O estudante Da Costa, de 17 anos, venceu a batalha de poesia do Sesc RJ abordando racismo e opressão da população negra - Edson Taciano
O estudante Da Costa, de 17 anos, venceu a batalha de poesia do Sesc RJ abordando racismo e opressão da população negraEdson Taciano
Por O Dia

Rio - 'A poesia me salva diariamente'. Esse amor pela arte foi um dos ingredientes que garantiu ao jovem Da Costa, de 17 anos, a conquista do primeiro lugar na batalha de poesia, um dos momentos mais emocionantes da quinta edição do projeto "A Palavra Líquida", do Sesc RJ, realizado durante todo o mês de novembro nas unidades de Barra Mansa, Nova Iguaçu, São Gonçalo, São João de Meriti, Tijuca e Madureira.

Intitulada "Maafa" (ver trecho no box), a poesia de Da Costa, que competiu com outros cinco slammers - quem participa de poetry slam (batalhas de versos) - é uma crítica à opressão da população negra. "A poesia é uma forma de colocar pra fora coisas que agonizam", conta o jovem estudante do Ensino Médio, nascido e criado em Honório Gurgel, no subúrbio do Rio.

"Minha relação com a escola nunca foi muito boa por conta desse método tradicional que coloca a branquitude como protagonista. A gente não aprende o que é nosso de verdade. Eu não sabia como colocar isso pra fora, então resolvi escrever. Os professores ficavam indignados porque eu passava as aulas escrevendo poesia", conta o rapaz, que participa de batalhas há um ano, já tendo conquistado o primeiro lugar outras vezes.

"Gratificante poder ter feito parte disso e competir com poetas que são referências pra mim". Sobre o futuro, Da Costa é assertivo: "Pretendo estudar Direito porque acho que o povo preto é pouco representado nos espaços jurídicos. A gente precisa ter um braço forte dentro do sistema em prol da periferia e da população negra", diz.

Tudo isso, claro, junto com a poesia. Em 2020, o jovem, que tem como nome de batismo Guilherme da Costa Dantas, colherá os frutos da vitória no evento: vai rodar unidades do Sesc RJ participando de festivais de literatura.

Modalidade surgiu nos anos 80

As batalhas de poesia falada têm na sua base várias regras que envolvem a performance e poesia original dos seus participantes, um tempo limitado a três minutos para as apresentações, um público como júri que dá notas de 0 a 10, a ausência de música e acessórios e a atribuição de prêmios simbólicos no final.
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Não existem estilos ou temas adequados, há várias linguagens possíveis, que variam com a diversidade dos participantes que fazem parte deste movimento. Celebradas em mais de 500 comunidades do mundo, essa cena cultura, surgida na década de 1980 nos Estados Unidos, vêm se espalhando pelo Brasil desde 2008.
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As poesias têm que ser de autoria própria, sem adereços ou acompanhamento musical. O texto pode ser escrito previamente, mas também pode haver improvisação. Não há regras sobre o formato da poesia.
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"Maafa" foi a poesia vencedora
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