Galant: ligações com libanesesDivulgação
Por Bruna Fantti
Publicado 23/07/2019 05:30 | Atualizado 23/07/2019 08:16
Rio - Em fevereiro de 2018, Elton Leonel Rumich, conhecido como ‘Galant’, decidiu passar o Carnaval no Rio. Apontado como um dos chefões do CV e do PCC, ele era procurado pelas polícias do Brasil e do Paraguai. Acabou sendo preso pela Delegacia Especializada em Armas e Explosivos (Desarme) enquanto fazia uma tatuagem em Ipanema. Chegou a oferecer R$ 7 milhões aos agentes da especializada para não ter cinco celulares e uma caderneta com anotações de valores levados. O motivo está sendo aos poucos revelado: uma ligação entre o tráfico e o grupo terrorista libanês Hezbollah.
Na sexta-feira, o braço do narcoterrorismo no Rio foi citado pelo governador Wilson Witzel, durante uma coletiva. “Em breve, uma investigação revelará a ligação entre o tráfico e o Hezbollhah”, disse. A reportagem de O DIA apurou que uma das investigações em curso é justamente o desdobramento da prisão de Galant.
Publicidade
Ainda sob a titularidade do delegado Fabrício Oliveira, a Desarme solicitou ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) a listagem de nomes de pessoas que realizaram transações financeiras com Galant. O esperado era o retorno de dezenas de nomes. Mas o Coaf respondeu com uma surpreendente lista de 30 mil pessoas, revelando um larga rede. Entre elas, supostos terroristas investigados na lavagem de dinheiro do tráfico na Tríplice Fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai. “Os nomes desses terroristas foram citados, pela primeira vez, em um relatório do Departamento do Tesouro Americano, de 2006”, apurou O DIA junto a um agente do DEA, agência norte-americana de combate ao narcotráfico.
A Polícia Federal também possui informações a respeito dessas movimentações financeiras de Galant, preso em Bangu 1 e condenado a 10 anos por porte ilegal de arma e documento falso. As autoridades investigam a venda de drogas como uma das fontes de financiamento dos terroristas. Além disso, o grupo libanês abriu canais para o contrabando de armas destinadas ao PCC e ao CV, principalmente pela fronteira entre o Brasil e o Paraguai.
Publicidade
GOLPE DE ESTADO NO PARAGUAI
Jorge Rafaat, que controlava o tráfico de armas e drogas na cidade paraguaia de Pedro Juan Caballero, na fronteira com o Brasil, não permitia a expansão do CV e do PCC na região. Segundo as investigações, isso mudou quando Galant o matou em 2016. Em uma ação cinematográfica, o carro blindado de Rafaat foi perfurado por tiros de uma submetralhadora .50, em um tiroteio que durou cerca de 15 minutos. Após o crime, Galant assumiu o controle do tráfico no país vizinho.
Publicidade
Ao decretar a sua prisão preventiva, a Justiça citou que Galant orientou membros do PCC a violar a sepultura de Rafaat no primeiro aniversário da sua morte. O corpo estava enterrado em um cemitério em Ponta Porã. Um vídeo encontrado em um celular de um traficante da quadrilha preso mostra o corpo sendo retirado de dentro do túmulo e queimado. Em um diálogo encontrado no mesmo celular, Galant afirma aos seus comparsas para sumir com o caixão. E que o ato serviria para causar pânico, demonstrando que eles estavam “fortemente na pista”.
Na sexta-feira, a Polícia Federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, cumpriu mais um mandado de prisão preventiva contra o traficante. Na investigação, ficou comprovado o uso de imóveis no nome de parentes dele para lavar dinheiro do tráfico.


NA TRÍPLICE FRONTEIRA

A atuação terrorista do Hezbollah na América do Sul foi um dos temas debatidos durante a Conferência Ministerial Hemisférica de Luta contra o Terrorismo, realizada na sexta-feira, na Argentina. Na ocasião, em entrevista a uma revista portuguesa, o secretário-geral dos Negócios Estrangeiros do Brasil, Otávio Brandelli, afirmou que “há atividade do Hezbollah na tríplice fronteira. Isso é um dado da realidade”.
Publicidade
Ainda no congresso, o Brasil ratificou um termo de colaboração no combate ao terrorismo. “O Brasil juntou-se à declaração da Conferência na qual se reconhece que há atividades do Hezbollah na América do Sul. Não queremos que o hemisfério seja um espaço para ação de logística, de financiamento ou de atividades operacionais de qualquer grupo terrorista”, disse Brandelli.

 
Publicidade