Homem planta,colhe e cria animais como em um sítio em terreno que já abrigou quartel dos Bombeiros na Praça da Bandeira. Na foto, Romero Tomás de Aquino.Estefan Radovicz / Agencia O Dia
Por O Dia
Publicado 01/03/2020 00:00

Dois anos se passaram desde que Romero Tomás de Aquino, 41 anos, não mais teve condições de pagar os R$ 600 de aluguel em Santa Cruz, na Zona Oeste. Foi despejado. Antes, já havia acontecido o mesmo, em Campo Grande. Empregado no setor de serviços gerais, ganhando salário mínimo, mandou a família de volta à terra natal, Campos dos Goytacazes, e ficou esperando a Justiça resolver seu problema trabalhista com outra empresa, que servia a Prefeitura do Rio.

Sem salário, sem o décimo terceiro, conseguiu um advogado. Enquanto isso, sem casa para morar, ele resolveu entrar em terreno que viu na Praça da Bandeira, ao lado do Rio Joana, sob o viaduto do Metrô. O atual sítio já fez parte do quartel dos Bombeiros.

De dia, cuida da plantação de milho, feijão, maxixe, quiabo, melancia e dos animais. Entre eles, um galo, o Chico, e um pato, o Donald. À noite, sai com dois dos cães para garimpar latinhas de cerveja e refrigerante, ferro velho, papelão e o que mais achar para vender e garantir sua sobrevivência e a dos animais.

"Trabalhava na roça com minha família, cortando cana para as usinas. Até que resolvi tentar a sorte no Rio. Sou montador de ferragens em construção civil. Quando a situação das empreiteiras ficou ruim, virei servente em empresas de serviços gerais. Desempregado, tratei de catar produtos para reciclagem. Vi esse terrenão, consegui montar um pequeno 'buraquinho' e fui plantando. Tem dois anos que como o que eu planto. Já abriguei alguns companheiros de infortúnio", contou, enquanto saía com o galo Chico, de bicicleta, para comprar ração. E foi contando a vida.

"Aqui dá muito ladrão. Mantenho o portão fechado com cadeado e os cães me ajudam enquanto estou fora. A última cadela que apareceu foi a Piti, abandonada por uma mulher que a deixou aqui, com coleira e corrente, e saiu correndo. Tem uns oito meses de vida".

Romero, em meio ao entulho do terreno e das plantações, conseguiu restos de tintas jogados no lixo. Foi pintando os muros pichados no local, "para dar uma melhorada no visual". O agricultor do concreto não tem celular e nem relógio.

"O Chico me acorda cedo, tem o relógio digital da praça e eu cozinho a lenha. Cavei um lago para o Donald e ainda tenho ovos frescos. Já fui feliz e também já dormi na rua. Agora, pelo menos, tenho um local seco para dormir".

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