Na obra, a jornalista Thaís Oyama afirma que Bolsonaro e o advogado Frederick Wasseff atuaram para postergar o depoimento de Queiroz e levar o caso ao Supremo Tribunal Federal (STF), contrariando orientação dos advogados.
O relato está em Tormenta - O governo Bolsonaro: crises, intrigas e segredos, que tem lançamento marcado para a próxima segunda-feira, pela Companhia das Letras. Thaís Oyama é atualmente comentarista da rádio Jovem Pan e foi redatora-chefe da revista Veja.
De acordo com a autora, a estratégia inicial da defesa de Fabrício Queiroz seria o comparecimento na data em que o depoimento foi marcado. Ainda segundo a publicação, Queiroz diria que não poderia prestar esclarecimentos até que seus advogados tivessem acesso à investigação, e assumiria total responsabilidade pelas transferências financeiras - um relatório do antigo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) havia identificado transações incompatíveis com sua renda, e depósitos feitos por outros funcionários do gabinete de Flávio na Alerj.
O plano da defesa, no entanto, teria sido abortado por ordem de Bolsonaro, após ele ser convencido de que deveria levar o caso ao STF.
Ela atribui a estratégia a Frederick Wassef, atual advogado de Flávio e do presidente. Procurado, o advogado não retornou as ligações.
Um detalhe que teria surpreendido a cúpula ao redor do então presidente eleito, segundo a autora, foi um depósito de Fabrício Queiroz à futura primeira-dama, Michelle Bolsonaro, identificado pelo Coaf. A informação sobre a transferência consta em reportagem publicada pelo Estado em dezembro de 2018. O presidente já havia sido informado sobre a existência do relatório, de acordo com o livro, mas não sobre o repasse.
SERGIO MORO
Com base em um pedido da defesa de Flávio, o presidente do STF, o ministro Dias Toffoli, decidiu suspender ano passado todas as investigações que utilizavam relatórios do Coaf - decisão depois revertida no fim de 2019.
O livro afirma que uma articulação pela derrubada da liminar quase custou o cargo do ministro da Justiça, Sergio Moro. Segundo a autora, Moro procurou Toffoli para argumentar contra a suspensão, que prejudicava centenas de investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal.
Bolsonaro teria ficado furioso, diz a autora, e dissuadido da demissão pelo ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno.
"O general Heleno, que já tinha gastado seu arsenal de argumentos em defesa do ministro, ao notar a determinação do presidente, descarregou a última bala: 'Se demitir o Moro, o seu governo acaba', disse", escreve Thaís Oyama em Tormenta.