O Colégio Estadual Agripino Grieco, no Engenho de Dentro, não conta com biblioteca e nem com sala de leitura - Ricardo Cassiano/Agência O Dia
O Colégio Estadual Agripino Grieco, no Engenho de Dentro, não conta com biblioteca e nem com sala de leituraRicardo Cassiano/Agência O Dia
Por Waleska Borges
Rio - No Colégio Estadual Agripino Grieco, no Engenho de Dentro, os poucos mais de 200 alunos do Ensino Médio não contam com uma biblioteca e nem mesmo com uma sala de leitura. Estudante do 2º ano, Daphne Marques, de 16 anos, assim como outros colegas da escola, revela que quando precisa da ajuda de livros, recorre à internet, que também não é disponibilizada para os estudantes da unidade. A mesma realidade é constatada em 73% dos colégios — públicos e privados — do Estado do Rio, que não possuem bibliotecas.

A carência de bibliotecas nas escolas ocorre a menos de seis meses para que todas as unidades de educação básica — ensinos infantil, fundamental e médio — do Rio, públicas e privadas, passem a contar com acervo de pelo menos um livro por aluno matriculado e um bibliotecário responsável. É o que determina a Lei 7383/2016, dos deputados Waldeck Carneiro (PT) e Flávio Serafini (Psol), que obriga a instalação do equipamento até 2020.

De acordo com dados do Censo Escolar de 2018, pesquisa realizada anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), revela que pouco mais da metade (51,2%) das escolas brasileiras têm bibliotecas. O levantamento mostra ainda uma diferença entre os colégios públicos e privados. Na rede pública, apenas 45,7% das unidades de ensino têm bibliotecas. No caso das particulares, o índice é de 70,3%.

"A biblioteca faz muita falta. Em algumas salas, há prateleiras com uns livros jogados. É lamentável. Quando preciso ler algum livro, procuro na internet. A falta de uma biblioteca na escola vai fazer diferença quando eu prestar vestibular", comentou Daphne.

Estudante do 3º ano, também do Colégio Agripino Grieco, Vitor de Souza, de 19 anos, gosta de ler livros. Ele conta que, há um mês, terminou a leitura do título 'A Menina que Roubava Livros'. "Tenho alguns livros meus em casa, mas acho que uma biblioteca deveria fazer parte da escola", disse. A leitura, no entanto, não é uma unanimidade. Também aluna do 3º ano, Elizamara Moreira, de 17 anos, acredita que a biblioteca não faz falta na sua escola e nem na vida dela. "Não sinto falta, o telefone ocupa muito o meu tempo. Não gosto e nem tenho o costume de ler livros", comentou.

Para o deputado Waldeck Carneiro, a presença das bibliotecas nas escolas é importante para a formação cultural de crianças e jovens. "É um espaço central no processo pedagógico, que deve interagir de forma dinâmica com os profissionais de educação, professores, pedagogos e com toda a comunidade escolar que deve ter na sua biblioteca uma referência cultural permanente", argumentou o parlamentar. Ainda de acordo com Carneiro, as escolas com melhor desempenho no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) têm como característica comum a presença de bibliotecas em suas unidades.

O coordenador do Núcleo de Inteligência do Todos pela Educação, Caio Sato, reforça a ideia de que a biblioteca é um espaço simbólico da educação. "No país, existe claramente uma falta de infraestrutura nas escolas e a biblioteca está incluída. Isso acontece, principalmente, nos municípios mais distantes e pobres. Essa é uma primeira sinalização de que, também na educação, há um reflexo de desigualdade forte", avaliou.

Quanto a falta de interesse de alguns jovens pela leitura, a psicóloga Andreia Dumas, que faz atendimento psicoterápico para crianças, adolescentes e adultos, acredita que a falta de estímulo dos pais, aliada ao avanço da tecnologia, com jovens muito ocupados nas redes sociais, contribuem para que o número de leitores caia cada vez mais. "Para atrair mais os jovens, essas bibliotecas precisam ser mais interativas", argumentou.

Universos literários em locais improvisados
Montadas em espaços desmotivantes e locais improvisados, muitas vezes as bibliotecas das escolas públicas contam com acervo de livros paradidáticos ou ultrapassados. De acordo com Luciana Manta, do Sindicato dos Bibliotecários do Estado do Rio, geralmente os livros desses equipamentos são doados pela comunidade e, em alguns casos, adquiridos em feiras literárias. Além disso, faltam profissionais com qualificação para desenvolver um trabalho técnico.

"Muitos desses espaços são utilizados também para guarda de materiais e equipamentos da escola, tornando o local quase um depósito", informou Luciana, lembrando que as bibliotecas devem ser lugares agradáveis. "Ninguém se aproxima de algo que não o enamore", compara.

A Secretaria de Estado de Educação alegou que todas as escolas da rede estadual possuem biblioteca ou sala de leitura, "salvo alguma mudança pontual que possa não ter sido informada à Secretária". O Sinepe/Rj (Sindicato das Escolas Particulares) informou apenas que "apoiamos a lei e pensamos que deve ser cumprida", referindo-se à lei estadual que deve ser cumprida até 2020. Já a Secretaria Municipal de Educação (SME) informou que possui acervo de cerca de 6,8 milhões de livros em suas 1.540 escolas e bibliotecas. De acordo com a SME, o município tem 14 bibliotecas escolares, distribuídas na cidade e abertas à população.

Barco-livraria atracará no Rio

A maior livraria flutuante do mundo, com mais de cinco mil títulos diferentes de livros, chega ao Rio no próximo dia 19. A embarcação, nomeada de Logos Hope, atracará no Pier Mauá, onde permanecerá até o 6 de outubro. O projeto, que pertence a uma associação católica alemã, venderá livros a partir de R$ 10, além de realizar doações literárias a várias entidades, como escolas e abrigos.

O acervo do navio traz exemplares sobre saúde, idiomas, ciência, esporte, gastronomia, hobbies, religião, desenvolvimento pessoal e literatura infantil. Do total de livros, 65% deles são escritos em língua espanhola. Os visitantes também poderão desfrutar de atividades artísticas, como teatro e concertos. A livraria flutuante já passou por diversos lugares do mundo e recebeu mais de sete milhões de visitantes.

Cerca de 400 voluntários de mais de 60 países servem a bordo. A entrada custa R$ 5 por pessoa, sendo grátis para crianças menores de 12 anos e idosos acima de 60 anos. No dia 19, o horário de funcionamento será das 14h às 20h. Nos demais dias, terças, quartas e quintas-feiras, de 10h às 20h; sextas e sábados, de 10h às 21h; domingos, das 14h às 21h. Na segunda-feira não haverá funcionamento. Depois do Rio, a embarcação seguirá para as cidades de Vitória (de 9/10 a 22/10), Salvador (de 24/10 a 12/11) e Belém (de 18/11 a 6/12).