Rio de Janeiro - RJ  - 09/09/2019 - Rodoviarios vitimas de violencia no trabalho - na foto, motorista da linha 397, circulando pela Avenida Brasil, area com maior indice de violencia contra a categoria -  foto: Reginaldo Pimenta / Agencia O Dia - Reginaldo Pimenta / Agencia O Dia
Rio de Janeiro - RJ - 09/09/2019 - Rodoviarios vitimas de violencia no trabalho - na foto, motorista da linha 397, circulando pela Avenida Brasil, area com maior indice de violencia contra a categoria - foto: Reginaldo Pimenta / Agencia O DiaReginaldo Pimenta / Agencia O Dia
Por Thuany Dossares
Rio - Motoristas de ônibus e cobradores que trafegam pela Avenida Brasil têm desenvolvido problemas psicológicos após sofrerem episódios de violência, como assaltos e ameaças, durante o trabalho. Segundo o Sindicato dos Motoristas e Cobradores do Rio de Janeiro (Sintraturb-Rio), o número de profissionais traumatizados chamou atenção da entidade, que irá oferecer, a partir do próximo mês, atendimento psicológico para a categoria. De acordo com levantamento do órgão, seis das linhas mais atacadas por criminosos na cidade cortam a via, que liga a Zona Oeste ao Centro — mensalmente, cerca de 26 rodoviários pedem para suas empresas os troquem de trajeto.
Segundo o sindicato, as linhas mais atacadas são 790 (Campo Grande-Cascadura), 399 (Pavuna-Centro), 397 (Campo Grande-Tiradentes), 614 (Nova América-Alvorada) e 348 (Rio Centro-Candelária). O levantamento foi feito através de relatos dos rodoviários que procuram a entidade para comunicar as agressões sofridas. "Passar na Avenida Brasil se tornou loteria para a gente. Converso com outros colegas e sempre ficamos sabendo de ônibus assaltados, com bandidos armados. Trabalho com medo, apreensivo, me tornei um cara bem mais estressado", desabafou o rodoviário X, de 29 anos, que preferiu não se identificar, durante viagem feita pelo DIA no ônibus da linha 397.
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Rio de Janeiro - RJ - 09/09/2019 - Rodoviarios vitimas de violencia no trabalho - na foto, motorista da linha 397, circulando pela Avenida Brasil, area com maior indice de violencia contra a categoria - foto: Reginaldo Pimenta / Agencia O Dia Reginaldo Pimenta / Agencia O Dia
Segundo o sindicato, as linhas mais atacadas são 790 (Campo Grande-Cascadura), 399 (Pavuna-Centro), 397 (Campo Grande-Tiradentes), 614 (Nova América-Alvorada) e 348 (Rio Centro-Candelária) Reginaldo Pimenta / Agencia O Dia
Ponto final da linha 397, na Avenida Presidente Vargas, no Centro da cidade: relatos de violência Reginaldo Pimenta / Agencia O Dia


O motorista, que está na profissão há quase três anos, já foi vítima de um assalto. Segundo ele, os pontos mais críticos da Avenida Brasil ficam entre as passarelas cinco e sete, na altura do Caju, Vila do João e Timbau, respectivamente. Os últimos dois pontos margeiam comunidades do Complexo da Maré. O profissional informou ainda que o tipo de abordagem dos criminosos costuma ser parecida e que ele e seus colegas adotaram algumas precauções para tentar não serem vítimas dos bandidos.
"A maioria dos assaltos é cometida por mais de um criminoso. Eles costumam estar em três, entram de mochila, estão de boné. Quando a gente vê esse perfil, já fica logo com medo e, às vezes, passamos até do ponto, não paramos por medo. Acontece também de, em determinado horário, a gente não parar nesses pontos que são mais perigosos. Outro problema é a saída de bailes. Já aconteceu de bandido ir no meio da rua e interceptar o ônibus para entrarem várias pessoas por trás", contou o rodoviário da linha 397.

Sindicato terá atendimento psicológico a partir de outubro

O número de queixas de motoristas sobre insegurança e o trauma gerado pela violência fez com que o Sindicato dos Motoristas e Cobradores do Rio de Janeiro (Sintraturb-Rio) realizasse um projeto para oferecer atendimento psicológico à categoria. O serviço começará a ser prestado em outubro, na sede da entidade, na Rua Camerino, 66, no Centro. Para mais informações sobre agendamentos de consulta, o rodoviário pode ligar para (21) 2524-8026.

"Infelizmente, esse tipo de delito vem aumentando descontroladamente. Para nós, somente a colocação de câmeras nos ônibus não é suficiente", disse o presidente do sindicato Sebastião José.

Em nota, a Rio Ônibus, sindicato que representa as empresas, garantiu que as viações têm o compromisso em prestar atendimento aos funcionários vítimas da violência, oferecendo acompanhamento psicológico gratuito no Serviço Social do Transporte e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (SEST/SENAT). "Além do encaminhamento da empresa, os motoristas também podem procurar diretamente uma unidade do SEST/SENAT. Basta levar carteira de trabalho e agendar atendimento psicológico", informou a Rio Ônibus.

Ameaças constantes de bandidos

No trajeto da linha 348, entre Riocentro e Candelária, a violência sofrida pelos rodoviários já é outra. No caminho entre os dois pontos finais, o coletivo passa também pela Cidade de Deus, que tem o tráfico de drogas gerenciado pelo Comando Vermelho; e pela Gardênia Azul, que tem o território controlado pela milícia, segundo a Polícia Militar. Os motoristas dessa rota contam que não sofrem com assaltos, entretanto, são constantemente ameaçados por bandidos. "Isso afeta nosso psicológico. Como agir normalmente com um bandido me ameaçando com um fuzil?", declarou um condutor.
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A incidência desse crime é tão grande, que um motorista afirmou já encarar ameaças de morte como algo normal em seu dia a dia: "Já recebi diversas ameaças, se eu fosse parar de trabalhar por conta disso, já tinha pedido demissão. Passamos pela Cidade de Deus, pela Gardênia, então somos ameaçados por criminosos quase sempre, já virou algo normal, para mim", narrou um condutor do 348.

Os motoristas afirmam que o que gera um pouco a sensação de alívio são as abordagens e revistas de PMs nos coletivos. "Às vezes, eles param os ônibus e entram para revistar os passageiros. Se acharem que tem alguém suspeito abordam", finalizou.