Ação policial no Condomínio Morar Carioca, em Triagem, Zona Norte do Rio - Reprodução
Ação policial no Condomínio Morar Carioca, em Triagem, Zona Norte do RioReprodução
Por Beatriz Perez e Gustavo Ribeiro
Rio - Dois homens morreram após uma ação policial na tarde desta quarta-feira no Bloco 4 do Condomínio Morar Carioca, em Triagem, Zona Norte do Rio. A polícia disse que os dois eram criminosos, mas as famílias contestam esta versão: um era mototaxista e o outro estava desempregado, dizem. Ainda de acordo com relatos, uma criança teria ficado ferida na ação. No entanto, a informação não confirmada pela PM.
As vítimas foram socorridas ao Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier. A polícia permanece no local e moradores acusam os agentes de truculência. 
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Uma das vítima é Marcos Felipe Sodré Monteiro, 22. Morador da Mangueira, na Zona Norte do Rio, ele estava desempregado. Ele já chegou morto no Salgado Filho, em uma viatura da PM. Segundo a irmã, a operadora de loja Yndayara Sodré Monteiro, 24, o rapaz saiu de casa de manhã, onde mora com a mãe para ir ao Morar Carioca lavar a moto. 
Marcos Felipe Sodré Monteiro, 22, morava com a mãe no Morro da Mangueira, Zona Norte do Rio - Arquivo Pessoal
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Yndayara refuta a informação da PM de que ele seria criminoso. Ela diz que Marcos Felipe foi atacado quando estava de costas, conforme lhe informaram testemunhas. Moradores denunciaram à jovem que policiais colocaram uma arma na mão de seu irmão e dispararam para o alto para simular que ele era criminoso.

Em troca de mensagem recentes exibidas por Yndayara, Marcos lhe pede 20 reais para ajudar a comprar carne para seu churrasco de aniversário, no último dia 22. "Se meu irmão fosse traficante, não estaria pedindo ajuda de vinte reais. Ele era um homem de bem. Tinha o sonho de arrumar um trabalho digno e tirar minha mãe do morro. Todo mundo que morre em comunidade a polícia chama de criminoso. Não vou aceitar que isso aconteça", diz.
Davi Marques de Assis, 19 anos, era mototaxista - Arquivo Pessoal
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A segunda vítima era um mototaxista. Davi Marques de Assis, 19 anos, foi socorrido pela própria família ao Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier. Ele chegou lúcido na unidade, mas morreu no início da noite, após passar por cirurgia. Segundo o pai, o pintor Eusébio Gonçalvez de Assis, 60, o filho foi morto após sair do ponto do mototaxi para comprar uma quentinha, quando policiais chegaram ao atirando e o acertaram na coluna.
A família diz que socorreu Davi, com receio de que acontecesse algum tipo de abuso no socorro. Eles relataram que os pertences da vítima, como documentos, celular, chave e dinheiro, desapareceram. 
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Uma criança também foi atingida por estilhaços, quando estava no colo do pai, na ação, mas não precisou ser hospitalizada.
Segundo a versão dos militares, dois suspeitos foram atingidos e socorridos ao Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier.
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"Policiais do 3º BPM (Méier) realizaram uma ação para reprimir o crime organizado no conjunto no início da tarde. Segundo a Polícia Militar, houve confronto com criminosos. Duas pistolas foram apreendidas na ação. A Delegacia de Homicídios da Capital foi acionada para registro dos fatos", diz. 
As famílias das vítimas dizem, no entanto, que não houve confronto com traficantes que dominam o condomínio, mas que os agentes chegaram atirando ao local. "A polícia já chegou atirando. Não tinha ninguém lá envolvido (com o tráfico). Era todo mundo trabalhador", diz Fábio Gonçalves, 26, mototaxista e irmão de Davi. 
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Segundo uma moradora, ações do tipo têm sido norma no condomínio. "Estamos em casa, no meio de férias. Entram a qualquer horário de forma truculenta. A gente não é contra a operação da polícia, mas é preciso entender que aqui existem outros moradores, além dos bandidos, que ficam no fogo cruzado", diz.
Procurada sobre as denúncias de abuso, a Polícia Militar ainda não retornou à reportagem até a atualização deste texto. A Corregedoria da corporação recebe denúncias através do WhatsApp no número (21) 97598-4593; pelo telefone (21) 2725-9098 ou ainda pelo e-mail denuncia@cintpm.rj.gov.br.  
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Homem foi torturado por traficantes na segunda-feira
Um atirador esportivo foi sequestrado no mesmo condomínio durante a tarde de segunda-feira. Ele foi capturado ao entrar por engano no Morar Carioca, guiado por um serviço de GPS. Equipes do 3º BPM (Méier) foram acionadas para resgatá-lo. Chegando ao local, os agentes localizaram a vítima, que apresentava escoriações e foi socorrida ao Hospital Municipal Salgado Filho.
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Guilherme Costa Rocha, de 47 anos, foi capturado após ter uma arma encontrada na mala do carro pelos criminosos. Segundo a Record TV, ele foi interrogado por cerca de trinta minutos por vinte homens. À TV, ele disse que levou sete pontos na testa, por causa de uma coronhada, e que temeu não escapar com vida do cerco. A ocorrência foi conduzida para a 25ª DP (Engenho Novo). 
O condomínio é o mesmo em que criminosos tentaram roubar uma caixa d'água, que abastecia todo o conjunto habitacional, no dia 3 de julho.