Laís Angela da Silva Mello e Fábio Farias, pais dos gêmeos Lucas (de azul) e Miguel, que foi diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista  - Arquivo pessoal
Laís Angela da Silva Mello e Fábio Farias, pais dos gêmeos Lucas (de azul) e Miguel, que foi diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista Arquivo pessoal
Por Beatriz Perez
Rio - Um menino de três anos, diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA) em maio deste ano, foi impedido pela creche em que estuda na Tijuca, Zona Norte do Rio, de participar de um passeio marcado desde o ano passado ao museu do Meio Ambiente no Jardim Botânico, na Zona Sul do Rio.
Miguel estava com todos os preparativos para passar algumas horas no parque nesta quinta-feira (29) com o irmão gêmeo Lucas e os demais colegas, mas, a família foi surpreendida na véspera ao ser informada pela direção de que o pequeno não poderia participar da atividade. "A justificativa foi a de que o quadro de funcionários não é suficiente para dar conta de todas a crianças inscritas e mais o Miguel", conta a mãe Lais Angela Mello.
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A postura da escola indignou Fábio Farias e Lais, pais dos meninos, e sensibilizou outras mães, que cobram mais inclusão por parte da creche. Elas anotaram nas agendas dos filhos a mensagem "Inclusão me importa".

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Mães escreveram mensagem nas agendas dos filhos pedindo inclusão à creche Reprodução
Mães escreveram mensagem nas agendas dos filhos pedindo inclusão à creche Reprodução
Mães escreveram mensagem nas agendas dos filhos pedindo inclusão à creche Reprodução
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Depois do episódio, Fábio e Lais buscam outra creche para os filhos ao mesmo tempo em que pedem mais visibilidade à necessidade de inclusão de crianças com autismos em creches e escolas.
"A gente ficou consternado porque é um filho nosso sendo excluído da atividade que seria boa tanto para ele, quanto para as outras crianças, que devem aprender a conviver com as diferenças", diz Fábio, que é assistente administrativo em um escritório jurídico.  
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A professora do curso de especialização Transtorno do Espectro Autista da PUC-Rio Mariana Seize destaca que os espaços  educacionais precisam ser garantidos a todas as crianças. "Se tem uma criança com transtorno do espectro autista, um profissional de apoio deve ser disponibilizado para auxiliar na mediação com a criança", diz.
A psicóloga ressalta que a participação em atividades pedagógicas e recreativas na primeira infância é fundamental para o desenvolvimento pedagógico e social de crianças com Transtornos do Espectro do Autismo.
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"Até os três anos de idade há um período de máxima neuroplasticidade: o aprendizado da criança é muito mais rápido. É importante neste momento atuar nas áreas em que o autismo interfere, como interação e comunicação social, por exemplo. A escola pode ser um pilar importante nesse desenvolvimento social da criança", completa Mariana Seize.
Família se preparou para atividade
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Mãe de Miguel e Lucas, Lais conta que na segunda-feira (26) enviou por meio da agenda dos filhos as autorizações e o valor de R$ 100,00 para que os dois participassem do passeio. "Em casa, estávamos animados com a oportunidade de os meninos viverem uma experiência diferente, longe de casa, com os amigos e professoras. Acreditamos que seria para eles uma vivência lúdica, rica em aprendizados e uma chance de amadurecer em vários aspectos", comenta a mãe.
A avó dos meninos já havia comprado lancheiras e o pai, lanches para os meninos, até que na quarta-feira, os pais foram chamados à creche pela direção para serem avisados de que Miguel não poderia participar do passeio. 
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A mãe de Miguel ofereceu alternativas para que o filho não fosse excluído da atividade. Perguntou se a avó de Miguel poderia acompanhá-lo e, diante da negativa, ofereceu-se para ela mesma acompanhar o filho. O que também não foi permitido.
"A justificativa da escola foi a de que as outras crianças questionariam porque não poderiam estar acompanhadas das mães como Miguel. Não nos deram nenhuma opção. Um momento que poderia ser de inclusão tanto para ele como para outras crianças, foi uma barreira intransponível para a gente", lamenta Fábio.
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Após o caso, os pais de Miguel e Lucas estudam denunciar formalmente a instituição. "As crianças com transtorno do espectro autista têm que ser respeitadas. As escolas precisam se enquadrar para atendê-las", cobra Fábio.
Em nota, a Creche Escola Esperança do Amanhã diz que funciona há 18 anos, prezando pelo desenvolvimento cognitivo, psicológico, social e emocional da criança, empregando métodos educativos que o possibilitem. A creche acrescenta que busca sempre se modernizar e atender às necessidades dos alunos, e está sempre acompanhando a legislação vigente. A instituição reitera o compromisso com o desenvolvimento integral de todas as crianças mantidas sob os seus cuidados, respeitando as suas particularidades, estimulando as suas habilidades cognitivas e sua inclusão no meio social. Ressalta ainda que repudia toda e qualquer atitude discriminatória, que se mostra contrária aos seus princípios e valores.

A diretora da Creche Escola diz que em nenhum momento houve a sugestão de que fosse junto uma babá ou a avó da criança. "A sugestão de que a própria mãe acompanhasse a criança também foi ponderada pela diretora, por se tratar de uma pessoa 'estranha', que poderia acabar por dispersar as demais crianças, desvirtuando a própria atividade proposta", diz a nota. A instituição diz que o aluno seria colocado sob condição de estresse excessivo, fora de sua zona de conforto. Por isso, "foi orientado aos pais que o mesmo participasse da aula recreativa que haveria no dia, dentro da escola", diz outro trecho