O sargento Diógenes Moreno (no alto) e o segundo tenente Sérgio Accioli estavam internados no Hospital Central da Polícia Militar, onde um andar foi adaptado para pacientes com covid-19 - Fotos: Reprodução internet
O sargento Diógenes Moreno (no alto) e o segundo tenente Sérgio Accioli estavam internados no Hospital Central da Polícia Militar, onde um andar foi adaptado para pacientes com covid-19Fotos: Reprodução internet
Por *Rachel Siston

Familiares de pacientes do Hospital Central da Polícia Militar (HCPM), no Estácio, denunciam casos de maus-tratos por parte dos funcionários e as condições precárias da unidade. Segundo a denúncia, faltam desde materiais básicos, como algodão, luvas, álcool e fraldas geriátricas, até insumos para quimioterapia.

A filha de uma paciente, que não quis se identificar, relata que, mesmo com leitos vazios, pacientes aguardam dias na sala de medicação. Segundo ela, os quartos ficariam "reservados" para dependentes de PMs com patentes mais altas. "A gente fica dias na sala de medicação com outros pacientes. Sabemos que tem quarto vago, mas as pessoas ficam dias esperando", contou.

A denunciante também relata que faltam oncologistas, psiquiatras e neurologistas. Aos fins de semana, cerca de quatro enfermeiros ficam responsáveis por, em média, 35 pacientes e não há visita médica. A maioria dos atendimentos é realizada por residentes que, segundo a denúncia, destratam pacientes e acompanhantes ao serem questionados sobre os métodos de tratamento. As queixas feitas aos médicos responsáveis pelo serviço não dão resultado. "A gente vai cansando, porque não sabe mais para quem pedir ajuda. Esperamos que se trabalhe com respeito, porque quem está ali já pagou para ser tratado dignamente, quando precisasse", lamentou a filha de um paciente.

Para completar, há falta de segurança no HCPM. Em 11 de outubro, a reportagem do DIA esteve no local e não teve a entrada impedida em nenhuma das alas nem precisou se identificar. "É muito inseguro ficar aqui, qualquer um entra e sai a hora que quer, sem ninguém perguntar nada. Aqui é um hospital onde ficam internados PMs e parentes de PMs. Se um bandido quiser entrar aqui para fazer uma maldade, vai entrar com facilidade, porque não tem controle", afirmou um paciente.

Família toma atitude após série de erros

Cada militar paga no mínimo R$ 110 para ter acesso à assistência médica da PM, e os procedimentos errados preocupam quem precisa do HCPM.

Parentes de uma idosa, que estava internada por causa de uma úlcera, contaram que nos quatro meses de internação, nenhum gastroenterologista a consultou. Ela estava na ala ortopédica, mesmo sofrendo do estômago. Indignada, a família tomou uma atitude: passou a cuidar da senhora em casa. "Os médicos tentaram aplicar insulina na minha mãe duas vezes, mas ela não é diabética. Fizeram transfusão de sangue, mas não vigiaram. O sangue desceu muito rápido e ela começou a sentir dor no peito. Ela saiu muito debilitada do hospital, na cadeira de rodas, e de fralda".

Ainda segundo a filha da idosa, o descaso é pior quando o interno não está acompanhado ou vai para o Centro de Tratamento Intensivo (CTI): "Os pacientes sem acompanhantes, principalmente idosos, chamam os enfermeiros para fazerem a limpeza, e eles demoram horas. Às vezes, os doentes ficam sujos até o dia seguinte".

Corporação possui ouvidoria

Apesar das reclamações, nenhuma denúncia formal que aparece na reportagem foi feita ao Ministério Público do Estado do Rio (MPRJ) ou à Defensoria Pública do Rio. Segundo os entrevistados, os pacientes temem sofrer represálias e terem o tratamento ainda mais prejudicado.

Em nota ao DIA, o MPRJ disse que há somente um inquérito civil instaurado para apurar eventuais irregularidades.

A Polícia Militar esclareceu que estão em curso medidas administrativas para recuperar e reestruturar a área de saúde da corporação, e que denúncias de maus-tratos ou privilégios "não chegaram ao conhecimento da direção do HCPM". A PM ressaltou ainda que a unidade disponibiliza serviço de ouvidoria, garantindo o anonimato do denunciante.

Witzel anuncia melhorias
No último dia 15, o governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), anunciou o projeto de construção da nova emergência e setor administrativo do Hospital Central da Polícia Militar, orçado em R$30 milhões. Os recursos utilizados na construção virão do Fundo de Saúde da Polícia Militar e a previsão é aumentar em 70% os leitos de emergência, onde atualmente funciona o ambulatório. Também para melhorar a infraestrutura do HCPM, Secretaria Estadual de Saúde doou 176 itens hospitalares no valor de R$1,2 milhão.
Witzel anunciou ainda um processo seletivo com 44 vagas para médicos e 24 para auxiliares de enfermagem. Apesar do HCPM, o Hospital da Polícia Militar de Niterói e as policlínicas de São João de Meriti, Cascadura, Olaria e Campos dos Goytacazes sofrerem com um déficit de 400 profissionais, não há concurso há dez anos. Por conta do Regime de Recuperação Fiscal, só é permitido concurso para recomposição de quadros funcionais. 
 

 
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Major cardiologista do HCPM preso por propina
Em março do ano passado, o major da Polícia Militar e cardiologista do Hospital Central da Polícia Militar (HCPM), João Alexandre Assad, foi preso por cobrar propina de empresários para direcionar contratos de fornecimento de stents para o hospital. A denúncia do Ministério Público do Rio (MPRJ) apontou que o major cobrou R$2 mil por cada um dos stents farmacológicos e convencionais fornecidos pela empresa Vide Bula em 2013 e 2014, por meio de licitação e adesão a ata de registro de preços, como troca pelo laudo assinado por ele de que o produto da empresa era superior aos concorrentes. 
Assad foi denunciado duas vezes por corrupção passiva e a Vide Bula também já era investigada pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) por participar de um esquema de fraudes em contratos do Fundo de Saúde da Polícia Militar (Fuspom) para fornecimento de insumos hospitalares sem a realização de procedimentos licitatórios adequados. Entre os anos de 2015 e 2017, o MPRJ denunciou à Justiça e à Auditoria de Justiça Militar, uma organização criminosa instalada no Estado Maior da PM e nas unidades médico-hospitalares da corporação para fraudar licitações, contando com a participação oficiais. 


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