Publicado 06/10/2019 03:00 | Atualizado 06/10/2019 10:25
Fundamental para a elucidação de crimes sexuais e identificação de restos mortais de desaparecidos em todo o estado, o exame de DNA realizado pelo Instituto de Pesquisa e Perícias em Genética Forense (IPPGF), da Polícia Civil, sempre foi um grande aliado das investigações. Só este ano, mais de 30 ossadas foram encontradas em cemitérios clandestinos mantidos por grupos de milicianos. A maioria, extremamente degradada, só poderá ter sua identificação feita por perícia genética. O problema é que, diante da falta de reagentes e de mão de obra, alguns exames têm demorado até 1 ano e meio.
É o caso de um laudo requisitado em fevereiro de 2018 pela Delegacia de Descoberta de Paradeiro (DDPA). Segundo agentes da especializada, o exame só foi concluído em agosto deste ano. Ou seja, um ano e meio de espera. Mas este não é um caso isolado. "Acontece muito", aponta uma agente responsável por protocolar o recebimento desses exames em uma delegacia especializada. Naquela unidade há diversos outros casos.
Com a filha Patrícia Conceição Santos de Barros desaparecida em Campo Grande, na Zona Oeste, em 2014, dona Maria da Conceição Santos teve que aguardar por dez meses para descobrir se um corpo encontrado carbonizado em 2017 era o da jovem. Patrícia foi morta pelo próprio marido, um ex-policial militar. Mesmo com os restos mortais disponíveis no Instituto Médico Legal e a família à disposição para coleta de DNA, a demora foi inevitável. O pedido do exame, feito pela DDPA, foi emitido em agosto de 2017, mas o laudo só foi liberado em junho do ano passado, permitindo o sepultamento da vítima.
São cerca de 480 pedidos de exames deste tipo feitos por ano, uma média de 40 por mês. Só entre os pedidos feitos ao longo do ano passado, há uma pendência de 50 laudos ainda não concluídos. A demora aumenta a aflição das famílias. Com o atraso nas investigações, a angústia não tem fim.
"Quando a gente recebe uma ligação para fazer o exame, acende a nossa esperança pelo menos de dar um enterro digno para o filho. O exame é a nossa última esperança", destaca a mãe de um jovem desaparecido na Baixada Fluminense, há quase dois anos, quando tinha 16 anos. Os pais colheram material genético no mês passado e aguardam resultado.
Na direção do IPPGF há dez anos, o perito Rodrigo Grazinolli explica que o fornecimento de reagentes necessários aos exames nem sempre foi contínuo e só há quatro peritos disponíveis para atender a demanda de 40 pedidos por mês. Cada pedido pode se desdobrar em diversos exames, já que o material genético de um familiar pode ser confrontado com o de diversos corpos até que se identifique se algum daqueles restos mortais pertence à pessoa desaparecida.
"Precisamos de aporte contínuo de reagentes. Mas é complicado. De 2015 a 2018, os reagentes faltaram", relata. "Os problemas nesse período geraram grande atraso. Em 2018, ainda estávamos pagando pelo que sofremos por três anos. Os laudos que estão atrasados são os que deveriam ter sido feitos em 2018. Estamos trabalhando para zerar essa diferença", disse. Ainda de acordo com ele, a maior parte dos exames (70%) é destinado à identificação de cadáveres e ossadas. Só este ano, foram encontrados 40.622 cadáveres e ossadas no estado.
Um milhão de reais em máquinas paradas
Com a filha Patrícia Conceição Santos de Barros desaparecida em Campo Grande, na Zona Oeste, em 2014, dona Maria da Conceição Santos teve que aguardar por dez meses para descobrir se um corpo encontrado carbonizado em 2017 era o da jovem. Patrícia foi morta pelo próprio marido, um ex-policial militar. Mesmo com os restos mortais disponíveis no Instituto Médico Legal e a família à disposição para coleta de DNA, a demora foi inevitável. O pedido do exame, feito pela DDPA, foi emitido em agosto de 2017, mas o laudo só foi liberado em junho do ano passado, permitindo o sepultamento da vítima.
São cerca de 480 pedidos de exames deste tipo feitos por ano, uma média de 40 por mês. Só entre os pedidos feitos ao longo do ano passado, há uma pendência de 50 laudos ainda não concluídos. A demora aumenta a aflição das famílias. Com o atraso nas investigações, a angústia não tem fim.
"Quando a gente recebe uma ligação para fazer o exame, acende a nossa esperança pelo menos de dar um enterro digno para o filho. O exame é a nossa última esperança", destaca a mãe de um jovem desaparecido na Baixada Fluminense, há quase dois anos, quando tinha 16 anos. Os pais colheram material genético no mês passado e aguardam resultado.
Na direção do IPPGF há dez anos, o perito Rodrigo Grazinolli explica que o fornecimento de reagentes necessários aos exames nem sempre foi contínuo e só há quatro peritos disponíveis para atender a demanda de 40 pedidos por mês. Cada pedido pode se desdobrar em diversos exames, já que o material genético de um familiar pode ser confrontado com o de diversos corpos até que se identifique se algum daqueles restos mortais pertence à pessoa desaparecida.
"Precisamos de aporte contínuo de reagentes. Mas é complicado. De 2015 a 2018, os reagentes faltaram", relata. "Os problemas nesse período geraram grande atraso. Em 2018, ainda estávamos pagando pelo que sofremos por três anos. Os laudos que estão atrasados são os que deveriam ter sido feitos em 2018. Estamos trabalhando para zerar essa diferença", disse. Ainda de acordo com ele, a maior parte dos exames (70%) é destinado à identificação de cadáveres e ossadas. Só este ano, foram encontrados 40.622 cadáveres e ossadas no estado.
Um milhão de reais em máquinas paradas
Apesar da dedicação da equipe, só existem quatro peritos disponíveis para o trabalho. E cada exame de DNA leva cerca de 48 horas. Mas o tempo empregado em cada análise poderia ser reduzido para apenas duas horas, caso as duas máquinas compradas em março pudessem ser usadas. Adquiridas por um total de R$ 1 milhão (cerca de R$ 500 mil cada), uma plataforma de automação e um analisador genético não podem ser usados por falta de reagentes adequados.
Os equipamentos foram comprados pelo gabinete de intervenção federal. "Adquirimos equipamentos que vão permitir uma automação do exame. Isso trará celeridade aos resultados. Um deles, a plataforma de automação, acho que só nós temos no Brasil. O perito só programa e ele vai fazendo o processo de pipetagem. Mas para essas máquinas funcionarem, a gente ainda está à espera de reagentes", explicou Rodrigo Grazinolli, ao receber uma equipe do DIA.
Os equipamentos foram comprados pelo gabinete de intervenção federal. "Adquirimos equipamentos que vão permitir uma automação do exame. Isso trará celeridade aos resultados. Um deles, a plataforma de automação, acho que só nós temos no Brasil. O perito só programa e ele vai fazendo o processo de pipetagem. Mas para essas máquinas funcionarem, a gente ainda está à espera de reagentes", explicou Rodrigo Grazinolli, ao receber uma equipe do DIA.
Segundo ele, não há falta de recursos e os entraves são burocráticos. "Ninguém me disse que não pode comprar ou que não tem dinheiro, como eu ouvia em outros períodos. O que está acontecendo é aquela questão de licitação. Como só existe um fornecedor no Brasil, a gente está tentando comprar por inexigibilidade (dispensa de licitação). Mas estamos tendo dificuldade no processo de compra. De forma alguma eu ouvi alguém dizer que não tinha dinheiro. Com o andamento do processo, muita gente tem se mobilizado".
Ainda de acordo com Rodrigo, o laboratório do IPPGF conta com seis peritos fazendo os exames. Mas dois deles fazem coletas de material genético de condenados por crimes hediondos nos presídios: "Atualmente, damos conta dos 40 pedidos que recebemos mensalmente. Mas precisamos de pelo menos o dobro de peritos. Temos quatro para exames de DNA. O ideal seriam oito".
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