“A solução agora é levar para a comunidade o risco muito elevado quando se tem um vírus novo, que pode fazer um potencial de dano bem maior”, disse.
Para Mandetta, o enfrentamento da dengue no estado do Rio de Janeiro é fundamental para que não ocorra outra epidemina como a de 2008, considerada muito grave. O ministro revelou que na época participou do gabinete de crise montado para enfrentar a epidemia “Eu vim para colaborar e ajudei a montar umas UPAs em Santa Cruz e em Campo Grande, com tendas. Foi um trabalho muito grande para dar conta de atender a população naquela epidemia. Esse ano, tem que estar com muita atenção. Tem que redobrar a atenção, porque quando entra uma epidemia todos sofrem”, disse, após participar da soltura de mosquitos infectados com a bactéria Wolbachia, em Niterói, Região Metropolitana do Rio.
De acordo com Mandetta, não será necessário o ministério reforçar a atuação das secretarias de Saúde no estado, porque os órgãos já têm as suas estruturas próprias. “Eles já têm as armas. Para evitar a epidemia é botar o povo [das equipes] nas ruas, usar a imprensa, os meios de comunicação. A gente tem pesquisas que mostram que quase 98% da população sabe o que é dengue e sabe as medidas que têm que fazer para prevenir. O importante é que essa informação seja transformada em ação. Olhe a sua casa, o foco sempre estará ou perto do ambiente de trabalho ou perto da residência”, disse.
A Wolbachia é uma bactéria intracelular que após infectar os mosquitos impede que os vírus da dengue, da zika e da chikungunya se desenvolvam dentro destes insetos. Segundo a Fiocruz, a tecnologia não provoca modificação genética, nem da bactéria, nem do mosquito. A Wolbachia já era encontrada naturalmente em outros insetos, até que começaram os estudos para a infecção nos mosquitos Aedes aegypti.
O ministro chamou atenção para o fato de que apesar dos bons resultados, o mosquito com Wolbachia é uma ação complementar e a população precisa manter o cuidado para evitar a proliferação do Aedes aegypti.
“Revejam sua casa, vaso de planta, pneu, garrafa. Não deixa a água parada, retira. Uma retirada de um foco elimina milhares de casos”, lembrou.
“A gente passa para a segunda parte do quebra-cabeça. Como será que esse mosquito responderia em outros climas, em outros biomas? Uma coisa é o Rio de Janeiro, a sua mata, a sua chuva, seu índice de proliferação”, disse.
O pesquisador da Fiocruz e líder do World Mosquito Program no Brasil, Luciano Moreira, informou que em Niterói faltam apenas 100 mil habitantes para fechar o primeiro município do Brasil com o projeto. “Já temos resultados promissores nas primeiras áreas na região da Praia de Baía, tivemos redução 75% de casos de chikungunya, nessas áreas onde a Wolbachia se restabeleceu. É muito importante”, disse.
Números do Ministério da Saúde mostram, que desde 2011, em parceria com a Fundação Bill & Melinda Gates, e com National Institutes of Health, a pasta investiu R$ 31,5 milhões no método Wolbachia. Somente em 2019, os investimentos na tecnologia atingiram R$ 21,7 milhões.
A aplicação da tecnologia do mosquito com Wolbachia é desenvolvida também na Austrália, na Colômbia, na Índia, na Indonésia, no Sri Lanka, no Vietnã, e nas ilhas Fiji, Kiribati e Vanuatu, no Oceano Pacífico. Na semana passada, a experiência brasileira foi apresentada durante um congresso de medicina tropical, nos Estados Unidos.