Trabalhadores da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados (Fafen), do Paraná, em frente à sede da Petrobras, no Rio de Janeiro, durante a greve dos petroleiros - Luiz Franco
Trabalhadores da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados (Fafen), do Paraná, em frente à sede da Petrobras, no Rio de Janeiro, durante a greve dos petroleirosLuiz Franco
Por *LUIZ FRANCO
Rio - Uma semana após o início de uma greve nacional, petroleiros realizaram um ato em frente à sede da Petrobras, no Rio de Janeiro, na manhã desta sexta-feira.
O ato, que, segundo a organização do evento, contou com cerca de 2 mil participantes - espalhados entre a passarela em frente ao prédio da Petrobras e áreas com sombra, embaixo da passarela, para fugir do sol forte - inicialmente contaria com a presença do ex-presidente Lula, em passagem pela cidade para a comemoração dos 40 anos do PT. Sua presença, contudo, foi cancelada devido a uma postura ainda sem respostas da PM, que vetou a utilização de carro de som e da estrutura necessária para garantir a segurança do ex-presidente.

Os petroleiros protestaram principalmente contra o processo de privatização da empresa e a quebra do acordo coletivo firmado com as entidades sindicais em novembro de 2019, que foi assinado entre as duas partes e tinha uma cláusula proibindo a demissão em massa de trabalhadores sem que haja prévia negociação com os sindicatos. No dia 14 de janeiro, a Petrobras anunciou o fechamento e a demissão de todos os cerca de mil trabalhadores da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados (Fafen), no Paraná.
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Para Paulo Neves, diretor da Federação Única dos Petroleiros (FUP), a decisão da estatal é absurda. "A Fafen era a última fábrica de fertilizantes nitrogenados do país. Agora, o Brasil ficará 100% dependente da importação deles - o que é um absurdo, se a gente leva em consideração que o Brasil é um país eminentemente agrícola, que depende da produção agrícola para a composição de seu PIB", afirmou.
"Não aceitamos as demissões. Além disso, a gente entende que a Petrobras precisa estar à serviço do povo brasileiro. É preciso que a Petrobras tenha uma política justa de preços e derivados, para que a trabalhadora e o trabalhador brasileiros tenham acesso ao gás de cozinha, à gasolina, ao gás de cozinha, por um preço justo", continuou Neves. "Não é uma luta só corporativa, não é só por emprego, é uma luta principalmente pela nossa soberania energética, para que a gente não entregue o nosso patrimônio nacional, para que não haja desindustrialização, para que a gente não faça a opção equivocada de exportar óleo cru e importar derivados", concluiu.
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Na véspera do ato, o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, divulgou, na rede de comunicação interna da empresa, um vídeo direcionado aos grevistas. No comunicado, Castello Branco pede aos empregados que aderiram à greve que "reflitam". Ele afirma que o movimento é "injustificado e com evidentes objetivos políticos". "A motivação para essa greve não tem qualquer fundamento", atesta. No mesmo vídeo, ele justifica o fechamento da fábrica e a demissão de todos os funcionários da Fafen por motivos financeiros, além de criticar a antiga administração da Petrobras. "[A fábrica] sempre deu grandes prejuízos, desde que foi comprada por uma administração irresponsável, que tanto mal fez à Petrobras". "A Petrobras está ressurgindo das cinzas, após quase ser destruída por uma organização criminosa", concluiu.
No ato desta sexta-feira, os trabalhadores da Fafen também estiveram presentes, protestando contra as decisões da empresa. "Esse prejuízo que a Fafen está dando é um prejuízo contábil, por conta do aumento do preço do resíduo asfáltico, que é um resíduo - como diz o nome - que nós transformamos em algo útil para a sociedade: a ureia", explica Aloir Calvinho, que trabalha há 17 anos na empresa paranaense. "O Brasil está voltando aos tempos do pau-brasil, quando nós só exportávamos commodities e importávamos produtos industrializados. É um retrocesso de quase 500 anos", afirma Calvinho.
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Decisões judiciais contrárias à greve
O direito à greve é garantido pela Constituição brasileira. Ainda assim, o ministro Ives Gandra Martins Filho, do Tribunal Superior do Trabalho (TST) têm tomado duras medidas contra os sindicatos. Nesta terça-feira, ele decretou uma multa diária de R$ 500 mil, por sindicato, e ordenou que 90% dos petroleiros trabalhem normalmente durante o período de paralisação.
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Já nesta quinta-feira, ele ordenou o bloqueamento das contas dos sindicatos e decidiu que a incorporação dos trabalhadores da Fafen ao quadro de funcionários da Petrobras é uma demanda inconstitucional, tendo em vista que eles não são concursados.
Os petroleiros presentes no ato desta sexta-feira preferiram não comentar as decisões do TST, por temor de maiores represálias judiciais.
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*Estagiário sob supervisão de Thiago Antunes