Publicado 07/08/2019 20:21
Rio - Após ter passado oito dias preso, o estudante de 21 anos Weslley Rodrigues Jacob está se sentindo animado para retomar seus estudos e seu trabalho. Ele foi preso no último dia 30, na região da Grota, no Complexo do Alemão, suspeito de ser o dono de um radiotransmissor encontrado por um policial militar. Solto na noite de terça-feira por decisão da Justiça, o jovem denuncia que os agentes o deram dois tapas no rosto e o ameaçaram com uma faca para que "passasse um rádio" a criminosos.
Weslley estava na loja onde trabalha um amigo para se refugiar de um tiroteio, de onde partiria para o colégio, quando foi preso. O estudante conta que está animado para retomar as aulas. "Vou ter que esperar um pouquinho. Hoje parece que não vai ter aula por conta de tiroteio", diz. Ele cursa o terceiro ano do Ensino Médio no período noturno no Colégio Estadual CAIC Theophilo de Souza Pinto, em Bonsucesso.
O estudante conta que no dia em que foi preso, um policial entrou na loja em que estava com o amigo adolescente e revistou os dois. O agente verificava antecedentes no celular, quando outro militar chegou correndo dizendo que havia encontrado um radiotransmissor na lixeira: "Vamos botar pra cima deles", teria dito o agente, segundo Weslley. "Eu falei: 'Com a gente não tava, senhor. Ele olhou para minha cara, não sei o que passou na mente dele, mas ele começou a alegar que o rádio era meu", diz.
Segundo o relato do estudante, o policial disse que iria apertar o botão do aparelho para que Weslley falasse. "Não vou falar não senhor, porque o rádio não é meu", disse Weslley. Na sequência, segundo o jovem, o militar disse que lhe daria um tapa. Após se recusar mais uma vez, o rapaz recebeu o golpe no rosto. Ele ainda levaria mais um, quando entraram mais dois policiais na loja, totalizando quatro militares na loja.
Um deles, conta Weslley, estava com uma faca na mão e disse que iria "furá-lo no ombro", se não passasse o rádio. Weslley conta que chegou a proteger o rosto com os braços, mas o policial abaixou a faca, disse que o rádio era dele e o levou para a viatura.
"Fiquei com medo. Me senti ameaçado", lembra. Com medo, Weslley diz que vai esperar algumas semanas para retomar o trabalho de assistente em um trailer de reparos a celulares, onde trabalha. Ele teme represálias por parte de policiais diante das denúncias de agressão. O juiz de custódia determinou no dia 1 de agosto a expedição de ofício à Promotoria de Auditoria Militar para apurar as denúncias.
"Fiquei com medo. Me senti ameaçado", lembra. Com medo, Weslley diz que vai esperar algumas semanas para retomar o trabalho de assistente em um trailer de reparos a celulares, onde trabalha. Ele teme represálias por parte de policiais diante das denúncias de agressão. O juiz de custódia determinou no dia 1 de agosto a expedição de ofício à Promotoria de Auditoria Militar para apurar as denúncias.
Weslley Rodrigues ficou preso no presídio Ary Franco, em Água Santa, Zona Norte do Rio. Lá, ele conta que sentiu frio durante a noite e diz que precisou dividir um colchão de solteiro no chão com outro detento. "Tô me sentindo aliviado por sair daquele lugar", diz. "Fiquei muito abalado por estar preso por uma coisa que eu não fiz. Ficava com o pensamento aqui fora, preocupado com a minha mãe", completa.
Nos dias em que ficou preso, Weslley conta que ficou assustado por estar entre pessoas que cometeram crimes e procurou não se envolver com ninguém. "Algumas pessoas ficavam falando dos seus crimes e eu só refletindo que eu não era disso. Alguns chegaram baleados, dizendo que os 'cana' fizeram operação. Outros diziam que trabalhavam para algum dono de boca. E eu só quieto no meu canto pra ninguém se meter ou ficar de graça comigo", diz.
O estudante também reclama das condições da prisão, que classificou como péssimas. "Só dormi duas vezes com coberta, senti frio, dividi colchão no chão com outra pessoa", afirma. Ele também se queixa da alimentação e disse que só conseguia se alimentar às vezes. "O arroz servido é duro e sem sal, a carne, mal feita, mal-passada", lembra.
O estudante também reclama das condições da prisão, que classificou como péssimas. "Só dormi duas vezes com coberta, senti frio, dividi colchão no chão com outra pessoa", afirma. Ele também se queixa da alimentação e disse que só conseguia se alimentar às vezes. "O arroz servido é duro e sem sal, a carne, mal feita, mal-passada", lembra.
O maior medo, diz, era sobre o tempo que ficaria preso. Na noite de terça-feira, Weslley foi recebido por amigos na entrada da favela, após a defensoria pública conseguir na Justiça o alvará de soltura. "Todos me falaram que estavam com saudade, que não aguentavam ficar sem mim. Pra eu ficar bem", diz.
Agora, Weslley responde ao processo em liberdade e cobra Justiça sobre a denúncia de que policiais o agrediram e atribuíram o radiotransmissor a ele. "Percebia que este tipo de coisa acontecia nas favelas, mas nunca pensei que pudesse acontecer comigo. Espero que sejam punidos e paguem pelo que fizeram", finaliza.
Procurada, a Polícia Militar não retornou sobre as denúncias até a publicação deste texto.
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