Publicado 28/01/2020 15:16 | Atualizado 28/01/2020 15:30
Rio - O pai de santo Marcus Vinício Valente de Oliveira, de 32 anos, foi impedido de registrar um crime de intolerância religiosa na 57ª DP (Nilópolis), no último dia 14. A vítima tentou denunciar uma loja de roupas por, segundo ele, tocar músicas contra religiões de matrizes africanas. No entanto, ele conta que, um inspetor da delegacia se negou a fazer o boletim.
De acordo com Marcus Vinício, o agente afirmou que não faria o registro de ocorrência. "Ele disse: 'Já que meu Jesus Cristo pode ser chamado de gay, ninguém vai mais registrar casos como esse'", informou o rapaz. O agente se referiu, conforme o pai de santo, ao especial de Natal do Porta dos Fundos.
A vítima contou ao DIA que se sentiu abandonada pelo poder público ao procurar auxílio e não ter a chance de registrar a ocorrência. "Um atendimento deplorável, eu achei que ele poderia me dar voz de prisão, só estávamos eu e ele na delegacia. Ele abriu os braços, dizendo que ele era evangélico", conta.
Após o ocorrido, Marcus Vinício recebeu o suporte da Superintendência de Defesa e Promoção da Liberdade Religiosa do Estado do Rio de Janeiro. Ainda segundo ele, o policial chegou a dizer que a 'vontade dele era de jogar uma bomba na produtora responsável pelo especial de Natal'. Marcus precisou recorrer à Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), no Centro do Rio, onde foi atendido.
Procurada, a Polícia Civil informou que o delegado da 57ª DP (Nilópolis) se dispôs a atender a vítima novamente e que a conduta do agente que o recebeu seria apurada. Segundo o Ministério Público, nenhum policial pode se negar a registrar uma ocorrência e a vítima pode formalizar uma denúncia contra o agente junto à entidade.
Ataque à produtora Porta dos Fundos
No dia 24 de dezembro, dois coquetéis molotov foram arremessados na porta da produtora do Porta dos Fundos como forma de ataque ao especial de Natal, exibido pela Netflix. A polêmica entorno da obra foi motivada por fiéis que se sentiram ofendidos com a retratação de Jesus Cristo como um homem gay.
Um dos suspeitos de participar do ataque, Eduardo Falzi, foi identificado pela Polícia Civil, com base nos vídeos das câmeras de segurança. Ele era filiado ao Partido Social Liberal (PSL) e foi expulso após ser ter o nome citado na investigação.
Segundo as apurações, cinco pessoas participaram do crime. Eduardo embarcou para Moscou, na Rússia, no dia 2 de janeiro, onde continua. A Justiça brasileira tem um acordo com o país de extradição de criminosos, no entanto, ainda não há um pedido formal para trazer Eduardo de volta ao Brasil.
*Estagiária sob supervisão de Thiago Antunes
Comentários