Os pais de Ágatha, Adegilson Lima e Vanessa Salles Félix, estiveram ontem na Delegacia de Homicídios, na Barra da Tijuca, para depor - Reginaldo Pimenta
Os pais de Ágatha, Adegilson Lima e Vanessa Salles Félix, estiveram ontem na Delegacia de Homicídios, na Barra da Tijuca, para deporReginaldo Pimenta
Por Anderson Justino
Rio - O advogado Felipe Simão, representante de três dos oito policiais militares envolvidos na ocorrência que resultou na morte de menina Ágatha Vitória Félix, disse ontem que seus clientes afirmaram, em depoimento à Polícia Civil, que efetuaram três disparos de fuzil na noite da última sexta-feira, no Complexo do Alemão. Segundo ele, apenas dois PMs atiraram. Laudo do Instituto de Criminalística Carlos Éboli apontou que o fragmento encontrado no corpo da menina é “compatível” com o de fuzil.

A perícia, porém, aponta inconclusão para o confronto balístico e não determina de qual arma partiu o disparo. De acordo com o advogado Felipe Simão, os policiais declararam que foram atacados por um homem que estava na garupa de uma moto. Ainda segundo ele, após o primeiro disparo, traficantes atiraram na direção dos PMs. “Os disparos foram em legítima defesa, somente para cessar o ataque criminoso. Os policiais envolvidos na ocorrência são experientes, já estão há mais de um ano naquela região. Se um PM tivesse acertado a menina, a mesma não teria tronco para enterrar, pois teria levado um tiro de fuzil direto”, argumentou.

O advogado afirmou ainda que o local onde a criança foi atingida é extremamente estratégico para a PM controlar a violência da comunidade e para o tráfico tentar se movimentar. “Eles tiveram que atirar para se proteger de um ataque criminoso. Policiais estão sofrendo ataques do tráfico no local há bastante tempo, com intuito de retirar a PM dali. Ao todo, foram 11 PMs vitimados neste local covardemente. Agora o tráfico só buscou nova estratégia para retirar a polícia de lá através da mídia”, finalizou.
Laudo
Ontem, o Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) divulgou laudo realizado no fragmento encontrado no corpo de Ágatha Vitória Félix. Segundo o exame, o fragmento é “compatível” com o de fuzil. O documento, no entanto, aponta inconclusão para o confronto balístico, não conseguindo determinar de qual arma partiu o disparo que ocasionou a morte da menina. Segundo o Instituto Médico Legal (IML), a criança morreu em decorrência de lacerações no fígado, rim direito e vasos no abdômen.

Segundo o laudo do ICCE, o fragmento é “um núcleo de chumbo endurecido, desprovido do seu revestimento metálico, de formato pontiagudo originalmente, diâmetro de base prejudicado pela deformação, adequado a armas de fogo do tipo fuzil, apresentando acentuado amassamento lateral, conferindo aspecto encurvado, impregnação de material de coloração avermelhada com características similares a sangue”. O documento aponta ainda que o mesmo fragmento é “destituído de elementos técnicos para determinar calibre nominal, bem como de microvestígios de valor criminalístico, fato que o torna inviável para o exame microcomparativo”.

OAB diz que motorista de Kombi se sente ameaçado
Representante da seccional da OAB-RJ, Rodrigo Mandego disse que o motorista que conduzia a Kombi onde Ágatha Vitória Félix estava quado foi baleada relatou estar se sentindo ameaçado. O condutor do veículo prestou ontem novo depoimento na Delegacia de Homicídios da Capital (DHC).
Os pais da menina, Vanessa Salles Félix e Adegilson Lima, também estiveram na especializada para depor. Segundo Mandego, a comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ vai continuar acompanhando a família para oferecer toda ajuda jurídica necessária. O advogado acrescentou que a Ordem tenta preservar as testemunhas para que não sofram nenhum tipo de represália.

“A gente não quer expor mais detalhes por questão de segurança das testemunhas. Todas estão com bastante medo. Elas moram em uma comunidade conflagrada do Rio, sofrem opressões por todos os lados”, disse Mandego. “O motorista está se sentindo ameaçado”, acrescentou. Na tarde de ontem, familiares da menina estiveram na sede da OAB-RJ, onde foram recebidos pelo presidente Luciano Bandeira. A mãe de Ágatha, Vanessa Sales Félix, o pai, Adegilson Lima, e a tia Danielle Félix estiveram na Ordem após prestarem depoimento na Delegacia de Homicídios da Capital (DH/Capital).

“Caso alguma testemunha se sinta intimidada, vamos dar toda assistência”, afirmou Mandego.