A arte das favelas desceu para o asfalto e domina o Museu de Arte Moderna (MAM). As lentes dos nove fotógrafos do projeto Favelagrafia retratam as comunidades em que vivem pelo olhar atento da câmera. Na terceira edição, que teve início no sábado, a arte reproduz a própria arte por meio de retratos que representam as potências criativas locais.
"A mensagem da exposição é de que a favela é lugar de potência e talento, e não de pobreza e precariedade. A arte é mostrada tanto pelos representados quanto pelos fotógrafos", explica Aline Pimenta, diretora do Favelagrafia. Os nove profissionais trouxeram um novo conceito este ano, a videografia, que traz "um novo estágio de desenvolvimento dos fotógrafos, porque as habilidades e as complexidades envolvidas são diferentes das trabalhadas com as fotos", disse Aline.
Josiane Santana, fotógrafa do Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio, compreendeu melhor a relevância do local em que nasceu ao participar do projeto. A estudante de jornalismo encara a fotografia como cura e uma forma de esperança. "Estamos sempre fazendo coisas que possam dar esse respiro e possam fortalecer as favelas. É incrível abrir o jornal e ver que o morador da Rocinha vai para o Balé Bolshoi, por exemplo".
ORIGEM
O Favelagrafia nasceu em 2016 para apresentar as comunidades pelo olhar dos moradores, fugindo "da imagem comum e usual que associa favela a tráfico, arma e perigo", de acordo com Aline Pimenta. Depois de convocarem fotógrafos amadores e profissionais que queriam retratar suas raízes, a ideia já era fazer curadoria para uma exposição. "Depois que vimos o material, começamos a sonhar alto para a apresentação, mas nunca achamos que seria possível expor no MAM", contou.
Desde a primeira mostra no MAM em 2016, a ideia sempre foi apresentar a arte do morro para o asfalto e trazer notoriedade para os fotógrafos. "Existe um muro invisível que separa asfalto de favela, e propomos também uma reflexão que espaços culturais são abertos de forma desigual", concluiu.