Rio, 22/09/2019, Enterro da menina Agatha no Cemiterio de Inhauma zona norte do Rio, na foto os pais Adegilson Felix e Vanessa Francisco, foto de Gilvan de Souza / Agencia O Dia - Gilvan de Souza / Agencia O Dia
Rio, 22/09/2019, Enterro da menina Agatha no Cemiterio de Inhauma zona norte do Rio, na foto os pais Adegilson Felix e Vanessa Francisco, foto de Gilvan de Souza / Agencia O DiaGilvan de Souza / Agencia O Dia
Por Aline Cavalcante
Rio - Parentes e amigos se despediram de Ágatha Vitória Sales Félix, de 8 anos, na tarde deste domingo, no Cemitério de Inhaúma, na Zona Norte do Rio. A menina foi morta depois de ser atingida com um tiro nas costas de fuzil dentro da Kombi em que estava com a mãe, na Fazendinha, no Complexo do Alemão. No velório, o clima era de tristeza e revolta. Centenas de pessoas acompanharam o cortejo e esbravejavam "Witzel, assassino", "polícia assassina" e "Queremos paz".
"Perdi um neto, Paulo Henrique, há dois anos, um menino lindo que tinha só 13 anos. Ele foi alvejado por policiais em uma operação. Me pergunto até quando inocentes vão morrer. Os moradores da comunidade são tratados como bandidos, os policiais não têm nenhum respeito por nós. Aconteceu com meu neto, outros morreram depois, agora a Ágatha. Quando isso vai mudar?", questionou Marinete Martins, 63, moradora da localidade Alvorada.
Publicidade
O pai e a mãe de Ágatha seguiram o cortejo em silêncio. A mãe segurava uma boneca da turma da Mônica que era da menina. O tio, contou que ela estava ensinado inglês a ele. "Eu, com 28 anos, e ela estava me ensinando inglês. Peço que orem para que esta violência acabe e nenhuma família seja destruída como a minha está", disse Cristian Sales.
Emocionado, o avô de Ágatha, Ailton Félix, pediu justiça para a neta. "Alguém tem que acabar com isso. Uma criança não merece passar por isso. Um pai, um avô, uma mãe, não merecem passar por isso. Mataram uma inocente, uma garota inteligente, estudiosa, obediente, de futuro. Cadê os policiais que fizeram isso? A voz deles é a arma. A da minha neta era o lápis e um caderno. Ela fazia balé, fazia inglês, era uma filha exemplar. Até quando o governo vai acabar com as famílias? Até quando isso vai acontecer?", questionou, diante do caixão".
Publicidade
Ágatha era filha única. Sonhava em ser bailarina. Era estudiosa e não gostava de tirar notas baixas.

Galeria de Fotos

Boneca foi levada para lembrar a menina Gilvan de Souza / Agencia O Dia
Sepultamento foi marcado por grande comoção Gilvan de Souza / Agencia O Dia
Sepultamento foi marcado por grande comoção FOTOS Gilvan de Souza
Sepultamento foi marcado por grande comoção Gilvan de Souza / Agencia O Dia
Parentes e amigos protestaram pela morte da menina Gilvan de Souza / Agencia O Dia
Parentes e amigos protestaram pela morte da menina Gilvan de Souza / Agencia O Dia
Sepultamento foi marcado por grande comoção Gilvan de Souza / Agencia O Dia
Sepultamento foi marcado por grande comoção Gilvan de Souza / Agencia O Dia
Sepultamento reuniu centenas de pessoas Gilvan de Souza / Agencia O Dia
Parentes e amigos protestaram pela morte da menina Gilvan de Souza / Agencia O Dia
Parentes e amigos protestaram pela morte da menina Gilvan de Souza / Agencia O Dia
Publicidade
Manifestações
Antes do enterro de Ágatha Félix, atos simbólicos aconteceram em direção ao cemitério, onde outros parentes e pessoas próximas da família velavam o corpo dela. Durante o protesto algumas pessoas deram as mãos e fizeram juntas uma oração. Além disso, os manifestantes seguraram balões coloridos, como uma referência a uma foto da menina, em que ela aparece com bexigas amarelas numa festa.
Publicidade
O ator Fabio Assunção, que acompanhou a manifestação, cobrou inteligência por parte das policias para que mortes de inocentes sejam evitadas. "Estou prestando solidariedade, luto. Não tem como ser diferente. A sociedade tem que estar presente, eu vim fazer parte disso. Isso tem que mudar. Eu tenho uma filha de 8 anos. Diariamente estamos vivendo coisas que são impensáveis. Tem que ter inteligência na polícia para evitar morte de inocentes. Todos estão perdendo com isso.
O protesto também contou com a participação de mototaxistas do conjunto de favelas do Complexo do Alemão. "Que não venha a ser só mais uma estatística. Tem que acabar essas injustiças. Os responsáveis podem mudar essa situação", cobrou o motociclista Marcos Henrique Nascimento Lopes, 39.
Publicidade
Perícia e balística
A família aguardou ao longo de todo o sábado a liberação do corpo da menina do Instituto Médico Legal, pois passaria por um scanner corporal – um equipamento semelhante ao utilizado em aeroportos, que permite ver através da pele e dos órgãos –, e não tinha funcionário no plantão que soubesse mexer no aparelho.
Publicidade
"O uso do scanner foi fundamental para verificar a imagem do fragmento do projetil, que foi retirado para balística", informou o IML ao final da noite, quando o exame foi realizado e o corpo liberado.
Em nota, a Polícia Civil informou que as armas dos PMs serão enviadas para perícia, bem como o projétil extraído do corpo da vítima, para confronto balístico. Além disso, disse que novas testemunhas serão ouvidas a partir de segunda-feira - os familiares da criança já prestaram depoimento no sábado.

No decorrer dessa semana, a Polícia Civil também irá definir uma data para reprodução simulada.