Dona de comércio em Queimados revela que horário de funcionamento vai até 19h devido à violência  - Ricardo Cassiano
Dona de comércio em Queimados revela que horário de funcionamento vai até 19h devido à violência Ricardo Cassiano
Por Rafael Nascimento e Waleska Borges

A violência assusta Queimados. O município da Baixada Fluminense é o quinto com maior número de homicídios no Brasil, segundo dados do Atlas da Violência de 2019, com taxa de 115,6 mortes violentas a cada cem mil habitantes. O levantamento é produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O estudo analisou os casos de homicídios em 310 cidades brasileiras. A falta de policiamento e a ausência de políticas públicas são apontados por moradores e especialistas como os fatores que desencadearam a atual situação.

De acordo com o relatório, o alto índice de violência no município está correlacionado, entre outros fatores, com a presença e a disputa por território entre milícia e tráfico de drogas na região. Segundo fontes da Polícia Civil, pelo menos cem pessoas teriam sido executadas na cidade por milicianos nos últimos dois anos. As vítimas tiveram seus corpos desaparecidos para que os crimes não entrassem nas estatísticas. As mortes são investigadas pela Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHFB).

O delegado Moisés Santana, DHBF, explica que esconder os corpos "é uma prática muito comum dos milicianos". Ele lembra que, recentemente, foi localizado um cemitério clandestino no município. "Estamos mapeando outros, com diligências para serem realizadas", informou Santana. Para o delegado, porém, deve-se levar em consideração que as informações do Atlas estão baseadas no ano de 2017, que não retratariam a atual realidade.

"Na gestão atual, os números estão em queda, não só em Queimados, mas em toda a Baixada. Possivelmente, teremos o mês de junho com o menor número de homicídios desde a criação da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense", adiantou Santana. O delegado informou também os números de homicídios na região. Em 2017 foram 142 casos; em 2018 houve 97 registros e, em 2019, até junho, 40 ocorrências. No ano passado, Queimados estava no topo da lista das mais violentas. A taxa de homicídios na cidade, no período, foi de 134,9 mortes violentas a cada cem mil habitantes.

A insegurança na região afeta diretamente a vida da população. Muitos moradores e comerciantes evitam ficar até mais tarde na rua. Por medo, não fazem nem comentários sobre a violência. Alguns se arriscam a falar, mas pedem anonimato, como um morador do Centro, de 56 anos. "A cidade só tem quatro entradas e estamos liderando o ranking de homicídios no país", lamentou.

Uma comerciante, de 43 anos, que também pediu para não ser identificada, bairros como Fanchem, Vila das Porteiras e Jardim Queimados, são os mais perigosos para os lojistas. O horário máximo de funcionamento é até 19h. "Sou comerciante há quatro anos. Colocamos aqui na loja dez câmeras para inibir bandidos, mas não adiantou", reclamou.

Você pode gostar
Comentários