Rio - As videntes que foram denunciadas por estelionato e associação criminosa, semana passada, após investigação da 19ª DP (Tijuca), já atuam há pelo menos 12 anos na cidade do Rio praticando o mesmo golpe. É o que aponta levantamento realizado pelo DIA no Tribunal de Justiça. Inclusive, em 2009, uma das estelionatárias chegou a ser mencionada na capa do jornal 'Meia Hora', com a manchete "Polícia caça vidente 171 da Tijuca: cigana de araque tomou R$ 25 mil de velhinhos".
Conforme O DIA noticiou, a polícia concluiu que um grupo de mulheres de um centro místico na Rua Pereira Nunes aplicou golpes que atingiram a cifra de R$ 300 mil. Os alvos eram principalmente idosos, que tiveram as economias de uma vida inteira esvaziadas. Seja por convencimento pela promessa de cura de um parente, ou por coação, as vítimas repassavam todo o dinheiro e joias. Até o momento, já são rés Maria Cristina do Nascimento, Inaiara Lúcia Farias Gonçalves e Merian Greco Petrovich.
"Estamos investigando outros integrantes do mesmo grupo e, em breve, teremos novas denúncias", afirmou a delegada Cristiana Bento, que conduziu o inquérito. Ela chegou a pedir a prisão das três acusadas. O Ministério Público, porém, opinou a favor, mas o Tribunal de Justiça indeferiu. "É muito difícil conseguir prisão por estelionato", lamentou a delegada.
Condenação
Em 2018, o desembargador João Ziraldo Maia manteve a condenação de Merian Petrovich após ela convencer uma idosa a sacar o total de R$ 250 mil, crime ocorrido em 2012. Segundo o desembargador, com ajuda de Maria Cristina Nascimento, ela disse que iria "limpar o dinheiro da vítima e depois devolver (o que nunca ocorreu), aproveitando-se da boa-fé e crença religiosa da mesma". A vítima foi uma idosa de 76 anos.
Merian foi condenada a um ano e meio de prisão em regime aberto, pena convertida em prestação de serviços. Para o golpe, ela se identificou como Mãe Lalita, enquanto Maria Cristina era a Mãe Samira. Neste caso, a acusação contra Maria Cristina prescreveu. O dinheiro nunca foi recuperado.
A primeira denúncia de estelionato contendo o nome de Merian Petrovich, atuando como mãe Lalita, data de 2007. A vítima a acusou de ter perdido R$ 10 mil em troca de seus trabalhos. O processo foi suspenso após acordo entre as partes. Há também um Registro de Ocorrência com o nome de Merian, na 19ª DP (Tijuca), de 2008, com a queixa de um suposto golpe no valor de R$ 23 mil em outra idosa, de 80 anos.
Merian chegou a telefonar para a redação do DIA e afirmar que não era estelionatária. As outras rés não foram encontradas, pois o centro mediúnico na Rua Pereira Nunes foi fechado.
Na semana passada, outros três golpes foram denunciados envolvendo o nome de Maria Cristina Nascimento. Um deles é o de uma idosa de 73 anos, que perdeu R$ 237 mil. Nele, Inaiara Lúcia, também denunciada, chegou a dizer "vá embora e não olhe para trás", após sair da agência bancária com o comprovante de transferência. "Estava com medo, mas me senti hipnotizada. Não lembro de nada", afirmou a vítima.
Em outro, um rapaz de 30 anos, que tentava reconquistar uma pessoa, perdeu R$ 2,7 mil. O terceiro é de uma idosa de 76 anos que, ao perder todas as joias para as videntes que prometiam curar o neto, tentou reaver seus pertences com o uso de um revólver. De vítima passou a ser ré, sendo presa acusada de sequestro. Atualmente, ela responde em liberdade.
'Se contasse, muita gente iria morrer', relatou vítima
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