Enquanto aguarda ligação do hospital com a notícia da chegada do remédio, Martinho dos Santos faz artesanato 
para evitar a depressão
 - Ricardo Cassiano
Enquanto aguarda ligação do hospital com a notícia da chegada do remédio, Martinho dos Santos faz artesanato para evitar a depressão Ricardo Cassiano
Por Bernardo Costa

Rio - Martinho Tito dos Santos, de 61 anos, passa os dias em casa, em Nova Iguaçu, aguardando um telefonema do Hospital Federal do Andaraí (HFA). O remédio para combater seu câncer de próstata está em falta desde 23 de setembro. Segundo funcionários do HFA, há pelo menos 40 pessoas com tratamento oncológico interrompido por falta de medicamentos e de sessões de quimioterapia. O Hospital Federal de Bonsucesso (HFB) sofre do mesmo mal: o serviço oncológico foi fechado para novos pacientes por falta de médicos. Diante do quadro precário, a Defensoria Pública da União anunciou que dará início em novembro a uma vistoria nos seis hospitais federais para analisar as condições de tratamento oncológico no Rio.

Enquanto aguarda a ligação do HFA, Martinho faz artesanato para não pensar na doença e adquirir alguma renda, já que no início do mês a família pagou R$ 5.215 por um frasco de Acetato de Abiraterona. "Sei que meu caso não tem cura. Mas se o remédio pode me dar uma sobrevida e ter acesso a ele é meu direito, quero viver e lutar por isso", disse Martinho.

Luiz Carlos: injeção em falta - Bernardo Costa

Outros pacientes do Andaraí confirmam o problema, como Sônia Cristina de Souza, Aílton Cândido Lemos e Luiz Carlos dos Santos. Entre os dias 9 e 18 deste mês, a injeção Leuprorelina, também contra o câncer de próstata, faltou para 45 pacientes do HFA. Na última quarta, também faltava o Navelbine, para controlar câncer de mama.

Metodologia para corrigir falhas

A falta de médicos no HFA é outro problema no tratamento oncológico. Segundo funcionários, há apenas um patologista para atender a uma demanda de 15 novos pacientes por semana. Seria necessário, de acordo com eles, a contratação de pelo menos mais três especialistas.
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Segundo os funcionários do hospital, o quadro insuficiente tem resultado na demora em até um ano para o início do tratamento. Sidney Lima, de 65 anos, aguarda desde dezembro de 2018 a realização de exames para o início da quimioterapia. "Tenho medo de a doença estar progredindo", diz Sidney.
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No HFB, a direção enviou ao ofício ao Ministério da Saúde, no dia 14, dando autorização para o fechamento do serviço de oncologia para novos pacientes por falta de médicos. Segundo a pasta, a interrupção não afeta as pessoas que já se tratam no HFB e o cronograma de cirurgias.
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Aílton Lemos: sem Abiraterona - Bernardo Costa
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Sobre a falta de medicamentos no HFA, o Ministério da Saúde informou que a direção do hospital está implantado uma metodologia para corrigir falhas no abastecimento. A nota informa que a direção do HFA aguarda receber a Leuprorelina no próximos dias e que o Acetato de Abiraterona chegou na última sexta. Já a Navelbine, segundo o ministério, está com abastecimento regular.
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Em relação à contratação de médicos, informou que está em andamento um convênio para o provimento de 1,3 mil vagas para a área assistencial dos hospitais federais.
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Pacientes com câncer têm o tratamento interrompido por falta de medicamentos no Hospital Federal do Andaraí. Na foto, paciente Maria Lúcia dos Santos, de 58 anos, com a filho Katiucia Alves, de 41 - Bernardo Costa
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Hospitais na mira da Defensoria
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Segundo o defensor Daniel Macedo, da Defensoria Pública da União (DPU), em breve começarão as vistorias nos hospitais federais, mas o trabalho da DPU já começou.
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"Enviamos ofícios para os hospitais solicitando o número de pessoas que estão com tratamento interrompido. Dependendo do que verificarmos, vamos acionar a Justiça e denunciar o Brasil na Corte Interamericana de Direitos Humanos", declarou Macedo.
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Em meio a uma celebração pelo Outubro Rosa no HFA, pacientes recebiam negativas no balcão de atendimento. Sônia Cristina de Souza, de 62 anos, precisa da quimioterapia para redução do tumor na mama. "Dependo do serviço público. Trabalhei a vida inteira e paguei meus impostos. Agora que preciso, não tenho assistência. Sem regularidade no tratamento, tenho receio de que a doença se alastre", disse.
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Sônia Cristina de Souza teve a quimioterapia cancelada no Andaraí - Bernardo Costa

 

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