Foto de Marcelo PQD que teria sido tirada na cela de penitenciária - Reprodução
Foto de Marcelo PQD que teria sido tirada na cela de penitenciáriaReprodução
Por Bruna Fantti
Rio - A Polícia Civil tem informações de que o traficante Marcelo Soares Medeiros, o Marcelo PQD, tenta retomar o controle do Morro do Dendê, na Ilha do Governador, utilizando chamadas de vídeo. Uma foto mostra o criminoso em uma dessas chamadas, em um ambiente que parece ser uma cela de prisão. A Secretaria de Administração Penitenciária apura a veracidade da foto. A instabilidade na comunidade é vista com preocupação pelas autoridades e, na semana passada, a violência já deixou três mortos.
Levantamento da Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos (Desarme) aponta que o Dendê possui a mesma quantidade de fuzis da Rocinha, favela na Zona Sul com território quatro vezes maior.

PQD cumpre pena no Instituto Penal Vicente Piragibe, em Bangu, em regime semiaberto. Não fica o dia inteiro dentro da cela, mas não está liberado para deixar a cadeia. A foto chegou até o setor de inteligência da Polícia Civil na semana passada, logo após três traficantes terem sido mortos dentro do Dendê, que é dominado pela facção Terceiro Comando Puro.

Os autores do crime seriam da Vila Joaniza, do Comando Vermelho, facção de PQD. Marcelo PQD é antigo desafeto de Guarabu. Em 2007, ele foi preso ao tentar invadir o morro, na época já controlado por Guarabu. Em junho deste ano, ele pediu a progressão para prisão domiciliar, mas o Tribunal de Justiça negou. Sua última manobra jurídica foi tentar um habeas corpus, também negado pelo TJ. Agora, recorre ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Em nota, a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) “está verificando a autenticidade da imagem. A cela do apenado será vistoriada e, caso seja constatada a irregularidade, este será punido disciplinarmente, podendo, inclusive, culminar na regressão do regime de cumprimento da pena”.
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Fuzis em favelas
De acordo com mapeamento da Desarme, três complexos de favelas reúnem o maior arsenal de fuzis na cidade: Maré e Alemão, na Zona Norte; e Camará, na Zona Oeste, com estimativa de até 250, 230 e 200 armas do tipo, respectivamente. Somente duas comunidades possuem valores semelhantes: Rocinha, na Zona Sul; e Dendê, na Ilha do Governador, com cerca de 200 fuzis cada uma. No total, nas favelas da cidade, há cerca de 3.500 fuzis.
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“Fizemos o levantamento com base na hierarquia do tráfico e no número de pontos de venda de drogas. Não é qualquer traficante que pode portar essa arma. Com base nessa metodologia, chegamos a essa estimativa desse tipo de arma em cada favela”, explicou o delegado Marcus Amim, titular da especializada.

Delegacia prepara operação contra armas
O titular da Desarme, delegado Marcus Amim, iniciou sua carreira na Polícia Civil como agente da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core). Enquanto agente, participou da prisão de Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, no Complexo do Alemão, em 2002.

O traficante comandava o conjunto de favelas, que tinha sido palco da execução do jornalista Tim Lopes. Da prática ao crime, agora, passou a investigar, como delegado, o tráfico, e diz que quer parar de ‘criar gelo’. “Apreender uma arma só faz com que aquele traficante compre outra, movimentando o crime.

Apreensão pura e simples da arma resulta em criar gelo, que depois deverá ser enxugado. Não que isso não seja importante, mas temos que mudar a lógica”, afirmou o delegado. Para isso, o delegado prepara uma operação para prender fornecedores e quem participa da lavagem de dinheiro do tráfico. “O foco não é em pessoas, líderes de quadrilhas ou rotas, e sim no sistema que faz funcionar essa engrenagem. Teremos prisões em breve”.

O Estado do Rio apreendeu este ano, até a sexta-feira, 400 fuzis, uma marca histórica.

‘Temos vários Lessas, aqui’, afirma delegado Amim
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A Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos também é responsável por investigar o destino dos 117 fuzis apreendidos e que seriam do PM reformado Ronnie Lessa, preso pela morte de Marielle Franco. A suspeita é a de que Lessa seria revendedor de peças para criminosos.

“Temos vários Lessas, aqui”, afirma Amim, quando indagado sobre armeiros do tráfico. “Não há uma figura de um armeiro, ou seja, uma pessoa especializada que monta armas para o tráfico. Os fuzis são montados com peças de diferentes fornecedores, e alguém com conhecimento mínimo de armas consegue montar”, explicou.

Sobre a investigação de Lessa, o delegado diz que já identificou outras pessoas que participavam do esquema de remessa das peças. Mas não quis revelar mais informações, pois as investigações correm sob segredo de Justiça.

Ronnie Lessa encontra-se em presídio federal e nega autoria na morte de Marielle e do motorista dela, Anderson Gomes. Ele também responde por tráfico de armas e de peças novas para montar fuzis.