Rio - Motorista de aplicativo desde 2018, Marcela Andrade, de 27 anos, sofreu com assédios e até com um assalto cometido por homens. Decidida a não mais transportar passageiros adultos do sexo masculino, em março passado a jovem decidiu criar a Femi, empresa de transporte executivo exclusivo para as mulheres na Ilha do Governador, na Zona Norte.
"Estava sofrendo muito com passageiros homens. Uma vez, eu peguei um casal de passageiros, em Niterói, e o cara com a esposa do lado estava me mandando mensagens pelo aplicativo, mandando o número dele, dando em cima de mim. Fiquei muito desconfortável", contou Marcela.
A jovem revela que se tornou motorista de aplicativos após ser demitida de seu antigo emprego de maquiadora, no retorno de sua licença maternidade. Com um filho pequeno para criar, a jovem tinha a necessidade de trabalhar e viu o serviço como uma boa alternativa. Mas, no último Carnaval, Marcela novamente foi vítima de outro assédio e, na ocasião, ainda foi assaltada.
Femi, o transporte voltado exclusivamente para mulheres na Ilha.#ODia pic.twitter.com/1xAJiFYKaA
— Jornal O Dia (@jornalodia) September 22, 2019
"Peguei uma corrida da Avenida Brasil, no Parque União, para Copacabana, com um cara muito estranho. Eu me tremi o caminho inteiro. Ele foi me fazendo perguntas e elogios, oferecendo coisas, e, no final, ele ainda roubou meu celular", relembra a jovem.
Marcela, então, decidiu criar o Femi, em parceria com a mãe Verônica e mais uma amiga. Atualmente, a empresa conta com 42 motoristas cadastradas e mais de cinco mil passageiras, divididas em 20 grupos de WhatsApp. Mesmo existindo restrições quanto ao transporte de pessoas do sexo masculino, existe a exceção para os que acompanham as mulheres solicitantes.
Ilha do Governador
Marcela Andrade lembra que mo início de sua trajetória como motorista de aplicativo, ela morava no bairro de Itaipuaçu, em Maricá. Mas por ser nascida e criada na Ilha do Governador, onde voltou a morar, ela preferiu realizar seu projeto lá pelo bairro da Zona Norte carioca.
Segundo a jovem, o Femi começou com uma postagem em um grupo de Facebook de moradores do bairro, onde ela deixou os números de telefone para contato e disse que só iria transportar mulheres e crianças. No mesmo dia da publicação, a ideia virou um sucesso. "No primeiro dia eu já tinha três grupos no WhatsApp, todos cheios com as 257 pessoas, que é o limite de integrantes de um grupo", revelou.
Também no primeiro dia, a empresa ganhou mais quatro motoristas. Em pouquíssimo tempo, Marcela começou a ser procurada por mais mulheres que queriam trabalhar no Femi. "Algumas eram passageiras e agora trabalham comigo", complementou.
Segundo Marcela, o lucro adquirido pelas condutoras varia de acordo com o tempo que elas trabalham. Mas, pelo menos, R$ 100 por dia são conquistados sem dificuldade. "Tenho uma menina aqui que pega firme no grupo, ela já chegou a tirar R$ 700 num dia, mas a média é de uns R$ 300", garantiu.
Um exemplo de passageira que virou motorista é Juliana Barbosa, de 34 anos. Ela conheceu o Femi através de uma amiga, depois de contar que suas filhas, de 16 e 20 anos, foram assediadas por um motorista de aplicativo na volta de uma festa. Juliana entrou num dos grupos de WhatsApp como cliente e hoje é uma das 42 motoristas coordenadas por Marcela.
"Como mãe, me sinto muito mais tranquila sabendo que minhas filhas estão viajando com motoristas mulheres. E como mulher também me sentia mais segura. Agora como motorista, o fato da gente só levar mulher, nos deixa mais tranquilas para trabalhar à noite", explicou Juliana.
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