Segundo a professora de Willian da Silva, quando adolescente, na escola, ele era calado, ficava isolado e respondia com agressividade - Reprodução
Segundo a professora de Willian da Silva, quando adolescente, na escola, ele era calado, ficava isolado e respondia com agressividadeReprodução
Por Rachel Siston*
Rio - Um aluno introvertido, nervoso, calado e que não costumava implicar com os colegas da escola. A descrição de Willian Augusto da Silva, que sequestrou um ônibus com 39 reféns, terça-feira, na Ponte Rio-Niterói, foi feita por uma ex-professora do rapaz, Maria do Nascimento. Ela deu aulas para ele no 5º ano do Ensino Fundamental, em 2012, na Escola Municipal Professor Nicanor Ferreira Nunes, no Jardim Catarina, em São Gonçalo.
"Ainda estou extremamente triste e arrasada com tudo isso, tentando entender como essa situação chegou a esse ponto", declarou Maria. Ela descreve Willian como "extremamente tímido". Segundo ela, quando foi professora do jovem, Willian tinha 13 anos, era muito calado e costumava ficar dentro de sala no horário do recreio. "Ele gostava muito de usar casaco com capuz. Às vezes, colocava o capuz e ficava de cabeça baixa na mesa e não interagia com os colegas, não conversava, não puxava assunto", contou a professora.
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A docente lembrou, ainda, que quando era provocado por colegas de classe, o jovem ficava agressivo, mas esse não era seu comportamento frequente: "Ao mesmo tempo que era introvertido, era nervoso, não sabia discutir. Quando alguns meninos implicavam ou provocavam, ele ia na direção da pessoa para agredir", lembrou. Maria contou ter conversado com Willian, dizendo que ele não poderia agir dessa forma, quando provocado, mas o rapaz tinha dificuldade de conversar. "Ele não era um menino agressivo, não implicava com ninguém, não desrespeitava, entrava e saía da escola sem incomodar ninguém".
Willian não era um aluno com as notas mais altas da turma e, segundo Maria, tinha dificuldade para aprender. Era necessário repetir algumas vezes para que ele conseguisse entender o conteúdo. No ano seguinte, a professora perdeu o contato com o jovem, mas soube por colegas de classe dele que o comportamento introspectivo continuava.
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"Quando foi confirmada a identidade, eu tive um baque tão grande, só estou começando a me recuperar agora. Fiquei muito mal por perceber que nós, professores, somos impotentes demais diante dessas situações. O Willian não estava preparado para as pressões da vida", lamentou. Devido à falta de assistência a professores e alunos das escolas públicas, Maria teme que jovens que enfrentam problemas, como ansiedade e depressão, estejam cada vez menos preparados para enfrentar os problemas do cotidiano.
"Meu maior medo, hoje, é que nós temos em nossas escolas muitos alunos com as características do Willian e, o que é pior, muitos professores passando pela mesma questão de ansiedade, tomando medicamentos. Nós estamos abandonados pelo poder público, porque não temos nenhuma assistência dentro das escolas públicas, de atendimento e encaminhamento, que seja sério, um trabalho voltado para preparar esses jovens para a vida adulta".
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* Estagiária, sob supervisão de Maria Inez Magalhães