Ex-subsecretário de Obras de Nova Iguaçu Jeferson Ramos foi preso em flagrante por porte ilegal de arma em ação contra milícia de Austin, Nova Iguaçu - Reprodução
Ex-subsecretário de Obras de Nova Iguaçu Jeferson Ramos foi preso em flagrante por porte ilegal de arma em ação contra milícia de Austin, Nova IguaçuReprodução
Por O Dia

Rio - A um ano das eleições municipais, investigações da Polícia Civil apontam para a criação de novos e grandes currais eleitorais formados pela aliança entre milicianos e políticos da Baixada Fluminense. O objetivo, segundo a polícia, é garantir territórios, na base do medo e da intimidação, para eleger vereadores no ano que vem. O esquema vem sendo importado da Zona Oeste, onde a Liga da Justiça e outras quadrilhas estabeleceram seus colégios eleitorais e elegeram, pelo menos, dois deputados estaduais e dois vereadores.

Na manhã de ontem, a Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) prendeu Jefferson Ramos, ex-subsecretário de obras de Nova Iguaçu, durante uma operação para cumprir mandados de busca e apreensão em endereços ligados à milícia que atua no bairro de Austin, em Nova Iguaçu. Segundo o diretor da especializada, Moyses Santana, o político é pré-candidato a vereador para a corrida de 2020.

A DHBF chegou até o endereço de Jefferson Ramos após descobrir, segundo a polícia, a estreita relação dele com o principal suspeito de liderar a milícia de Austin, Marcos Antônio dos Santos Amaral, o Marquinho Alemão, que também foi preso na operação. Ainda de acordo com a investigação policial, essa relação de Marquinho Alemão com políticos de Nova Iguaçu era o que lhe dava mais força dentro da organização criminosa. O grupo seria responsável por, pelo menos, 20 homicídios na região no período de um ano.

"Com certeza o Marquinho Alemão é um dos líderes da milícia de Austin e tem uma estreita relação com o outro preso, o Jefferson Ramos, que é pré-candidato a vereador de Nova Iguaçu e já foi subsecretário de Obras. Eles têm uma relação forte e, por isso, por ter essa bagagem política, que o Marcos Alemão é um dos líderes dessa organização criminosa. O político não era alvo da investigação até o momento, mas como havia essa relação, pedimos o mandado de busca e encontramos uma arma. O crime dele é inafiançável", declarou Moyses Santana.

Mais operações

De acordo com o delegado, mais do que interesse financeiro, o principal motivo pelo qual políticos vem se aliando a organizações criminosas na Baixada é a conquista do colégio eleitoral, que os auxilia a ganhar mais votos. A partir da operação realizada ontem, a DHBF irá instaurar um inquérito para apurar o grupo paramilitar de Austin. Moyses Santana não descarta a possibilidade de outras pessoas ligadas à política e à prefeitura de Nova Iguaçu estarem envolvidas na organização criminosa.

Investigações começaram após dois assassinatos

As investigações da DHBF sobre a milícia que atua em Austin começaram a partir dos homicídios de Bruno Tavares Ribeiro, de 21 anos, e Maicon José Jovem de Oliveira, 26, no dia 26 de agosto. A dupla também era suspeita de integrar o grupo paramilitar e teria sido morta pelos comparsas, após desavenças internas. Bruno e Maicon estavam no Bar do Babaloo, em Austin, quando foram sequestrados. Seus corpos foram encontrados próximos do Arco Metropolitano.
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"Estamos mapeando aquela região. Com as armas apreendidas hoje nós vamos fazer o confronto balístico para atribuir a essas pessoas esses homicídios. Assim, poderemos, também, identificar todos os integrantes. Nosso principal foco hoje era levantar informações tanto da organização criminosa, quanto dos homicídios", explicou Moyses.
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Ainda segundo as investigações, a organização explorava pontos de mototáxis, gatonet e cobravam taxas de segurança. "Eles matam à luz do dia, de cara limpa. Realmente acham que são os donos do local, e as pessoas que não pagam as taxas são mortas", disse. A polícia investiga a presença de policiais ligados à quadrilha.
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Operação: 43 mandados

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A operação da DHBF foi executada para cumprir 43 mandados de busca e apreensão em endereços ligados a suspeitos de envolvimento com a milícia de Austin, em Nova Iguaçu.
 
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O sítio do ex-subsecretário Jefferson Ramos, na Estrada Carlos Sampaio, era um dos alvos. Durante a diligência, o político estava no local. Uma pistola, que a polícia afirma ser de Jefferson, foi encontrada. Ele foi autuado em flagrante por porte ilegal de arma. Além dele, seu irmão, Jorge Luiz Ramos de Oliveira, foi encontrado no sítio com um revólver calibre 38 com a numeração raspada.
 
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Apontado pela polícia como um dos líderes do grupo paramilitar, Marcos Antônio dos Santos Amaral, o Marquinho Alemão, também foi preso em flagrante, em sua casa, com um revólver calibre 38. No entanto, foi estipulada fiança em seu favor. Ele pagou e irá responder pelo crime de porte ilegal em liberdade.
 
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Uma das diligências também foi feita na casa do 2º sargento da Polícia Militar André Luiz de Mello Araujo, o Honda. Lá, agentes encontraram uma pistola 380 e uma espingarda calibre 12, ambas sem os devidos registros. O militar não estava em casa e será instaurado inquérito contra ele. O endereço de outros dois PMs também foram alvo de buscas.
 
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Liga da Justiça
 
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Preso em 2007, acusado de ser uma das lideranças da milícia da Zona Oeste conhecida como Liga da Justiça, Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho, usou de sua força para se eleger vereador do Rio de Janeiro em 2000. Seis anos depois, a organização criminosa conseguiu eleger o irmão de Jerominho, Natalino José Guimarães a deputado estadual.
 
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A filha de Jerominho, Carmem Glória Guinâncio Guimarães Teixeira, a Carminha Jerominho, também se elegeu vereadora do Rio. Natalino e Carminha também foram presos.
 
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De acordo com a denúncia do Ministério Público, o grupo cometia diversos crimes de extorsão, cobrando taxas indevidas, e usavam o símbolo do Batman para para marcar as casas e estabelecimentos comerciais que pagavam pelos seus "serviços". Ainda segundo o MP, aqueles que se recusavam a realizar os pagamentos sofriam com agressões, torturas, e alguns chegaram a ser assassinados.
 
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A Liga da Justiça atuava nos bairros da Campo Grande, Guaratiba, Paciência, Cosmos e Santa Cruz.
Pai e filha anunciaram que irão concorrer aos cargos de prefeito e vereador do Rio, respectivamente, nas eleições do ano que vem.
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