Com a chegada do fim de ano aflora o espírito de solidariedade e união. Mas para a microempresária Danielle Vianna, de 42 anos, não há época certa para transformar vidas. Há cinco anos, ela reúne famílias de todo o país com o trabalho voluntário 'Busco Minha Família', em que, a partir de pistas, ajuda familiares que nunca se viram ou perderam o contato, a se encontrarem.
Danielle conta que nunca aconteceu nada parecido em sua vida, mas a principal motivação foi o fato de não se conformar que alguém pode simplesmente desaparecer. "Eu me lembro do caso do menino Carlinhos, nos anos 1970, e isso me marcou muito. Eu nunca consegui entender como uma criança desaparece do nada, como uma pessoa pode sumir sem deixar pistas e isso me incomodava", revela.
Dados divulgados em uma audiência da Comissão de Segurança Pública da Alerj, em novembro, apontam que cerca de 400 pessoas, mensalmente, são dadas como desaparecidas em todo o Estado do Rio. A Coordenadoria de Desaparecidos do Estado informou que, de janeiro a agosto de 2019, somente na capital fluminense, a Delegacia de Descobertas e Paradeiros (DDPA) registrou 1.427 pessoas como desaparecidas; dessas, 1.157 foram encontradas, 20 morreram e, aproximadamente, 250 casos ainda estão em andamento. Decidida a mudar esse cenário, ela criou um grupo nas redes sociais e começou sua busca.
"O caminho nunca é igual para todos os casos. Quando a pessoa sabe os dados, essas buscas são mais fáceis, a gente tem como procurar no cartório, nos sites do governo. Mas tem muita gente que procura familiar que não sabe o nome. É uma busca que eu não sei exatamente quem estou procurando. Nesse caso, faço uma busca pelo cartório para ver se constam outras pessoas com o mesmo nome de pai e de mãe, o que nem sempre dá resultado. O Google ajuda muito, as redes sociais também. Tem vários caminhos."
Nos cinco anos de trabalho voluntário, foram finalizados cerca de 1.100 casos em todo o país. "Eu embarco nessas histórias e a gente cria um laço muito forte. Tem pessoas que ajudei, que acabaram entrando na minha vida. Uma das moderadoras do grupo acabou virando uma amiga", relatou Danielle.
"Há cinco anos eu era uma pessoa mais pessimista, achava que certas coisas não tinham importância. Depois que você passa a fazer um trabalho desse, vê tanta dor, tantas pessoas que nunca conheceram a mãe, nenhum parente biológico. A gente passa a dar mais importância e a ser muito mais grata pela família", completou.
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