Cena do vídeo que mostra o adolescente J. sendo espancado por rivais em Rio das Pedras
 - Reprodução de vídeo
Cena do vídeo que mostra o adolescente J. sendo espancado por rivais em Rio das Pedras Reprodução de vídeo
Por Waleska Borges

Uma brincadeira entre crianças e adolescentes, chamada de guerra de sacolés, vem se transformando em perigo e preocupação nas comunidades. Após um combate de rapazes de Rio das Pedras e Gardênia Azul, na Zona Oeste, no último domingo, um adolescente ficou ferido. J., de 16 anos, relata ter sido agredido com socos e chutes por um grupo de 20 rapazes. As agressões teriam ocorrido durante 15 minutos. Ele fraturou o nariz. Apesar de não ter registrado nenhuma ocorrência, a Polícia Militar informa que os batalhões de área estão atentos às movimentações dos grupos adversários.

As contendas, porém, têm se alastrado. Três dias depois de sofrer as agressões, J. ainda sente dores pelo corpo e evita sair de casa. "Tive muito medo de morrer. Preferi não registrar na delegacia", desabafa o adolescente. Segundo ele, essa foi a primeira vez que participou da brincadeira.

"Era para ser apenas sacolés com água, mas o grupo da Gardênia chegou com sacolés cheios de xixi, fezes de cachorro e pedras. O meu grupo correu, mas eu fui para outro lado e aí me pegaram", contou.

Em vídeo postado nas redes sociais, é possível ver o momento em que J. é capturado. Um dos jovens chega a pedir: "Sem bater". Alguns dos rapazes estavam com as camisas enroladas no rosto e carregando mochilas. "Momentos antes, passou um carro da Polícia Civil. Nós corremos. Quando viram que eu ia desmaiar, eles saíram correndo também", lembrou o adolescente.

Após as agressões, ele diz ter buscado ajuda: "Levantei, peguei carona em um ônibus e fui sozinho para o hospital". O garoto só voltou pra casa nove horas depois da confusão: "Minha família estava toda me procurando".

Por causa do vídeo, segundo o rapaz, ele perdeu o emprego como entregador: "Não gosto de confusão. Estudo, quero ser médico. Meu recado é que parem de brincar disso, pode acabar mal", alertou o rapaz, que postou a sua foto com o nariz quebrado em uma rede social.

 

Batalhas são marcadas pela internet
Os combates são marcados pela internet e têm até regras
Os combates são marcados pela internet e têm até regrasReprodução Twitter
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Pela internet, os participantes das batalhas combinam um ponto de encontro, geralmente, aos fins de semana. Eles enchem pequenos sacos plásticos com conteúdos líquidos. Entre eles, água de esgoto e urina. No local marcado, começam a arremessar os sacolés uns nos outros.
Há registos de batalhas nas comunidades do Gogó da Ema e da Guaxa, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense. Na internet, alguns grupos chegam a criar regras, como proibir o "uso de água de valão" ou "mijo". No último domingo, a guerra de sacolés assustou motoristas que passavam pela Via Light, sentido Nova Iguaçu. A ação foi confundida com um arrastão.
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De acordo com a Polícia Militar, os grupos são compostos, em sua maioria, por crianças e adolescentes: "Até o momento, não tivemos registro de ocorrência de vulto ligada às iniciativas. A corporação orienta, ainda, que os responsáveis pelos menores fiquem atentos aos perigos da prática, como possíveis lesões causadas pelo impacto de objetos, assim como a exposição dos grupos ao fluxo de trânsito e às possíveis depredações de patrimônio".
 
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Tradições seculares
Uma brincadeira carnavalesca, conhecida como entrudo, em que a população jogava farinha, polvilho, além de líquidos, entre eles, água, café, tinta, groselha, lama e até urina, já foi praticada no Brasil, principalmente nos locais onde havia colônias portuguesas. O jogo, que chegou a ser considerado violento, ocorreu do período colonial até a segunda metade do século XIX. Além das ruas, o entrudo também acontecia no interior das casas, nos três dias antes da quaresma.
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Uma outra tradição secular é considerada uma brincadeira violenta: os bate-bolas. Eles vão às ruas nos dias de Carnaval. Alguns saem com bolas nas mãos e outros com sombrinhas. A maioria quer apenas brincar o Carnaval, mas há mascarados que difundem a violência e os confrontos.
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