De máscara, testemunha relata a policiais, durante reconstituição do crime, tudo o que ocorreu na noite em que a menina Ágatha foi morta - DANIEL RAMALHO / AFP
De máscara, testemunha relata a policiais, durante reconstituição do crime, tudo o que ocorreu na noite em que a menina Ágatha foi mortaDANIEL RAMALHO / AFP
Por O Dia
Rio - A Polícia Civil e a Corregedoria da Polícia Militar vão apurar a informação de que um grupo de policiais militares, entre 10 e 20 homens, invadiu o Hospital Getúlio Vargas, na Penha, após a morte da estudante Ágatha Félix, de 8 anos. O grupo teria exigido dos funcionários do hospital a entrega da bala que matou a criança. Logo após a denúncia ter sido publicada, ontem, pelo site da revista Veja, o governador do Rio, Wilson Witzel, anunciou pelo Twitter que tudo será apurado “com rigor”.

A revelação sobre a invasão foi feita a policiais civis por integrantes da equipe de médicos e de enfermeiros de plantão no hospital. Ainda conforme a revista, os médicos se recusaram a entregar a bala, e os policiais foram embora. Só um fragmento do projétil foi encontrado pelos médicos. O material foi encaminhado à Polícia Civil, que concluiu não ser possível compará-lo com as armas dos policiais que estavam patrulhando a região no momento da morte da criança, pois foi encontrado apenas um fragmento deformado.

“Sobre a informação de que policiais militares teriam tentado pegar a bala que atingiu a menina Ágatha, minha posição é firme: tudo será apurado com rigor. Os fatos, se comprovados, são inadmissíveis. Os culpados serão punidos”, publicou Witzel em seu perfil no Twitter.

A Delegacia de Homicídios estaria tentando convencer os integrantes da equipe médica a prestar depoimento sobre a invasão. Os profissionais têm medo de sofrer represálias. Ágatha foi morta por uma bala perdida quando estava em uma Kombi, acompanhada da mãe, no último dia 20.

Testemunhas alegam que o tiro foi disparado por algum dos policiais militares que patrulhavam a região. A PM diz que havia um tiroteio entre os agentes e criminosos. Uma moto passava pelo local no momento do disparo, e policiais alegam que o homem que ocupava a garupa atirou contra eles. Testemunhas negam que estivesse havendo tiroteio.

Um laudo do Instituto de Criminalística Carlos Éboli indicou que o fragmento de projétil encontrado no corpo da menina é compatível com munição de fuzil. O tiro entrou pelas costas da criança e causou ferimentos no fígado, no rim direito e em vasos do abdômen. A Polícia Militar, normalmente, usa dois tipos de calibre de fuzil: 762 ou 556. A Polícia Civil já fez a reconstituição do crime. Oito testemunhas participaram da reprodução simulada. A maioria dos 11 policiais que estavam no local no dia da morte não quis participar. Porém, dois agentes estiveram presentes no Complexo do Alemão. Eles haviam socorrido a menina.

Próximo ao local em que ocorreu a tragédia, um poste apresentava sinais de disparo de arma de fogo. A polícia trabalha com a hipótese de que um dos PMs que participou da simulação, e até passou mal na hora, tenha dado o tiro fatal.

Homenagem em show no Rock in Rio
A menina Ágatha Félix teve sua foto projetada durante uma homenagem às mulheres, no show de Francisco, El Hombre e Monsieur Periné, grupo formado por mexicanos e brasileiros, no palco Sunset, ontem à tarde, no Rock in Rio. A vereadora Marielle Franco, vítima de assassinato, também foi uma das homenageadas durante o show.

Ágatha e as outras mulheres foram lembradas enquanto era entoada a música “Triste, louca ou má”. Esse foi considerado o momento mais emocionante da apresentação. O show foi marcado pelas manifestações em prol da Amazônia, das mulheres e contra o presidente Jair Bolsonaro.

Também foi cantada a música “Calor da rua”, com direito à abertura da bandeira do Movimento dos Sem Terra. A apresentação acabou convertida em manifestação política, com a adesão em peso da plateia.