Rio - As famílias dos dois mortos baleados no Complexo da Maré acusam a Polícia Militar de descaso. Ambos foram atingidos durante uma operação na comunidade na última sexta-feira. Pedro Sousa, de 59 anos, e Lucas Rodrigues, de 18 anos, não se conheciam, mas uma triste coincidência os uniu: foram sepultados no mesmo lugar e na mesma hora, ontem, no Cemitério do Caju, na Zona Portuária do Rio.
Moradores de regiões distintas da Maré (Parque União e Nova Holanda), eles foram baleados durante uma ação do Comando de Operações Especiais (COE) da PM. As famílias acusam a polícia de chegar atirando em ambos os casos. Lucas foi baleado na axila a caminho da padaria, onde ia comprar pão para seus oito irmãos tomarem café da manhã.
Segundo Alessandra Rodrigues, mãe do jovem, a polícia não socorreu e atrapalhou o resgate do rapaz. “A culpa é do estado, que manda a polícia entrar atirando. Meu filho não era bandido, ele vendia água, pipoca e biscoito na Linha Vermelha nos engarrafamentos. Foi atingido, morreu e ninguém sabia. Um vizinho socorreu ele, mas policiais em uma blitz seguraram o carro até a hora que ele deu o último suspiro. Nesse momento eles liberaram o carro para ir ao hospital. Disseram que com bandido tinha que ser assim, tinha que morrer”, disse.
Greice Kelly Rodrigues, tia de Lucas, contou que o caso não foi registrado. “Ninguém sabia de nada. Não registraram a morte do meu sobrinho, não fizeram perícia, não fizeram B.O., omitiram completamente o corpo dele. Ninguém entrou em contato,nada. É como se ele não tivesse existido”, contou. A família alega que a falta de comunicação da polícia e do hospital atrasou o sepultamento de Lucas em mais de 24 horas.
Segundo os parentes, o corpo ficou em uma sala apenas com ar-condicionado no Hospital Geral de Bonsucesso, sob o risco de entrar em estado de decomposição. O hospital também não informou a polícia. O imbróglio só foi resolvido após a mãe do jovem ir atrás de informações.
Os tiros sem direção também vitimaram Pedro de Sousa, conhecido como Seu Pedro, de 59 anos. Ele estava saindo de casa e voltando para sua barbearia, que funciona há 20 anos na Maré. Pedro foi atingido por duas balas, uma no pescoço e outra no peito, por volta das 16 horas. A filha Ienne Macedo de Sousa, de 31 anos, conta que a polícia não prestou socorro.
“A polícia não tentou socorrer ele. Quando fomos no blindado da PM que estava próximo, os policiais fizeram descaso, falaram que não sabiam de nenhum corpo e que haviam acabado de chegar ali. Praticamente nem ouviram o que a gente tinha para falar. Quem ajudou foram as assistentes da ONG Rede da Maré, que ficaram conosco até o final, tentando ajudar nos trâmites para a retirada do corpo”, reclamou afilha.
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