Vânia trabalha como promoter na Europa - divulgação
Vânia trabalha como promoter na Europadivulgação
Por RAI AQUINO
Rio - Quando chegou ao Brasil para curtir 10 dias de férias, a promoter Vânia Lucia Moraes, de 49 anos, não esperava que viveria momentos de muita apreensão e medo durante o período. Ela passou cinco dias internada e isolada na UPA do bairro Botafogo, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. O isolamento aconteceu porque ela se tornou um dos casos suspeitos de infecção pelo novo coronavírus (Covid-19) no estado.
Ex-passista da Beija-flor e do Salgueiro por mais de 20 anos, além de ter sido porta-bandeira da escola de samba Leão de Nova Iguaçu, Vânia veio ao Brasil para curtir o Carnaval, do qual viveu durante boa parte de sua vida. Mas uma conexão aérea de três horas na Itália mudou todo seu planejamento.
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"Eu sai da Inglaterra no dia 19, passei por Milão e Roma até pousar no Galeão no dia 20. Não fazia ideia de que a Itália estava com alerta de coronavírus. Só fui me dar conta disso depois de muitos dias no Brasil", conta a promoter. "Dentro do avião tinha até gente resfriada. Uma pessoa passou a noite toda tossindo".
Vânia foi internada na Quarta-feira de Cinzas com sintomas da doença. A suspeita se agravou quando ela falou aos médicos de sua passagem pela Itália. O país europeu se tornou um dos epicentros da doença no mundo, tendo até agora mais de 70 mortes pela doença e mais de 2,5 mil casos confirmados.
A ex-passista é muito conhecida no mundo do samba - Arquivo Pessoal
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PASSAGEM PELO HOSPITAL DA POSSE
A internação só aconteceu depois que a ex-passista curtiu praticamente todo o Carnaval com sintomas da doença. Nos cinco dias de folia, ela visitou a Cidade do Samba algumas vezes, esteve no Sambódromo da Marquês de Sapucaí para os dois dias dos desfiles do Grupo Especial, além de curtir bloco de rua na Lapa, onde chegou a ficar hospedada na casa de um amigo.
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"Eu fui para Nova Iguaçu visitar minha mãe. Quando fui beijá-la, ela percebeu que eu estava com o corpo muito quente", lembra. "Mas apenas quando fui ver TV depois fiquei sabendo do surto da doença na Itália e comecei a me preocupar".
Por isso, a promoter procurou o Hospital Geral de Nova Iguaçu (Posse) para receber atendimento. Lá, ela disse que detalhou os sintomas e avisou sobre a passagem pela Itália. No entanto, apenas foi recomendada a procurar a Unidade de Pronto Atendimento.
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"Não acreditei e fui para casa. De lá, liguei para o hospital e uma telefonista que me atendeu ficou em choque. Até que fui na UPA", conta.
Vânia ficou cinco dias internada na UPA do bairro Botafogo - Reprodução / Internet
INTERNAÇÃO NA UPA
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Na unidade de saúde estadual, Vânia conta que imediatamente recebeu o procedimento para um caso de suspeita de coronavírus.
"O médico viu que eu passei pela Itália e começou aquele monte de perguntas. Distribuíram máscaras para todo mundo, os funcionários, os pacientes que estavam lá. Fizeram o procedimento imediatamente", informa.
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A promoter foi internada logo depois do atendimento, ficando em uma área de isolamento. Ela não podia ter contato com pessoas de fora e tinha que bater na porta para chamar a enfermaria quando precisasse de algo.
"Eu não podia botar a cara no corredor, tinha que bater na porta", relembra. "Mas tive bons momentos. O pessoal escrevia na minha comida 'Vânia, tenha força. Vai dar tudo certo. A gente tá torcendo por você'. Isso eu não vou esquecer nunca", emociona-se.
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A rotina da ex-passista na UPA durante os cinco dias se resumiu a vários exames e tomar medicação. Um suplemento de vitaminas foi adicionado à sua dieta, já que estava em falta. 
"No início da internação eu fiquei perdida, principalmente pela mudança no fuso-horário. Sempre pensava em sair dali e os médicos me avisando que precisava ter o resultado da contraprova. Foi uma eternidade", diz
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Mas a contraprova saiu! Cinco dias depois, já no último dia do Carnaval do Rio, no domingo passado. O pai da promoter foi chamado pelo médico para dar com ele a excelente notícia de que o caso dela havia sido descartado.
"A primeira coisa que eu fiz foi abraçar meu pai. Falei 'acabou' e tirei o papel que estava na porta com o meu nome e o dia que eu dei entrada na UPA para guardar comigo", relembra.
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Vânia foi levada para a casa da mãe e diz que "parecia que estava em outro planeta" depois de passar cinco dias "isolada do mundo". Ela ainda ficou receosas pelas pessoas da região ficarem olhando para ela.
A promoter mora na Europa há mais de 15 anos - Arquivo Pessoal
VIAGEM AMANHÃ
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A promoter conseguiu remarcar a passagem que estava comprada para o embarque de volta à Inglaterra no último domingo. A volta foi reagendada para esta quinta-feira, novamente com conexão pela Itália, mesmo a contragosto.
"Eu amo muito a Itália, mas minha família ficou pedindo para não voltar por lá. Para voltar por outro lugar. Mas não consegui", avisa, fazendo questão de agradecer pelo atendimento que recebeu na UPA. "Queria imensamente agradecer ao coordenador de Vigilância Epidemiológica de Nova Iguaçu, Iranildo Francisco de Souza; o secretário e o subsecretário de Saúde, o Dr. Manuel e o Dr. Bruno; as médicas Fernanda e Nahur da UPA de Botafogo; além de toda a equipe de enfermagem de lá".
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Além de poder retornar ao país onde mora, Vânia se diz aliviada de poder avisar aos amigos que está bem. O celular dela, com chip da Inglaterra, foi bloqueado há alguns dias, já que passou o período que ela tinha planejado para a viagem.
E será que a ex-passista pensa em voltar ao Brasil depois dessa saga?
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"Claro! Um dia. Quem não quer voltar? Espero que o país melhore e volto sim", promete.
Apesar do relato da promoter, a Prefeitura de Nova Iguaçu disse que ela não informou "que havia viajado para o exterior" quando foi atendida no Hospital da Posse.
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"Após ser avaliada e classificada na categoria verde, de baixa complexidade conforme o protocolo do Ministério da Saúde, ela foi encaminhada à Unidade de Pronto Atendimento (Upa) do bairro Botafogo. Somente quando foi atendida na UPA, a paciente informou que esteve na Europa, com uma conexão em Milão, na Itália", a prefeitura alegou, em nota.