Carlos Bolsonaro - Dida Sampaio / Estadão Conteúdo
Carlos BolsonaroDida Sampaio / Estadão Conteúdo
Por Maria Luisa de Melo
Carlos Bolsonaro (PSC) pediu, ontem, nova licença sem rendimentos da Câmara de Vereadores do Rio. Desta vez, para acompanhar o pai, que se recupera de nova cirurgia em São Paulo. Mas o 02 do presidente Jair Bolsonaro está aproveitando o tempo de afastamento das atividades no Palácio Pedro Ernesto para polemizar nas redes sociais.

Uma postagem feita na segunda-feira à noite no Twitter com questionamento à democracia despertou reações negativas até mesmo no governo. "Por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos", tuitou.

Após repercussão negativa da declaração, voltou ontem às redes sociais para tentar se defender. "Por vias democráticas as coisas não mudam rapidamente", se justificou. Em seguida, passou a atacar os veículos de comunicação. "O que jornalistas espalham: Carlos Bolsonaro defende a ditadura. Canalhas!", tuitou.

Ontem à noite, fez mais um ataque voltado aos seus críticos. "Seus lixos, sabemos qual o intuito de vocês e o que querem. Não tenho medo algum diante de mais uma investida desonesta vindo de quem vem! Não transformarão o Brasil numa Venezuela!".


Não sai do celular

A postura não surpreende seus colegas na Câmara. Carlos Bolsonaro é conhecido por dividir a sua atenção entre as sessões e o seu smartphone. Os registros no site da Câmara atestam isso. Neste ano, Carlos Bolsonaro apresentou apenas um projeto de lei, em documento assinado com outros cinco vereadores. A maioria das 23 indicações legislativas foi para podas de árvore.

Para os colegas, Carlos Bolsonaro coloca as discussões que envolvem o governo federal à frente das suas atribuições na Casa e interage pouco com os colegas. "Ele sempre se incomodou muito com a resistência ao governo do pai dele", analisou o vereador Alexandre Isquierdo (DEM).

O vereador Reimont (PT) endossou as críticas às últimas postagens nas redes sociais. "O governo bolsonarista tem rompido com o pacto democrático. A declaração de Carlos soou como uma apologia à ditadura", argumentou.

Segundo o artigo 11 do regimento interno da Câmara Municipal, Carlos Bolsonaro só será substituído pelo suplente se ficar de licença por mais de 120 dias.

O posicionamento de Carlos Bolsonaro repercutiu negativamente até dentro do governo. Antigo alvo dos ataques de Carlos, o presidente em exercício Hamilton Mourão reforçou a importância da democracia. "Fundamental. São pilares da civilização ocidental. Vou repetir para vocês. Pacto de gerações, democracia, capitalismo e sociedade civil forte. Sem isso, a civilização ocidental não existe".

O deputado federal Rodrigo Maia, presidente da Câmara, também criticou a postura de Carlos Bolsonaro. "Uma declaração que não cabe num país democrático. Frases como essa devem colaborar com a insegurança de empresários. Vai contra a democracia liberal e gera danos na confiança do país". Davi Alcolumbre (DEM-AP), presidente do Senado, elevou o tom das críticas. "Trabalhamos a favor do Brasil. Então, uma manifestação ou outra em relação a este enfraquecimento tem o meu desprezo".

Críticas até no partido

Houve críticas até entre os integrantes do partido do vereador. "Para o PSC, a democracia é o único regime que conduzirá o nosso país ao desenvolvimento. Liberdade econômica combinada com o respeito aos direitos individuais e coletivos, além do respeito aos valores cristãos é o caminho defendido pelo PSC", postou o Pastor Everaldo, presidente do partido.

Wilson Witzel, governador do Rio, reforçou a defesa à democracia. "É uma declaração infeliz, que deve ser reconsiderada", disse.

O advogado Felipe Santa Cruz, presidente da OAB, lamentou o posicionamento. "Não há como aceitar uma família de ditadores. É hora dos democratas do Brasil darem um basta. Chega", disse à Folha de S. Paulo.

Em nota, o PSDB afirmou que "figuras autoritárias insistem em transformações que não sejam pelas vias democráticas".