Imagine passar quase sete meses encarcerado, acusado de ter estuprado sete mulheres, sem ter cometido o crime. E, após conseguir provar sua inocência através de exame de DNA, ter que mudar de cidade para evitar represálias. Parece ficção, mas o caso aconteceu, em 2014, com o dentista André Luiz Biazucci, hoje com 32 anos. Este é um dos inúmeros episódios nos quais os inocentados após a prisão amargam até hoje as consequências do cárcere por engano provocado por falhas na investigação.
O que aconteceu com André está longe de ser um fato isolado e não para de se repetir. Em 2011, a Polícia Civil prendeu 15 homens, a maioria idosos, acusados de pertencer a um perigoso grupo de milicianos que agia no bairro da Taquara, em Jacarepaguá, na Zona Oeste da cidade. Depois de ampla divulgação do caso e seis meses e 21 dias de prisão, o grupo foi solto. A Justiça inocentou todos eles das acusações de homicídio, enriquecimento ilícito, formação de quadrilha, entre outras. O processo acabou extinto.
Mas foi difícil retomar a vida normal. "Até hoje o sofrimento é muito grande. Em cada lugar que eu vou, sempre acho que estão me apontando e me chamando de miliciano. Acabaram com a nossa vida. Um de nós saiu da prisão maluco. Eu estou fazendo tratamento com psicólogo e vou iniciar também com o psiquiatra. Foi um baque muito grande para todos nós", recorda o aposentado Edson Dias de Moura, de 75 anos.
Preso em dezembro do ano passado acusado de homicídio, Leandro Pereira Rosa, de 23 anos, foi solto depois de sua família reunir provas de que ele estava trabalhando, no Jardim Botânico, no momento em que o assassinato aconteceu. Após dez dias, voltou para casa, por força de uma liminar. Mas nem tudo está resolvido. "Minha sorte foi que no meu trabalho todos me conheciam, sabiam da minha índole. Mas o processo continua", diz.
Comentários