Helenise de Amorim, com o filho Kallian no colo, só não optou pela imunização na rede particular por causa do preço: 'Cerca de R$ 400
Helenise de Amorim, com o filho Kallian no colo, só não optou pela imunização na rede particular por causa do preço: 'Cerca de R$ 400"Estefan Radovicz
Por Maria Luisa de Melo e Thuany Dossares

"É um absurdo deixar os nossos bebês desprotegidos, correndo o risco de pegar diversas doenças, e não poder fazer nada. Eu já estive em vários postos de saúde e clínicas. Mas ainda não consegui todas as doses necessárias para imunizar o meu filho". O relato de Carla Cantanhede, de 40 anos, moradora de Jacarepaguá, na Zona Oeste da cidade, traduz o drama de milhares de mães que não encontram a vacina pentavalente na rede pública.

A vacina, que conta com três doses (aos 2, 4 e 6 meses) é uma das mais importantes de serem tomadas na infância e imuniza as crianças contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e infecções causadas pelo vírus influenza B. Mas desde julho do ano passado seu fornecimento está irregular em todo o país (veja, no infográfico, o calendário nacional de vacinação). Isso porque o Ministério da Saúde recolheu um lote, com doses da vacina reprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária. A demanda do estado pela vacina é de 71 mil doses por mês, segundo a Secretaria Estadual de Saúde do Rio.

Outra que também está peregrinando para imunizar a filha é a dona de casa Mayra Pinto, de 29 anos. Ontem, ela passou por dois postos, mas não conseguiu imunizar Maria Vitória, de 3 meses. Na Clínica da Família Valter Felisbino de Souza, em Ramos, foi informada de que a vacina chegaria naquele dia, o que não aconteceu. Seguiu para a Policlínica José Paranhos Fontenelle, na Penha, onde também não conseguiu a vacina.

A dona de casa Helenise de Amorim, de 34 anos, só conseguiu aplicar ontem a terceira dose da pentavalente no seu filho, após uma espera de 5 meses. "Não tive condições de arcar com as doses na rede particular, porque cada uma custa cerca de R$ 400", relata.

VACINA - ARTE O DIA

Nem fila de espera garante imunização
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A dificuldade de vacinar os bebês contra cinco graves doenças passa até por uma fila de espera. "Pediram para deixar meu nome (nos postos) com o meu telefone. Dizem que vão retornar quando a vacina chegar, mas não adiantou nada", acrescenta Carla Cantanhede. Por conta do problema no fornecimento de vacina, seu filho Antônio, de 8 meses, ainda não tomou a terceira dose da vacina. E a segunda dose foi tomada com dois meses de atraso.
O infectologista Edimilson Migowski frisa que a imunização só está completa duas semanas após a terceira dose: "Os pais que puderem recorrer à rede particular devem fazer isso. Quanto mais tempo se espera pela vacina, maior o risco ao qual a criança está exposta". Ainda segundo Migowski, os pais que deram a primeira ou até a segunda dose na rede pública podem completar a cobertura vacinal na rede privada. "Deve-se completar com o que estiver disponível. É urgente e importante. Além da água de qualidade e do sanemaneto básico, a vacinação em dia é um importante pilar da saúde pública", diz.
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Ministério: nova remessa mês que vem
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Segundo o Ministério da Saúde, responsável por distribuir a vacina entre os estados brasileiros, a pasta deu início ao processo de regularização da distribuição da pentavalente este mês. Dois lotes foram remetidos ao Rio, totalizando 136 mil doses. Um terceiro lote deve ser entregue no próximo mês.
Ainda segundo o ministério, é a liberação pelo Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS) que viabilizará a entrega de nova remessa aos estados.
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Com uma demanda de 71 mil doses da pentavalente por mês, o Estado do Rio de Janeiro recebeu menos da metade de sua demanda mensal no ano passado. Foi recebida uma média de 33,5 mil doses por mês, em 2019, segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES).
Procurada para informar qual o déficit de doses aguardado, para atender à fila de espera na rede de atenção básica dos 92 municípios fluminenses, a secretaria não informou o número. Também não indicou qual a quantidade de doses recebida de julho a dezembro do ano passado, período afetado pela falta da pentavalente.
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