Cerca de cinco mil moradores do Morro do Cruz, no bairro Andaraí, Zona Norte do Rio, são coagidos por traficantes de drogas que estão impondo suas próprias normas dentro da comunidade. Eles adotaram práticas semelhantes às usadas pela milícia e estão cobrando taxas em troca de segurança e serviços como internet e TV clandestina.
Os impostos cobrados mensalmente variam em torno de R$ 50 e R$ 300 entre residências e comércios dentro da comunidade, gerando um lucro de até R$ 250 mil para o tráfico. A Polícia Civil disse que irá investigar se o dinheiro vai para o traficante Anderson de Oliveira Colares, o Andril, de 40 anos, líder do tráfico local e foragido da Justiça.
As arrecadações, segundo a denúncia dos moradores, começaram em setembro do ano passado. Nesse mesmo período, o Ministério Público do Estado e a Polícia Civil revelaram que traficantes estariam se aliando à milícia em comunidades do Rio. Mas a polícia não soube precisar se essa união acontece no Morro do Cruz.
"Agora eles aparecem de porta em porta e fazem a cobrança. Quem não cumprir, corre o risco de punições severas", relata um homem que mora na comunidade há mais de 20 anos.
Segundo o mesmo morador, a região antes pacata, mesmo com a presença pequena de traficantes, mudou completamente com a chegada dos outros criminosos.
Um homem identificado apenas como Bangu seria o responsável pela arrecadação financeira. De acordo com a investigação, Bangu teve entrada na comunidade autorizada por Andril.
"O que a gente sabe é que eles estão atuando junto dentro da comunidade. Existe uma espécie de parceria entre eles, do tipo: 'cada um faz a sua parte e o morro segue as normas'. Quem paga o pato são as pessoas que moram aqui dentro. Não sabemos em quem confiar", desabafa o morador.