Bandidos fugiram por região de mata da comunidade - Reprodução / TV Globo
Bandidos fugiram por região de mata da comunidadeReprodução / TV Globo
Por Bruna Fantti e Thuany Dossares
As chocantes imagens de bandidos armados até os dentes fugindo pela mata relembraram um passado recente, no qual o Rio estava esperançoso no combate à violência. Mas se em 2010 o tráfico do Complexo do Alemão bateu em retirada, com o rabo entre as pernas, ao ver o cerco das Forças Armadas e a consequente instalação da UPP; ontem o bando da Cidade de Deus apenas trocou de esconderijo, antes de reocupar, após a saída da PM, o espaço que chama de seu na comunidade. Nove anos depois, se as imagens do Globocop são quase iguais, a esperança vai de mal a pior.

A rotina de guerra na Cidade de Deus é assustadora: a cada 36 horas, pelo menos um tiroteio leva pânico a quem mora na comunidade. De acordo com a plataforma ‘Onde Tem Tiroteio?’, do dia 1º de janeiro até ontem foram registradas 152 trocas de tiros na comunidade. Mais do que o medo, as ações afetam a rotina. Trabalhadores ficam sem poder sair de casa para seus empregos, aulas são canceladas e estudantes não vão à escola. Até mesmo o simples ato de dormir é prejudicado pelo medo.

“Eu, minha filha e meu neto dormimos no chão da sala, por medo de balas entrarem no quarto e nos atingirem na cama. Em dias mais críticos, nem na sala ficamos, vamos para o corredor do prédio. Na
verdade, a gente já nem dorme direito mais, porque a polícia tem entrado de madrugada também. Muitas vezes a gente não consegue nem sair de casa pela manhã, mas, mesmo quando conseguimos, como é que se trabalha, como estuda, tendo dormido mal, estando com medo, preocupado?”, questionou uma faxineira que mora na comunidade.

Desiludida com o que tem vivido, ela conta que, por chegarem atrasados ao trabalho por causa dos tiroteios, é comum moradores da Cidade de Deus perderem seus empregos. Segundo o ‘Onde Tem Tiroteio?’, este mês a média de confrontos armados na comunidade está sendo de um por dia: 11 tiroteios em 11 dias.
Operações
Segundo o Observatório da Segurança do Rio de Janeiro, no Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, pelo menos 31 ações foram realizadas na comunidade apenas este ano. As incursões são marcadas por trocas de tiros que assustam os moradores, que ficam no meio do fogo cruzado entre criminosos e policiais. O laboratório de dados ‘Fogo Cruzado’ apurou que pelo menos 60 desses tiroteios tiveram a presença de agentes do Estado. Ainda segundo a plataforma, do início do ano até ontem, dia 11 de setembro, 37 pessoas foram baleadas na Cidade de Deus, com 16 mortes. No mesmo período de 2018, o ‘Fogo Cruzado’ contabilizou 22 vítimas de projétil de arma de fogo, sendo 10 fatais.

Questionada sobre as tão frequentes operações na Cidade de Deus, realizadas por unidades especiais da Polícia Militar e pelo 18º BPM (Jacarepaguá), a corporação se limitou a confirmar as ações. Ontem, a incursão terminou com um morto e dois presos.