Segundo Sérgio Cabral, todos os ex-governadores que passaram pela Palácio da Guanabara nos últimos 32 anos receberam mesada - Severino Silva
Segundo Sérgio Cabral, todos os ex-governadores que passaram pela Palácio da Guanabara nos últimos 32 anos receberam mesadaSeverino Silva
Por ESTADÃO CONTEÚDO
Rio - Em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, o ex-governador do Estado Sérgio Cabral confirmou que firmou acordo de delação com a Polícia Federal. O acordo, segundo o advogado Marcio Lambert, já foi homologado junto ao Supremo Tribunal Federal (STF).

A colaboração premiada de Cabral com a PF foi firmada em dezembro passado. O conteúdo está sob sigilo.

Ao confirmar que fechou acordo de delação, Sérgio Cabral foi alertado pelo juiz Marcelo Bretas que qualquer declaração do ex-governador na audiência desta segunda-feira, 10, poderia ter reflexos futuros no próprio acordo. Cabral se disse ciente, mas não se furtou a responder qualquer pergunta - a não ser quando foi inquirido pela defesa de Adriana Ancelmo sobre pontos envolvendo a delação.

Condenado a mais de 280 anos de prisão, Sérgio Cabral depôs pela primeira vez diante de Bretas na condição de testemunha, em caso envolvendo lavagem de dinheiro com o escritório de advocacia da mulher, Adriana Ancelmo. O ineditismo do depoimento gerou até uma cena pitoresca no início da audiência desta tarde: Cabral se sentaria na cadeira destinada ao réu, quando foi alertado de forma bem-humorada por Bretas. "O senhor hoje foi promovido (a testemunha). Pode se sentar do outro lado", disse o juiz.

Depoimento

A audiência desta segunda-feira diz respeito a processo que aponta o uso do restaurante Manekineko em esquema de lavagem de dinheiro durante o governo de Sérgio Cabral. A denúncia aponta que o escritório de Adriana Ancelmo usou o restaurante para "esquentar" dinheiro oriundo de propina.

Italo Garritano Barros, dono do Manekineko, confirmou ao juiz Marcelo Bretas que seu restaurante pagava mensalmente valores ao escritório de Adriana Ancelmo. De acordo com Barros, os repasses eram geralmente pagos por boleto e o dinheiro tinha origem lícita - provinha da conta do restaurante e era declarado normalmente para fins contábeis. O motivo dos pagamentos, segundo admitiu o empresário, era pagar uma "folha salarial B" (por fora) de parte dos vencimentos de seus funcionários, fugindo assim de encargos trabalhistas.

Segundo acordo de delação firmado por Italo Barros com o Ministério Público Federal (MPF), o esquema teria sido sugerido por Thiago Aragão Gonçalves Pereira e Silva, ex-sócio do escritório de Adriana Ancelmo e que é casado com a irmã da mulher de Italo. O MPF acredita que o escritório utilizava os pagamentos numa manobra para lavar dinheiro recebido como propina de fornecedores do governo Cabral. Italo Barros admitiu em juízo a fraude trabalhista - ele está pagando multa milionária -, mas alega que foi enganado por Thiago e nega qualquer envolvimento com o esquema de lavagem.

Em sua fala, Cabral confirmou pontos levantados pelo empresário. Ele afirmou que Italo não sabia que os pagamentos que fazia ao escritório eram usados para lavar dinheiro.