Ainda de acordo com o número de mortos em confrontos a cada 100 mil habitantes, o 5º BPM (Centro) é o que tem taxa mais alta de letalidade decorrente de intervenção policial. Este ano, foram 17 mortos a cada 100 mil habitantes.
Para a promotora Renata Bressan, da 8ª Promotoria de Investigação Penal, que atua em ocorrências das 72ª DP (Mutuá), 74ª DP (Alcântara) e 75ª DP (Rio D'Ouro), o crescimento deste tipo de ocorrência em São Gonçalo está atrelado ao colapso da criminalidade na cidade.
"São Gonçalo tem uma criminalidade muito alta. São reações da polícia à prática do crime. Não estou dizendo que a polícia deve matar, mas deve reagir à prática criminal. Quando os policiais são chamados, é para coibir a ação criminosa e muitas vezes são recebidos a tiros", diz a promotora. "Lamento muito a epidemia criminal. Mas eu, que moro próximo a São Gonçalo, entro e saio da cidade para trabalhar, sem saber se sou a próxima vítima", alerta.
Ao analisar alguns boletins de ocorrência, percebe-se que os casos são bem parecidos. Uma ocorrência registrada no dia 21 de maio, mostra que um grupo de PMs do 7º BPM narra que, ao chegar na favela da Central, no bairro Raul Veiga, em Alcântara, foi recebido a tiros. E, ao perseguiu um grupo de homens em um terreno baldio e sem iluminação, matou um dos supostos traficantes atingido por um dos 12 disparos feitos em sua direção. O homem, de cerca de 30 anos e cavanhaque, acabou morto. Nenhum policial foi ferido.
Um outro caso, registrado no dia 4 de julho, se passou no Jardim Bom Retiro. Quatro homens foram "avistados em atitude suspeita" e teriam disparado na direção dos PMs. Um dos agentes revidou com nove tiros, deixando um morto e dois feridos. Os três estariam com revólveres e drogas.
No dia 1º de fevereiro, um outro registro dá conta de que um grupo de policiais, em ação na comunidade do Brejal, no Jardim do Bom Retiro, se deparou com um grupo suspeito. Um deles teria atirado contra o policial com um revólver. O agente revidou com um tiro de fuzil, e o traficante morreu.
Questionada sobre a investigação dos casos, capaz de comprovar se o que houve foi, de fato, legítima defesa ou uma execução, a promotora diz que a maior parte dos casos é arquivado.
"Temos uma ausência de informações pela não contribuição das testemunhas. Em 90% dos casos, as testemunhas intimadas não comparecem e o que temos são depoimentos dos servidores e os laudos da perícia. Geralmente, quem presencia o fato não quer falar", diz.
Diferente do que acontece na capital, em São Gonçalo, as mortes decorrentes de intervenções policiais são investigadas pelas próprias delegacias distritais e não pela Delegacia de Homicídios.