Foto de Marcelo PQD que teria sido tirada na cela de penitenciáriaReprodução
Por BRUNAFANTTI
Publicado 02/10/2019 03:00 | Atualizado 02/10/2019 07:55
Rio -  O traficante Marcelo Soares de Medeiros, o Marcelo PQD, foi transferido, ontem, para uma unidade de segurança máxima, dentro do Complexo Penitenciário de Bangu, após a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) constatar que o criminoso fez uso do celular de dentro da cadeia. A informação foi confirmada pela própria pasta, que fez uma vistoria na cela do traficante, localizada no presídio Vicente Piragibe, que abriga internos que podem ficar fora das suas celas. Agora, PQD ficará em regime isolado.

“Foi aplicada sanção disciplinar, transferindo o preso, preventivamente, para a penitenciária de segurança máxima Laércio da Costa Pelegrino (Bangu 1)”, disse a Seap, em nota. A Seap não informou por quanto tempo PQD ficará no isolamento.

A foto foi publicada por O DIA ontem, e mostra uma selfie do criminoso, usando barba, outra irregularidade. Ele estaria participando de uma chamada de vídeo de dentro da penitenciária, onde cumpre pena por tráfico de drogas, desde 2007.

A Polícia Civil tem informações de que o objetivo do contato seria a retomada do controle do tráfico do Morro do Dendê, na Ilha do Governador, uma das comunidades do Rio que concentra grande número de fuzis nas mãos do tráfico: 200 fuzis, de acordo com levantamento da Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos.
Prêmio por fuzis
Segundo o mesmo levantamento, a cidade do Rio possui cerca de 3.500 fuzis em suas favelas. Ontem, uma indicação legislativa foi encaminhada para apreciação do governador Wilson Witzel. O texto propõe criar um programa de incentivo à apreensão de fuzis e metralhadoras pelos policiais do estado, por meio do pagamento de mais de R$ 15,4 mil por armamento apreendido.

Caso a medida seja colocada em prática, e todos os fuzis fossem apreendidos, o estado teria que desembolsar cerca de R$ 54 milhões para os pagamentos. Com esse valor seria possível pagar o salário de um mês dos funcionários da Faetec (R$ 41 milhões), dos 3.723 servidores da Fundação Saúde (R$ 11 milhões) e ainda sobrariam cerca de R$ 2 milhões.

Para Isabel Figueiredo, advogada, membro do Conselho do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a bonificação é superior à média do salário de um policial. “Isso não me parece razoável”, afirmou. “O Rio, a essa altura campeonato, precisaria de uma política um pouco mais consistente, mais global para o combate às armas”, completou.

Armas de alto poder bélico
A indicação legislativa é de autoria do deputado Rosenverg Reis (MDB), que quer criar o Programa de Incentivo à Apreensão de Armamentos de Alto Poder Bélico. A indicação consiste na gratificação financeira ao policial (civil ou militar) que apreender fuzil ou metralhadora em bom estado de funcionamento. A ocorrência deverá ser devidamente registrada em delegacia.

O pagamento da gratificação por fuzis apreendidos, proposta pela Alerj, será feito no mês seguinte à apreensão, independentemente de conclusão de inquérito policial. Caso o trabalho seja executado por uma equipe de policiais, a gratificação será divida entre os agentes. O deputado Rosenverg Reis (MDB), autor da proposta, explicou que a ideia foi inspirada no programa ‘Desarme o Bandido’, do Disque-Denúncia, implementado no início dos anos 2000 no Rio de Janeiro.

“A imagem do estado vem sendo sistematicamente associada ao grande poder bélico de bandidos e  traficantes, causando medo, insegurança, balas perdidas e vítimas fatais. Apesar de constar das obrigações dos policiais, um incentivo aumenta as possibilidades de sucesso desse tipo de operação”, justificou o parlamentar.

Incentivo à corrupção
Para a advogada Isabel Figueiredo, a corrupção policial é outro fator que deveria ser levado em conta na ideia da gratificação. “Muitas vezes há pessoas do estado envolvidas com o tráfico de armas. Então, até que ponto essa arma apreendida não foi colocada no local por um agente? Além disso, o incentivo deveria ser para toda e qualquer apreensão de arma de fogo. Ainda que o problema seja o fuzil, o crime comum é praticado com pistolas, revólveres. Também há a necessidade de um mecanismo de transparência para essas apreensões”, analisou.

A mesma conclusão fez a socióloga Silvia Ramos, do Observatório de Segurança. “O texto tem tudo para estimular o aumento da violência e da corrupção entre agentes. Temos no Rio a triste memória da gratificação por bravura. Foi o período em que as taxas de violência explodiram. Hoje é possível prever que uma lei nesse sentido vai estimular a negociação de policiais com armas do crime, para conseguirem o valor com cada uma”, afirmou, lembrando que, em Pernambuco, gratificação semelhante fez os índices criminais aumentarem.
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