharam as portas.
Clientes, funcionários e empresários do setor acreditam que a redução da procura pelo tradicional bairro boêmio se deve a fatores como aumento da insegurança, crise econômica e ausência do poder público. “O governo não nos vê. Temos ruas mal iluminadas; falta de fiscalização do comércio ilegal, que muitas vezes fica na nossa porta, interrompendo a circulação de pedestres na calçada. Além disso, pesa também a mudança do poder aquisitivo dos clientes”, comenta Adalberto Rangel, sócio-gerente do Brazooca. De acordo com o empresário, nos últimos dois anos a queda foi de 50% no movimento.
Leo Feijó, ex-proprietário do Teatro Odisseia, diz que a concorrência com o comércio dos ambulantes ilegais e depósitos é desleal. “Eles compram e vendem mais barato. No caso dos depósitos, até com valor de revenda. São preços impraticáveis para nós. Não dava mais para manter. A margem deles é sempre mínima”, explica. Fundado em 2004, o Odisseia tinha agenda programada até agosto, mas cancelou a programação e antecipou a despedida para este mês. Outro casarão, palco de grandes shows, o Lapa 40° também fechou suas portas este ano.
Desemprego
Hoje trabalhando como barraqueira, Margareth Elias foi uma das pessoas afetadas diretamente pela decadência do comércio na Lapa.
Ela perdeu seu emprego, há seis meses, no Bar Levianos, onde chegou a ser subgerente. “Tive que me reinventar. Não dava para ficar esperando a situação melhorar. Aqui precisamos ser resistentes”, comenta a profissional, à frente da barraca Drinks Cariocas.
Para os universitários Fernanda Almeida, de 25, e Anderson Chagas, 26, que moram na Taquara, a insegurança na Lapa é um dos problemas que os afastam da boemia no local. “Quem não conhece bem fica com receio de vir para cá. Sem contar que se você quiser curtir alguma coisa com qualidade, precisa pagar caro. Faltam opções gratuitas, como tinha antigamente”, diz Anderson.
A sensação dos estudantes é reforçada pelo recente relatório do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro (ISP), que aponta uma alta de 11,7% no número de furtos da região, considerando os meses de janeiro a maio deste ano, em comparação com o mesmo período de 2018.
Segundo o balanço, as ocorrências desse tipo ultrapassaram os 67 mil casos. Contudo, o total de roubos da região teve queda de 9,1% nos cinco primeiros meses de 2019, em comparação ao mesmo período no ano passado. A segurança na região é reforçada pelo programa Lapa Presente desde o ano de 2014.

Prefeitura tenta ordenar ambulantes
Procurada sobre a atuação do comércio ambulante ilegal, a Coordenadoria de Controle Urbano, da Secretaria Municipal de Fazenda, informou que realiza ações rotineiras de ordenamento na Lapa com atenção especial às sextas, sábados e domingos, dias de maior movimento. Nas ações, agentes têm o apoio dos demais
órgãos competentes atendendo a denúncias.
De junho até o momento, mais de 200 ambulantes foram fiscalizados e mais de 80 denúncias foram atendidas nos canais da prefeitura, como o 1746, da Central de Atendimento ao Cidadão; e ouvidorias. Todos que atuavam no local sem autorização foram orientados a desobstruir o logradouro público.
De acordo com o órgão, a Lapa está incluída no programa Ambulante Legal. O objetivo do programa é organizar e facilitar a identificação dos ambulantes autorizados a trabalhar nos logradouros públicos, sem descuidar do uso sustentável do espaço público.
Mesa nas ruas
Autor da lei que autoriza a utilização de calçadas (mesmo as que tiverem bueiros) para colocação de mesas e cadeiras por estabelecimentos, o vereador Rafael Aloísio Freitas (MDB) é um dos defensores do comércio na Lapa. Segundo ele, a atual gestão da cidade não se preocupa com a cultura do Centro.
“A Secretaria de Ordem Pública poderia fazer ação integrada com outros órgãos para conseguir que a Lapa volte a ser um local que os turistas e cariocas possam frequentar com tranquilidade e alegria. A Secretaria de Urbanismo também poderia cuidar dos casarões abandonados, que servem de reduto da criminalidade”, critica Rafael.

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