Com o filho Cauã Gabriel, de 2 anos, Ana Vitória lamenta o abandono da estação Cesarão, em Santa Cruz - Luciano Belford
Com o filho Cauã Gabriel, de 2 anos, Ana Vitória lamenta o abandono da estação Cesarão, em Santa CruzLuciano Belford
Por GUSTAVO RIBEIRO
Rio - A Prefeitura do Rio está prestes a cobrar multas, pedir ressarcimentos e fechar acordos com as construtoras dos corredores dos BRTs Transoeste (inaugurado em junho de 2012) e Transcarioca (junho de 2014). O objetivo é reinvestir em obras de recuperação das pistas, que apresentam falhas graves após poucos anos de uso. A expectativa da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Habitação (SMIH) é que as medidas tenham solução ainda este mês. Após a devolução da gestão do sistema às empresas de ônibus, na semana passada, especialistas listam outras prioridades para salvar o modal, que já recebeu até 400 mil passageiros por dia.
“O que as empreiteiras tiverem que devolver do que fizeram malfeito ou do que não fizeram, elas vão devolver. Recebemos o pleito deles, estamos conversando e calculando. Não haverá mais reunião. Vamos mandar para eles oficialmente os valores e chamar para ressarcimento e acordo de leniência. Disso a gente não abre mão”, afirmou o titular da SMIH, Sebastião Bruno, sem antecipar os valores. Segundo ele, detalhes sobre o reparo das pistas estão em discussão entre o prefeito Marcelo Crivella e a Secretaria Municipal de Transportes (SMTR).
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O BRT tem outros problemas que persistem, como superlotação, intervalos demorados, calote e vandalismo. A intervenção municipal no sistema apontou a necessidade de ampliar estações subdimensionadas, mas Alexandre Rojas, engenheiro de Transportes da Uerj, sugeriu uma opção mais econômica, que resolveria a superlotação dos veículos e das paradas: aumentar e programar melhor a frota. “Não precisa refazer todas as estações. Precisa não deixar acumular passageiro lá. Se perceber que aquela estação vai ficar lotada, tem que fazer chegar até ela um ônibus vazio. Não adianta ter pouco ônibus que não vai resolver”, ressaltou o especialista.
Eva Vider, engenheira de Transportes da Escola Politécnica da UFRJ, cobra a licitação prometida pelo prefeito — e que não está mais em discussão — para exigir das empresas vencedoras melhorias no serviço, entre elas a alteração da configuração de algumas estações para evitar calotes. “As estações-tubo de Curitiba possuem um design que impede a entrada de caloteiros pelas portas laterais, pois os veículos baixam uma plataforma de embarque naqueles pontos”, recomendou Eva, que também defende a contratação de seguranças privados, como há no metrô e nos trens.
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O investimento de R$ 6 milhões por ano em segurança foi outra exigência da prefeitura no acordo com os empresários pós-intervenção. Desde o mês passado, a Guarda Municipal aplica multa de R$ 170 em quem é flagrado tentando embarcar no BRT sem pagar.
Diretor regional da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), Willian Aquino concorda que a superlotação só será resolvida com mais ônibus. No entanto, lembra que é preciso solucionar o suposto desequilíbrio financeiro alegado pelas empresas: “Se a tarifa não cobre o serviço, a tendência é não haver mais investimento em veículos. Uma saída é ter alguma outra fonte”. Uma condição assumida pelo Rio Ônibus para voltar a gerir o BRT é a compra de 150 ônibus em 12 meses. 
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À espera da reativação das estações da Cesário de Melo
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A população da Zona Oeste aguarda ansiosamente a reabertura das 22 estações do Transoeste na Avenida Cesário de Melo, fechadas desde maio do ano passado depois de serem diversas vezes vandalizadas. Uma das promessas feitas pelo Rio Ônibus para receber o BRT de volta foi reativar as paradas em três meses. No entanto, os locais continuam abandonados. Circulavam no trecho cerca de 12 mil passageiros por dia, mas a estimativa é de que havia 15 mil calotes diários.
O DIA visitou as estações Cesarão I e II, em Santa Cruz, na quinta-feira, e o cenário ainda era de terror. Vidros quebrados e fios pelo chão, vasos sanitários imundos, cobertores dos sem-teto que dormem no local, garrafas e muita sujeira.
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“As estações fazem falta, porque quem estuda ou trabalha em locais como Campo Grande e Paciência depende do péssimo serviço dos ônibus, que demoram muito, ou têm que fazer baldeação. No BRT, a gente esperava poucos minutos para embarcar e chegava mais rápido. O ônibus comum vai parando de ponto em ponto e, quando chega, está lotado”, lamentou a estudante Ana Vitória Coelho Oliveira, de 16 anos, que mora perto das estações desativadas em Santa Cruz.
Cristiane de Oliveira, 45, que trabalha perto da Cesarão II, torce para o BRT voltar às estações da região: “Ficamos à mercê do transporte alternativo ou mofamos no ponto. O ônibus para Campo Grande demora até meia hora para passar. Mas não é só fazer funcionar. Tem que ter segurança e fiscalização contra calote”.
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Rio Ônibus não respondeu ao DIA sobre o cronograma de recuperação das estações.