Fabrício, pai de Gabriel, agradeceu a homenagem feita ao filho. Foto: Cléber Mendes/Agência O Dia - Cléber Mendes
Fabrício, pai de Gabriel, agradeceu a homenagem feita ao filho. Foto: Cléber Mendes/Agência O DiaCléber Mendes
Por Thuany Dossares
Rio - Estudantes do Colégio Estadual Herbert de Souza, no Rio Comprido, na Zona Norte do Rio, organizaram, na tarde desta segunda-feira, uma manifestação para protestar contra a morte de seu colega, Gabriel Pereira Alves, de 18 anos. O jovem era morador do Morro do Borel, na Tijuca, e foi vítima de uma bala perdida, na manhã da última sexta-feira, quando estava no ponto aguardando ônibus para ir para a escola.

Vestidos com camisas pretas e com cartazes nas mãos pedindo justiça, o grupo de aproximadamente 50 jovens caminharam da unidade de ensino, na Rua Barão de Itapagibe, até o bairro da Usina. O trajeto dura cerca de 50 minutos.

"Nós alunos quisemos fazer essa manifestação como forma de homenagem e protesto. O Gabriel era uma excelente pessoa, muito esforçado, incentivava todo mundo. Eu fazia todos meus trabalhos de grupo com ele, a gente sempre estava junto", declarou uma amiga da turma do estudante.

Amigo de infância de Gabriel, um dos rapazes que estavam com ele no ponto de ônibus no momento em que ele foi atingido, também participou da manifestação.


"Eu era do 2º ano do ensino médio e ele estava no 3º. Conhecia o Gabriel há muito tempo, mais de dez anos de amizade. Sou morador do Borel também, estava com ele quando ele foi baleado. A gente desceu como de costume, e estava sem tiros. Depois escutamos alguns tiros, quando já estávamos lá em baixo, ai a gente parou onde a gente estava, num lugar mais seguro. Pararam os tiros e nós fomos para o ponto de ônibus, e aí a gente escutou só mais um, que foi o que acertou ele. Ele botou a mão no peito e falou "que isso, me acertou", e logo depois já foi caindo no chão. É muito triste, estamos muito abalados. Convivemos com tiroteios constantemente, nosso dia a dia é sofrido, temos que esperar os tiros acabarem para sair", desabafou o adolescente.

A direção do Colégio Estadual Herbert de Souza não participou da organização do protesto. Mas, antes das aulas começarem, houve uma roda de oração em memória de Gabriel e, em seguida, os alunos se abraçaram.

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Polícia ainda não sabe qual calibre da arma que matou estudante 

O corpo de Gabriel Pereira Alves foi enterrado no domingo, dia dos pais, no Cemitério da Penitência, no Caju. No entanto, a família do estudante ainda não descobriu qual calibre da arma que atingiu o peito do rapaz. O projétil não transfixou o corpo da vítima e havia ficado alojado, só sendo retirado durante a perícia no Instituto Médico Legal (IML) de São Cristóvão.

Segundo moradores do Morro do Borel, momentos antes do estudante ser baleado houve um tiroteio na comunidade. A Polícia Militar informou na ocasião que uma das bases da UPP Borel, na localidade conhecida como Chácara do Céu, havia sido atacada por criminosos na manhã de sexta-feira, mas que os militares não revidaram os disparos. Entretanto, os populares suspeitam que o tiro pode ter partido de algum agente de segurança.

Na certidão de óbito a causa da morte foi "ferimento penetrante de tórax com lesão da veia cava superior, projétil de arma de fogo". Mas o pai de Gabriel, Fabrício Moreira Alves, ainda não consegue entender o porquê não foi divulgada a arma que matou seu filho.  
Fabrício, pai de Gabriel, agradeceu a homenagem feita ao filho. Foto: Cléber Mendes/Agência O Dia - Cléber Mendes


"Eu acho engraçado. Como é ele, não vai ter urgência no resultado, mas se fosse alguém mais importante, no mesmo dia, no máximo três, estava lá o laudo. A gente vê, que para eles, a gente que mora na comunidade não tem importância, a gente não é nada, infelizmente. Só quero que alguém faça alguma coisa, que não fique nisso daí, nessa história de só pais vindo falar, mas que o outro lado não dê uma resposta. Eu via esses casos do outro lado de uma tela e tinha um sentimento, mas só momentâneo. Agora eu me vi na tela, sei como é isso e sinto a dor de todos esses pais", desabafou Fabrício.

Mesmo de luto, o pai de Gabriel não sente mágoas e se sentiu também homenageado com a passeata promovida pelos amigos do filho.

"É gratificante ver o que meu filho construiu, as amizades que ele deixou. Estou sem mágoas no coração, ele ia se formar agora, sempre me deu muito orgulho, mas a vida dele foi interrompida", finalizou.