Zeca com os netos Noah e Catarina e a filha caçula Maria Eduarda: 35 anos de tradiçãoLouiz da Silva / Divulgação
Por MARIA INEZ MAGALHÃES
Rio - Todo ano é o mesmo ritual. Há 35 anos. No dia 26 de setembro, Zeca Pagodinho senta com a família para preparar os saquinhos de Cosme e Damião. Faz parte da crença e da tradição do cantor distribuir doces para as crianças no dia 27. Hoje, Zeca tem um pedido especial aos santos: proteção contra a violência que assola o Rio e que faz de crianças e adolescentes vítimas frequentes.

“Estamos mais um ano aqui, homenageando São Cosme e São Damião, e pedindo a eles saúde e muita proteção pras nossas crianças que tanto têm sofrido com a violência”, clama Zeca, que hoje vai distribuir 500 saquinhos pela Barra e no entorno, como no Terreirão.

Zeca é um na enorme legião de devotos dos santos. Assim que setembro começa, fiéis da Igreja Católica e de religiões de matriz africana iniciam as celebrações a São Cosme e São Damião, patronos dos médicos e farmacêuticos. Comemorado no dia 26 pelos católicos, desde a reforma litúrgica, e no dia 27 pelos seguidores do Candomblé, Xambá e Umbanda, milhares de pessoas procuram as igrejas para pedir cura para doenças e realizações pessoais. Este ano, também houve pedidos de proteção contra a violência.

“As pessoas costumam vir para pedir a cura para doenças, emprego, para ajudar com algum desespero que a família esteja passando, até pessoas para curar problemas emocionais”, diz o padre Rhawny, da Paróquia de Cosme e Damião, no Andaraí, Zona Norte do Rio.

A Paróquia tem realizado novenários e missas em homenagem a Cosme e Damião desde o dia 17. Hoje, haverá missas de hora em hora, a partir das 6h, e a tradicional procissão, às 16h.

TRADIÇÃO DOS DOCES
Além dos pedidos de cura e proteção, outra tradição é a distribuição de doces a crianças. O costume veio das religiões afro-brasileiras. Os Ibejis são os orixás amigos das crianças, conhecidos por levar bem-estar, desfazer feitiços, curar enfermidades e adorar doces.

“Fiz uma promessa e, há sete anos, distribuo doces para crianças. E sempre os doces tradicionais, saquinho de São Cosme e Damião tem que ser tradicional, com bananada, paçoca, pé de moleque”, conta a aposentada Isabel Cristina, de 60 anos.

Na Igreja Católica, os gêmeos Cosme e Damião eram médicos de profissão e reconhecidos por suas habilidades. Eles também foram missionários e uniram suas orações com ciência, espalhando saúde para o corpo e a alma de muitas pessoas. Viveram na Ásia até a perseguição de Diocleciano, no ano 300 da Era Cristã.

Samba com distribuição de doces no Morro do Pinto
A Quadra do Bloco Independente do Morro do Pinto, na Zona Portuária, será palco de uma festa para as crianças, que terá distribuição de brinquedos e doces. A ação programada para amanhã, a partir das 16h, será em comemoração a Cosme e Damião, comandada pelo sambista Enzo Belmonte.

Ele vai juntar a roda de samba, que comanda uma vez por mês na quadra do local, e a festa. “Essa data é cheia de axé, luz e paz. Ela representa muito mais do que os santos, mas a força das crianças”, diz Belmonte.

Segundo o sambista, quando criança, ele costumava pegar doces de São Cosme e Damião no Morro do Pinto e no Caju. “As crianças também estão sempre presentes nas rodas de samba me perguntando como é cantar e tocar um banjo. A roda de samba e o dia de São Cosme Damião fazem parte da minha essência”, completa Belmonte.

A roda de samba está marcada para começar às 19h. O artista será acompanhado pela banda Santo Samba e terá no repertório as músicas do novo álbum, ‘Trovador Urbano’. Além de sambas inéditos, Enzo Belmonte vai relembrar clássicos de Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, Dona Ivone Lara, Noel Rosa e Cartola.

Colaborou Rachel Siston